IEDI na Imprensa - Juro do cartão de crédito é recorde
Publicado em: 28/10/2015
Juro do cartão de crédito é recorde
Agência Estado - 28/10/2015
Inadimplência bem comportada, taxa básica Selic parada em 14,25% ao ano desde julho, procura por crédito menor por causa da recessão econômica e do medo do desemprego e, mesmo assim, os bancos não param de subir os juros. No cheque especial, a taxa chegou a 263,7% ao ano e a do rotativo do cartão de crédito bateu 414,3%, levando a taxa média cobrada pelas instituições no mês passado para 62,3% ao ano.
“Quem permanecer com dívida no rotativo do cartão de crédito, depois de um ano, a verá quintuplicada”, calculou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel. Por isso, ele alerta que esse é um tipo de financiamento que deve ser usado apenas em casos de emergência e por períodos curtos. O rotativo é a sobra do valor mínimo que o usuário é obrigado a pagar da fatura. Desde julho do ano passado, quando estava em 308%, a taxa desse empréstimo subiu em todos os meses.
A taxa de setembro é a mais alta desde março de 2011, quando o BC passou a fazer a compilação desses dados. De tão elevado, esse juro é um dos principais responsáveis pelo recorde também registrado em setembro para a cobrança média para Pessoa Física. No caso do cheque especial, o dado é mais antigo e se trata do maior patamar em 20 anos.
Apesar da alta dos juros, a inadimplência dos empréstimos feitos com recursos livres nos bancos seguiu estável no mês passado, em 4,9%. O aumento em relação ao ano passado é pequena, já que estava em 4,3% em dezembro de 2014. O BC informou que houve poucas mudanças no endividamento das famílias, cujos dados são de julho. O total de dívidas em relação a renda em 12 meses ficou em 46% e em 27,1%, quando se excluem empréstimos imobiliários.
No mesmo mês, o comprometimento da renda com dívidas ficou em 22,2% e em 19,8% quando se retiram os financiamentos de casas, apartamentos e terrenos. Em setembro, as famílias brasileiras também preferiram não contratar dívidas novas, segundo Maciel. Em 12 meses, o acumulado passou de 4,6% para 4% de agosto para setembro, refletindo mudanças na economia doméstica.
Desde 2013, vem diminuindo a procura por empréstimos para automóveis. Além disso, houve redução do segmento do cartão de crédito à vista no mês. “Isso é um indicativo de fragilidade do consumo”, ressaltou o técnico. “É pouco comum nesta época do ano o crédito das famílias apresentar queda da expansão.” De forma geral, conforme o BC, a demanda por crédito tem mostrado arrefecimento. Outro ponto, segundo ele, é a própria cautela das famílias, que estão mais reticentes em se endividar. “O terceiro fator, claro, é o encarecimento do crédito com a alta das taxas de juros, acompanhando o ciclo (de política monetária)”, citou.
Em setembro, o total de empréstimos já em estoque com o sistema financeiro somou R$ 3,2 trilhões, o que representa 55% do Produto Interno Bruto (PIB) e um crescimento de 9,1% nos últimos 12 meses. A projeção do BC para este ano é de expansão de 9% ante avanço de 11,3% visto em 2014.
“No cenário em que não houve mudanças significativas da inadimplência e que os juros dos empréstimos continuam influenciados pelo aperto da política monetária, o grande fator a destacar na evolução do crédito bancário é a contração das concessões, que está em aceleração, segundo os dados de ponta”, avaliou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). As concessões de crédito bancário em setembro totalizaram R$ 305,3 bilhões, o que significa uma elevação de 4% na comparação com agosto.
Cerca de 28% usam modalidade como extensão da renda
Uma pesquisa realizada em todas as capitais pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com internautas que vivem fora do padrão de vida e encerram o mês com as contas no vermelho ou no ‘zero a zero’, revela que 28% dos entrevistados admitem usar o cheque especial e o cartão de crédito como extensão da própria renda. De acordo com a pesquisa, 62% dos entrevistados não conseguiram poupar e 38% deixaram de pagar alguma conta nos últimos seis meses.
Os especialistas do SPC Brasil alertam que o cheque especial é um instrumento de crédito bastante prático, mas que deve ser usado apenas em casos emergenciais e de curto prazo, como cobrir o pagamento de uma despesa imprevista e inadiável. “Ao incorporar ao orçamento pessoal um dinheiro que, na verdade, não possui, o consumidor está se submetendo a um risco considerável de endividamento crônico”, alerta o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
O estudo mostra que a falta de organização com os gastos é atitude frequente entre os entrevistados que vivem além do seu padrão de vida. Quatro em cada dez entrevistados (44%) não realizam um controle sistemático das despesas, seja porque ele é feito apenas ‘de cabeça’, ou seja, a partir de um método não confiável, ou porque simplesmente não anotam os gastos que assumem.
A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, avalia que não importa o meio de controle, pois o mais importante é que o consumidor tenha disciplina para organizar seu orçamento mensal. “Algumas pessoas têm facilidade com planilhas de computador ou aplicativos no celular, mas outras preferem simplesmente anotar no papel. O fundamental é sempre registrar tudo o que se ganha e se gasta e jamais confiar na memória porque ela falha”, orienta.
A pesquisa foi feita com 623 internautas das 27 capitais que admitiram viver fora do padrão de vida. A definição desse conceito considera dois critérios: ter fechado as contas do mês no zero a zero nos últimos seis meses, sem sobra de dinheiro, ou não ter conseguido fechar as contas do mês, ficando no vermelho. Para aqueles que ficaram no vermelho, foram desconsiderados a perda de emprego, problemas de saúde e falecimento na família.
A margem de erro é de no máximo 4,0 pontos percentuais com uma margem de confiança de 95%. Isso significa que em 100 levantamentos com a mesma metodologia, os resultados estarão dentro da margem de erro em 95 ocasiões.