IEDI na Imprensa - Uma Visão Sobre o Atual Momento da Economia Brasileira
Publicado em: 17/12/2015
Uma Visão Sobre o Atual Momento da Economia Brasileira
FIES em notícias Ano XII - Número 73 - Setembro/Outubro de 2015
A forte crise no setor industrial obriga o país a criar novas estratégias e realizar ajustes para, enfim, ver os índices econômicos progredirem e o crescimento ser retomado
Por Luis Paulo Dias Miranda
O momento político é de total instabilidade. Casos de corrupção em empresas estatais, conturbado ambiente político e uma crise externa que perdura já por alguns anos. Esses são alguns dos “porquês” do arrefecimento dos setores produtivos brasileiros. De acordo com a pesquisa Sondagem Industrial da CNI, em setembro, a Utilização da Capacidade Instalada das indústrias foi de 77,7%, o menor desde o início da contagem deste índice em 2003. O nível de emprego também caiu, exatos 5,5% na comparação aos nove primeiros meses do ano passado.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda na produção industrial nacional já chegava aos 7,4% até setembro deste ano. Essa mesma pesquisa, mostrou que essa queda ocorreu em 10 das 14 regiões consultadas. São Paulo, maior centro econômico e industrial do país já acumula uma perda de 12,8% e mantém há nove meses taxas negativas com relação à fabricação de bens industriais.
Para se ter uma Ideia do nivel da crise, as montadoras, um dos ramos mais prolíficos da indústria nos últimos anos, em 2015 somadas todas as empresas do setor, já ficaram paradas por 840 dias. E a projeção da Federação Nacional dos Distribuidores Automotores (Fenabrave) é que a venda continue em queda de 5% no próximo ano e os indices voltarão a estabilidade somente em 2017 ou 2018.
O único resultado que mostra uma luz no fim do túnel foi dado nos Indicadores Industriais, divulgados pela CNI no começo de novembro que demonstra uma alta no faturamento da indústria pelo segundo mês consecutivo. Uma pequena alta, de apenas 1,2% de agosto para setembro mas que ainda não impacta positivamente no indice negativo de 6,8% em 2015. E também muito desse pequeno pequeno avanço se deu com a venda dos estoques das indústrias que estavam acumulados pelas severas quedas nas vendas no corrente ano.
Em Sergipe o cenário não é diferente. De acordo estudos da FIES, no terceiro trimestre desse ano o setor industrial recuou 4,5% comparado ao trimestre anterior, sendo a sexta queda consecutiva do nosso estado. E assim acontece em grande parte do país. Para mostrar um panorama deste atual cenário e apresentar alguns caminhos para sair da crise, a FIES em Notícias entrevistou o presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), Pedro Wongtschowski.
FlES EM NOTÍCIAS:
O atual cenário econômico atravessado pelo país não é dos melhores e as perspectivas, sejam no mercado ou mesmo nas empresas, é de que há uma tendência de um agravamento do quadro atual. Nesse sentido, qual o grau de preocupação do IEDI sobre a economia e a indústria brasileira ao longo da próxima década?
PEDRO WONGTSCHOWSKl:
O Brasil tem condições de superar os atuais impasses econômicos e políticos e voltar a crescer. Seu setor industrial tem também condições de recuperar sua competitividade e, como em outras etapas do nosso desenvolvimento, se constituir em um motor para o crescimento.
Não é isso o que temos assistido nos últimos anos e especialmente em 2015 e possivelmente em 2016, quando a retração da indústria carrega para baixo outros setores e influencia negativamente o resultado econômico global do país. Para se ter ideia, a produção da indústria brasileira nos três primeiros trimestres deste ano retrocedeu 7,4% e as projeções para o ano que vem são também de declínio. Para começarmos a mudar essa situação, a indústria precisa de um quadro macroeconômico favorável, este entendido como um contexto em que os juros são razoavelmente baixos, o câmbio não pune a exportação e os fatores gerais que influenciam a copetitividade - tributação, contas públicas, infraestrutura e desenvolvimento do mercado de credito e de capitais – são adequados.
FlES EM NOTÍCIAS:
O atual impasse político pode agravar a situação da economia e do setor industrial?
PEDRO WONGTSCHOWSKl:
Sem dúvida alguma o crescimento industrial depende muito da confiança dos agentes, particularmente das expectativas de empresários, o que influencia o investimento, e das expectativas dos consumidores, o que influencia o consumo em particular de bens duráveis. O impasse político se traduz em indefinições de rumos para a economia e em dificuldade para o governo em executar as suas políticas, levando a um maior pressimismo de investidores e consumidores.
FlES EM NOTÍCIAS:
Qual a sua visão sobre o ajuste fiscal proposto pelo Governo?
PEDRO WONGTSCHOWSKl:
O ajuste fiscal era indispensável dado o quadro, já delineado em 2014, de que o crescimento das despesas superava largamente a evolução das receitas públicas as quais já não cresciam como antes devido ao baixo dinamismo econômico.
O ajuste fiscal proposto pelo governo sofre os efeitos da fragmentação política que vem impedindo a aprovação de medidas avaliadas como necessárias pela equipe econômica. Esta é uma razão para que uma grande incerteza prevaleça sobre o déficit público de 2015 e também de 2016.
Será importante que um minimo entendimento político seja capaz de criar condições para estabilizar o quadro fiscal no ano que vem. Este é um dos requisitos para a melhora da confiança dos agentes econômicos na economia.
FlES EM NOTÍCIAS:
Qual a sua avaliação sobre a volta da CPMF?
PEDRO WONGTSCHOWSKl:
A CPMF é um imposto de má qualidade porque incide “em cascata”, prejudicando os setores de cadeias produtivas mais longas, caso, especialmente, dos setores industriais. Não é aconselhável o seu retorno e, idealmente, o governo deveria alcançar um maior equilíbrio fiscal através de redução das despesas que menos impacto possam ter sobre a atividade econômica, evitando assim o corte de investimentos.
FlES EM NOTÍCIAS:
O que precisaremos fazer no longo prazo na economia?
PEDRO WONGTSCHOWSKl:
Temos tarefas muito difíceis, porém indispensáveis para que empresários e famílias voltem a ter confiança e possamos crescer com maior qualidade.
Ter um horizonte fiscal de maior equilíbrio e controlar a inflação são muito importantes para que as taxas de juros sejam reduzidas. Isto, acrescido do incentivo cambial que os exportadores estão tendo presentemente, promoverão a melhora gradativa da economia.
Ações de maior profundidade contribuirão para o crescimento, assegurando-lhe maior intensidade e qualidade. São ações que visam simplificar a regulação econômica e reduzir despesas do setor público e custos das empresas. As reformas que devem ser iniciadas o mais rapidamente possível são as da previdência, definindo idade mínima, e a reforma tributária, para eliminar a cumulatividade de impostos e a guerra fiscal.
Na infraestrutura reunindo logística, energia e mobilidade urbana, reside uma fronteira de investimentos capaz também de contribuir para a saída da crise e, além disso, para reduzir custos e aumentar a eficiência de toda a atividade produtiva do país.
FlES EM NOTÍCIAS:
Há sugestões possíveis para destravar a competitividade da indústria em meio à adversidade fiscal do momento?
PEDRO WONGTSCHOWSKl:
Para ganhar mais competitividade a indústria precisa, na atualidade, de ações como as já indicadas anteriormente e muito menos de incentivos, subsídios e créditos favorecidos, os quais deveriam ser reservados para atividades de inovação tecnológica e de investimentos na infraestrutura.