IEDI na Imprensa - Crise de liderança
Crise de liderança
Folha de São Paulo - 17/07/2015
Sem solução do imbróglio político em que o país se meteu, a economia não voltará a crescer
Pedro Luiz Passos
Com a recessão e o desemprego em alta, é natural que empresários e trabalhadores estejam ansiosos pela volta do crescimento, interrompido pelos sucessivos erros da política econômica dos últimos anos.
Esse dia chegará, é certo, mas, a meu ver, não virá em breve, o que significa que tempos muito difíceis nos aguardam. E ninguém pode antecipar se o crescimento, quando voltar, vai se apoiar em bases que nos aproximem dos melhores padrões predominantes em âmbito global.
No mundo empresarial, é justamente nas crises que mais devemos nos aplicar pela qualidade da produção. Isso também vale para a economia. Temos sido tolerantes com práticas erradas e políticas de pouca ou nenhuma eficácia, a exemplo do que acontece em campos fundamentais para o desenvolvimento econômico-social, como o educacional, o comércio exterior e a área fiscal.
Enquanto perdurou o contexto externo favorável às commodities e o mercado interno assegurou dinamismo ao emprego e à renda da população, sobretudo a de menor poder aquisitivo, as repercussões negativas de tais práticas não vieram à tona, o que já não se verifica.
Para não reproduzir mais uma vez o voluntarismo nas decisões de política econômica, é preciso definir o tipo de desenvolvimento que queremos e as mudanças estruturais para afiançar a trajetória de longo prazo.
São reformas importantes para melhorar de imediato as expectativas dos empresários e das famílias e, dessa forma, trazer de volta o crescimento econômico. E também para reconstruir a coesão parlamentar desfeita pelo acúmulo de fracassos, gerando um ambiente do tipo "onde falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão".
Nesse sentido, temas relativos a concorrência, competitividade, inovação, solidez fiscal e equacionamento da dívida pública assumem papel central e exigem compromissos com a qualidade da educação e da infraestrutura, além de incremento da capacidade inovadora e da produtividade das empresas.
A essa pauta de reformas deve-se incluir também medidas simplificadoras e modernizantes da estrutura tributária e da legislação trabalhista e prever a abertura responsável da economia, via aproximação com os países mais desenvolvidos e a necessária revisão tarifária.
A crise política é parte determinante da crise econômica. A solução desta pressupõe o endereçamento daquela. A situação atual é ruim pela ausência de liderança de governo capaz de guiar as decisões políticas que impactam a economia. A desarticulação tem sido a tônica da relação entre o executivo e a esfera político-parlamentar. O reordenamento político, portanto, é o primeiro passo para viabilizar o programa econômico que se faz imprescindível.
Alguns criticam a rapidez dos ajustes na economia e questionam se determinadas metas, como a fiscal, estão acima das possibilidades do país no momento. O debate é salutar, desde que não iniba nossa determinação em enfrentar os verdadeiros problemas e não nos iluda com soluções fáceis.
E mais: desde que processos já iniciados não sejam paralisados e não se caia novamente na armadilha de substituí-los por "pedaladas" e paliativos, que compuseram o rol das más políticas recentemente adotadas e que estão a cobrar um preço elevado à sociedade.
Uma vez reconhecidos os erros e aprendidas suas lições, creio que a política econômica a implementar se torna cada vez mais consensual. Mas o passaporte para um país com inflação controlada, competitivo, capaz de recuperar o ímpeto perdido do setor industrial e fomentar o setor externo, depende, fundamentalmente, da solução do imbróglio político em que se meteu.
PEDRO LUIZ PASSOS, 63, empresário, é presidente do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) e conselheiro da Natura. Escreve às sextas-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.