IEDI na Imprensa - Longa travessia
O Globo - 27/10/2016
Alvaro Gribel
A perda de empregos formais em setembro veio pior do que o esperado, e os dados do crédito mostram que os financiamentos continuam fracos. A economia está sufocada por vários lados. As famílias têm dívidas e enfrentam juros altos, e por isso consomem menos. As empresas têm alta ociosidade e não investem. Já o governo segura os gastos porque está no vermelho, e as exportações sentem a valorização do real.
Apesar do aumento da confiança em vários indicadores — ontem mesmo a FGV divulgou novo crescimento no ânimo dos consumidores e dos empresários da construção civil — a economia real parece viver um novo período de queda. A esperança de um PIB azul no último trimestre ficou menor porque a reação da atividade está decepcionando.
— Existe uma mudança de humor clara. Os executivos com quem converso, todos estão mais confiantes. Mas isso ainda não está se refletindo nos indicadores. Há alguns meses, achava que o quarto trimestre poderia ser de alta. Agora, acho que fica para o ano que vem — disse o economista José Cláudio Securato, presidente da Saint Paul Escola de Negócios.
Neste momento de turbulência, o principal, dizem os economistas, é manter o foco à frente. Com a aprovação das medidas do ajuste fiscal, o país poderá ter, em um ano, juros mais baixos, inflação na meta e o PIB, finalmente, em crescimento.
— A aprovação do teto de gastos é um passo importante, e o governo precisa seguir com a agenda de reformas para equilibrar as contas públicas. Com o fiscal em ordem, e a Selic caindo, as condições da economia mudam bastante no ano que vem — disse o economista Márcio Garcia, da PUC-Rio.
Ao analisar a Nota de Crédito divulgada ontem pelo Banco Central, o economista Nicolas Tingas, da Acrefi, apontou que a torneira dos financiamentos continua fechada. Os bancos estão cautelosos com o aumento da inadimplência das pessoas jurídicas, e as famílias continuam endividadas. Um dado que chamou atenção foi o aumento das linhas do rotativo do cartão de crédito. Sinal de aperto no orçamento doméstico.
(*A colunista está de férias.)
Melhora distante
A retração do mercado de trabalho formal é a mais duradoura e intensa da série desde 1995, conta Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. Ela acha pouco provável uma reação no ano que vem. A melhora deve vir apenas em 2018. A análise da atividade econômica e da população ocupada mostra que a produtividade do empregado é baixa, diz Zeina. Mesmo quando a economia pegar tração, as contratações não devem voltar imediatamente.
Trava no crédito
O gráfico mostra como subiu a inadimplência das pessoas jurídicas. De dezembro de 2014 a setembro de 2016, a taxa saltou de 3,4% para 5,5% nas linhas de recursos livres. O crédito total da economia, como proporção do PIB, recuou de 54,5% em dezembro, para 50,8%, no mês passado. “Com crédito em retração, dificilmente uma economia deixa de entrar em recessão,” disse o Iedi.
RESSACA. O Rio teve o pior saldo no Caged. No mês seguinte às Olimpíadas, o mercado de trabalho no estado perdeu 23.521 vagas com carteira assinada.
IBGE. A taxa de desemprego que considera também a ocupação informal deve se manter em 11,8% no trimestre até setembro, projeta o Bradesco.
QUEM PERDE? O reajuste do funcionalismo aprovado na Câmara significa que o Orçamento terá que cortar em outras áreas, para compensar essa alta.