IEDI na Imprensa - Crise Abala a Indústria
Crise Abala a Indústria
Indústria em Revista - Abril a Junho 2016 | Ano III Nº10 - 02/05/2016
Rafel Cagnin
Em cada país, os setores econômicos assumem importâncias distitas na produção e no emprego, mas as experiências históricas de que temos notícia indicam que o desenvolvimento daqueles de maior porte de mercado ocorreu simultaneamente à expansão e complexificação da indústria. Isso porque o setor industrial é capaz de estabelecer um sistema interligado de geração de valor e de progresso técnico abarcando outros setores econômicos e estimulando transformações do modo de vida das pessoas.
A indústria tem, assim, grande poder indutor de demanda para si mesma e para outros setores da economia. Quase metade dos insumos utilizados pela indústria brasileira, por exemplo, provém da agricultura ou do setor de serviços. Por isso quando a indústria cresce, ela tende a dizimar a economia como um todo. Mais importante ainda são os novos métodos e meios de produção concebidos pelo setor industrial, que são fundamentais para o avanço tecnológico e o aumento da produtividade de todos os segmentos.
A despeito disso tudo, ao longo das últimas décadas o país tem assistido, sem a devida preocupação, à perda de participação da índustria no PIB nacional, consequ|ência de uma abertura comercial abrupta, longos períodos de câmbio sobrevalorizado e elevadas taxas de juros, de um sistema trubutário cada vez mais complexo e oneroso e de gargalos de infraestrutura que, entre outros fatores, minaram a competitividade da produção nacional.
Em 2015, a crise industrial se agravou e se alastrou para os demais setores e para o mercado de trabalho. A produção da indústria de transformação teve perda recorde de 9,9%, superando inclusive o baque da crise global em 2009 (-7%). O comércio varejista encolheu 4,3% e o setor de serviços, 3,6%. O desemprego saltou de 4,3% para 6,9% entre os meses de dezembro de 2014 e de 2015.
Na origem, esse desempenho reuniu diversos fatores bastante negativos: a deterioração das expectativas dos empresários e dos consumidores, um ajuste fiscal a penalizar o investimento público, a tempestiva correção de tarifas públicas, alimentando a inflação e corroendo o poder de compra da população, a subida das taxas de juros e o arrocho do crédito. Além da paralisia dos investimentos da Petrobras e da construção pesada, cujas empresas se viram envoltas em denúncias de corrupção.
Infelizmente, muitos desses fatores perduram neste início de ano, fazendo com que as expectativas para 2016 não sejam das melhores. A taxa de câmbio mais favorável deve ajudar, é verdade, mas não conseguirá, sozinha, reverter o quadro geral da indústria.