IEDI na Imprensa - Déficit comercial da indústria cai 88% no semestre
Déficit comercial da indústria cai 88% no semestre
Valor Econômico - 29/07/2016
Arícia Martins
A indústria de transformação respondeu, sozinha, por 97% da alta de US$ 21,4 bilhões no superávit da balança comercial entre o primeiro semestre de 2015 e igual período deste ano, segundo levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) divulgado com exclusividade ao Valor. O ponto é que o déficit comercial do setor manufatureiro recuou 88% em igual comparação, de US$ 23,5 bilhões na primeira metade do ano passado para US$ 2,8 bilhões de janeiro a junho de 2016.
Esse número foi resultado de exportações de US$ 57,1 bilhões e US$ 59,8 bilhões em importações. No acumulado do ano, as vendas externas do setor de transformação ainda estão em queda, de 1,2% em relação ao ano passado, enquanto as compras do exterior diminuíram 26,4%, recuo com peso maior no ajuste da balança. A boa notícia, porém, é que a retração do valor exportado pela indústria manufatureira tem ficado cada vez menor: foi de 7,3% e 7,9% nos primeiros semestres de 2014 e 2015, respectivamente e, agora, a perda foi praticamente zerada, ressalta Rafael Cagnin, economista do Iedi.
Na visão do instituto, a recessão e o consequente tombo nas compras externas ainda contribuem de forma importante para a recuperação do saldo comercial da indústria. Ao contrário de 2015, no entanto, já é possível observar o impacto da taxa de câmbio em nível mais competitivo e do processo de substituição de importações na balança de diversos setores.
Com continuidade da trajetória negativa das importações e melhora das exportações, a balança do setor de transformação deve registrar pequeno superávit em 2016, avalia Cagnin. O saldo comercial desse ramo da indústria é deficitário desde 2008, em bases anuais. "É uma ruptura do que vemos historicamente. Nos últimos anos, o gerador de saldo comercial eram setores mais básicos, enquanto a indústria contribuiu do lado negativo", afirma ele.
Oito dos 20 setores industriais pesquisados pelo Iedi aumentaram suas vendas ao exterior na primeira metade do ano. Em termos percentuais, as maiores elevações ocorreram nas indústrias de equipamentos para ferrovia e material de transporte (75,8%), material de escritório e informática (23,8%) e aeronáutica e aeroespacial (16,3%).
Cagnin destaca a reversão ocorrida no setor automobilístico, que, com alta de 3,7% nos embarques e redução de 35% nos desembarques, obteve superávit de US$ 349 milhões até junho. A balança do segmento de veículos automotores, reboques e semi-reboques não era superavitária desde 2009. Neste ano, o câmbio e a maior facilidade de exportação para mercados já existentes - grande parte das vendas ao mercado externo é destinada à Argentina e ao México - estão dando alento à indústria automotiva, num contexto de forte retração das vendas domésticas, diz.
Para o Iedi, a taxa de câmbio mais depreciada também estimulou a substituição de produtos estrangeiros por nacionais no mercado doméstico, movimento que fica claro na balança comercial dos segmentos de confecções e calçados. Agrupadas pela entidade em uma só categoria (têxteis, couro e calçados), as importações desse setor encolheram 41,5% na primeira metade do ano, na comparação com o mesmo período de 2015.
"É difícil separar o que é efeito do processo de substituição de importações e o que é efeito da recessão, mas claramente a queda brutal das importações também é resultado da substituição", aponta Cagnin. No primeiro semestre de 2016, a balança agregada das indústrias de têxteis, couro e calçados registrou saldo positivo de US$ 24 milhões.
A valorização recente do real, no entanto - que em junho teve apreciação nominal de 20% em relação ao patamar de janeiro - põe em risco a melhora recente da dinâmica das exportações, assim como o processo de substituição de importações, avalia o economista do Iedi. "O novo patamar do câmbio, mais próximo de R$ 3,30, ameaça a recuperação também devido à volatilidade, que atrapalha o cálculo econômico do exportador e do importador", afirma Cagnin.
A indústria de transformação brasileira também tem conseguido aumentar a fatia de sua produção que é exportada, ainda aproveitando o efeito da desvalolorização do câmbio em 2015. Ao mesmo tempo, a fatia das importações na demanda interna caiu. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o coeficiente de exportação da indústria nacional a preços constantes saiu de 12% em 2014 para 14,2% em 2015 e chega a 15,8% nos 12 meses encerrados em maio.