IEDI na Imprensa - 14/01/2016 – Custo Relativo do Investimento no País Voltou a Subir, Após Dois Anos de Queda
Custo Relativo do Investimento no País Voltou a Subir, Após Dois Anos de Queda
Valor Econômico - 14/01/2016
Arícia Martins
O custo do investimento interrompeu em 2014 uma trajetória que durava dois anos e subiu proporcionalmente mais em relação a outras aberturas do Produto Interno Bruto (PIB). A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas, construção civil e pesquisa) ficou 7,9% mais cara, enquanto o conjunto de riquezas produzidas no país sofreu inflação de 6,9%. Essas variações, chamadas de "deflatores implícitos", são dadas pela razão entre o crescimento nominal e real do PIB e de seus componentes. Os cálculos são da LCA Consultores.
Com exceção de 2012 - em que o deflator da FBCF subiu 9,7% e o do PIB, 7,8% - o preço relativo dos investimentos vinha aumentando menos do que o conjunto de preços da economia desde 2010. O custo relativamente menor desse componente no período foi explicado principalmente pelo câmbio valorizado, que, ao lado do aumento da ociosidade na indústria global após a crise de 2008, barateou as importações de maquinário.
Em 2013, mesmo sem ajuda do câmbio, esse movimento benéfico para o preço do investimento continuou, apoiado em medidas que diminuíram a tributação sobre bens de capital e alíquotas de importação desses itens. O ano de 2014, porém, contou com uma desvalorização cambial que, embora não chegue perto da depreciação de quase 50% do real em relação ao dólar observada no ano passado - foi suficiente para encarecer os bens de capital importados.
Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, observa que, entre 2004 e 2011, período marcado pelo enfraquecimento da divisa americana ante o real, o custo do investimento cresceu, em média, 7,1% ao ano, abaixo da inflação total do PIB, que foi de 7,7%. De 2012 a 2014, a alta anual média do deflator implícito da formação de capital fixo subiu para 7,8% e, provavelmente, deve ter encerrado 2015 em 9%, segundo as projeções do economista, um ponto acima da alta prevista para o deflator do PIB.
"Isso tem muito a ver com o câmbio", diz Borges. "Cerca de 40% do maquinário consumido no Brasil é importado. Por mais que os preços de bens de capital em dólares estejam caindo no mundo todo há bastante tempo, a depreciação do câmbio foi maior que essa queda", afirma. Todos os outros fatores que afetam esse preço estão agindo no sentido contrário, com destaque para o excesso de capacidade ociosa do setor, seja na economia global ou doméstica.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as empresas associadas usaram apenas 66,4% da capacidade instalada em outubro do ano passado, 10,3 pontos abaixo do nível utilizado em igual mês de 2014. A falta de demanda não permitiu que os produtores locais elevassem os preços, mesmo com o encarecimento das máquinas importadas, diz Carlos Pastoriza, da Abimaq. "O mercado está tão fraco que não há espaço para isso."
O Índice de Preços ao Produtor (IPP), do IBGE, que mede a variação dos preços cobrados na "porta da fábrica" pela indústria de transformação, mostra que a alta no segmento de máquinas e equipamentos foi de 8,21% de janeiro a novembro, pouco abaixo do aumento médio dos preços industriais (9,8%). De acordo com Pastoriza, o avanço de preços foi inferior ao aumento de custos dos fabricantes do setor, que não tem como repassá-los integralmente diante da conjuntura atual, que desestimula investimentos.
Para David Kupfer, diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o setor de bens de capital foi um dos que mais se desindustrializaram no ciclo econômico recente, que afetou principalmente segmentos de maior intensidade tecnológica. Como, por conta da perda de competitividade dessa indústria, o coeficiente de importações no setor aumentou, é natural que o custo relativo do investimento avance devido à desvalorização cambial.
Do lado positivo, Kupfer pondera que o novo patamar da moeda americana dá algum poder de resposta à indústria nacional, que deve ser beneficiada por meio da substituição de importações. Dessa forma, diz, o repasse da alta do câmbio ao custo do investimento será suavizado, mas isso não vai ocorrer no curto prazo.
"A substituição vai exigir investimentos na fabricação de bens de capital que não estão ocorrendo", afirma. Assim, a tendência é que o custo relativo da formação bruta continue subindo acima do conjunto de preços da economia nos próximos anos.
Em análise recente, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) destaca que outro processo relevante, e que vinha ocorrendo desde 2010, foi interrompido em 2014: a maior atratividade do investimento em termos de custo na comparação com o consumo. Até 2013, o deflator implícito da formação bruta subia menos que o do consumo das famílias. Em 2014, porém, essa trajetória se inverteu, e o deflator da demanda privada avançou 7,3%, 0,4 ponto menos que o da FBCF.
No período anterior, diz Rafael Fagundes, economista do Iedi, a relação entre os dois deflatores sinalizava uma taxa de retorno maior dos investimentos. Isso porque, com um custo relativo menor do que de outros bens e serviços, seria mais vantajoso ao empreendedor doméstico imobilizar sua riqueza em máquinas e equipamentos, visando ampliar sua cesta de bens no futuro.
Em 2014, no entanto, essa relação que favorecia o investimento se perdeu, embora, na sua avaliação, não seja a principal explicação para a dinâmica negativa mais recente da FBCF. "Enquanto a confiança não for restabelecida, é difícil imaginar uma ampliação dos investimentos."
Num comparativo internacional, o desempenho do Brasil também é pouco animador. A partir de dados do Penn World Table - uma base de estatísticas mantida pela Universidade de Groningen, na Holanda, que inclui números das contas nacionais de 167 países - o IEDI calcula que o Brasil passou de uma das economias com menores custos de investimento para a sétima mais cara em duas décadas.
Tomando como parâmetro o preço do PIB dos EUA, igual a 1 para o ano de 2005, o índice brasileiro saltou de 0,28 em 1985 para 1,27 em 2011, abaixo apenas de países como Suíça, Noruega, Austrália, Suécia e Japão.