IEDI na Imprensa - Investimento pode fechar ano com queda de 15%, a maior desde 96
Investimento pode fechar ano com queda de 15%, a maior desde 96
Valor Econômico - 05/10/2015
Tainara Machado
A produção de bens de capital desabou nos oito primeiros meses do ano e economistas calculam que os investimentos na economia brasileira podem encerrar 2015 com queda de 15%, pior resultado da série história das Contas Nacionais calculadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com início em 1996.
Diante das incertezas domésticas e da confiança em nível muito baixo, a produção de bens de capital encolhe em ritmo acelerado. Em agosto, a queda foi de 7,6%, recuo mais forte do que em julho (-2,1%), sempre na comparação com o mês anterior, feitos os ajustes sazonais. Com retração em sete dos oito meses do ano, a fabricação desses itens já acumula baixa de 22,4%, na comparação com o período entre janeiro e agosto de 2014. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE.
Economistas ouvidos pelo Valor não descartam que esse cenário possa se agravar nos próximos meses. Em setembro, as importações de máquinas e equipamentos caíram 27,4% em relação ao mesmo mês do ano passado. No ano, a queda é de 17,1%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Analisados em conjunto com os indicadores de confiança, esses números mostram que não há sinais de estabilização da crise no curto prazo, dizem economistas, o que deve levar a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das Contas Nacionais do que se investe em construção civil, máquinas, equipamentos e pequisa) a cair cerca de 15% em 2015 e 7% no ano que vem.
Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os investimentos não só estão caindo a taxas crescentes e muito expressivas, como a retração acontece de maneira generalizada entre os setores.
A produção de bens de capital para a agricultura, por exemplo, encolheu 29,3% em julho e agosto, em relação ao mesmos meses de 2014. Também tiveram baixas expressivas nesse período a fabricação de máquinas e equipamentos destinadas a transportes (-35,5%), construção (-56,9%) e energia (-19,9%).
Fernando Rocha, economista-chefe da JGP Gestão de Recursos, ressalta que a produção física de bens de capital está hoje no mesmo nível de 2004, o que é alarmante. "E é diferente de momentos como 2009, em que houve queda forte, mas a recuperação foi rápida. Dessa vez, cada dado mostra continuidade da crise e não dá para saber onde está o fundo".
Com esse grau de imprevisibilidade sobre o futuro, afirma, não é surpreendente que os investimentos estejam paralisados. Rocha projeta queda de 13,6% desse componente do Produto Interno Bruto (PIB) no ano.
Para Felipe Beraldi, economista da Tendências Consultoria, a produção de bens de capital deve explicar boa parte da queda da formação de capital fixo em 2015. O economista espera que o setor de máquinas e equipamentos encolha 25% no ano - o que embute piora adicional nos próximos meses -, enquanto o investimento no PIB deve cair 14,6%. "O desempenho da construção civil será um pouco menos negativo do que a média, apesar da crise no setor", explica.
Para ele, o investimento está em queda livre por causa da confiança em baixa, do grau elevado de incerteza no ambiente político e econômico e das restrições de financiamento, com redução dos desembolsos pelo BNDES, por exemplo.
Há ainda a redução dos investimentos das empresas estatais, com os desdobramentos da Operação Lava-Jato, comenta José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
Segundo reportagem publicada pelo Valor na sexta-feira, o investimento da Petrobras deve ser a metade do inicialmente previsto no ano. Gonçalves estima queda de 15% da formação de capital fixo em 2015, mas diz que dados como produção e importação de bens de capital, que dão uma medida da demanda doméstica por esses equipamentos, sugerem um número até pior.
O ponto central, diz, é a ausência de perspectiva de retomada. A aposta do governo nos projetos de infraestrutura, avalia, não tende a ser bem sucedida. "Está caindo a ficha de que os investimentos em infraestrutura foram projetados para um nível de renda e demanda que não existe mais e que não vai existir durante muitos anos. Então os investidores só vão ter ímpeto para entrar nos projetos de baixo risco, que são poucos". Na ausência de elementos que possam melhorar expectativas de forma rápida no curto prazo, o economista projeta queda de 7% da formação de capital fixo também em 2016.
Outro ponto que deve dificultar a recuperação dos investimentos já no ano que vem, diz Beraldi, da Tendências, é a elevada capacidade ociosa da indústria. Por isso, o economista projeta queda de cerca de 7% da formação bruta em 2016.
Rocha, da JGP, também estima novo tombo do investimento, de cerca de 6%, no ano que vem. Ele alerta que essa projeção embute certa recuperação a partir da segunda metade do ano, cenário que está sujeito a revisões. Para melhorar a confiança, diz, não há outra saída a não ser consertar o nó fiscal, o que garantiria maior previsibilidade aos investidores. A resposta, avalia Rocha, precisa ser estrutural, e não apenas temporária, com aumento de impostos. A reforma da Previdência, diz, é essencial.