IEDI na Imprensa - Desempenho melhor, mas ainda pouco sustentável
Desempenho melhor, mas ainda pouco sustentável
Brasil Econômico - 03/07/2015
Produção industrial cresce no mês de maio, puxada por não duráveis e semiduráveis
Aline Salgado
Após três meses seguidos de queda, a produção industrial retomou o fôlego em maio ao crescer 0,6%, frente a abril. O resultado foi influenciado pelo aumento de 1,2% na produção de semiduráveis e não duráveis. A melhora do desempenho na margem é vista, no entanto, como pouco sustentável pelos analistas. Na comparação com maio do ano passado, a indústria recuou 8,8% — a 15º queda nesse tipo de comparação. Já no acumulado de janeiro a maio, a retração é de 6,9%, e nos últimos 12 meses, de 5,3%.
“Foi uma surpresa positiva, visto que todas as estimativas apontavam para uma forte retração. Apenas o Ibre contava com uma projeção mais otimista, de queda de 0,1%. Mas é difícil que esse desempenho seja sustentado”, afirma o consultor da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), Silvio Sales.
De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 14 dos 24 ramos pesquisados apresentaram aumento na produção na passagem de abril para maio. Os dois setores que mais influenciaram o resultado positivo foram outros equipamentos de transporte, com alta de 8,9%, e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, que expandiu 1,1%. Atividades que, no entanto, não traduzem o comportamento mais geral da indústria.
Segundo análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), o comportamento do primeiro ramo reflete, sobretudo, as vendas de aviões para o mercado externo, que contam com os efeitos positivos da desvalorização cambial. Já o segundo têm relação com as decisões de produção da Petrobras.
Fora esses dois setores, destacam-se o aumento na produção de itens de consumo não duráveis e semiduráveis, como os produtos farmoquímicos e farmacêuticos, com crescimento de 3,6%; a confecção de artigos do vestuário e acessórios, alta de 3,4%; bebidas, com expansão de 2,7%; e perfumaria, sabões e produtos de limpeza, com aumento de 1,9%—todos na passagem de abril para maio.
O cenário mais adverso do mercado de trabalho põe em dúvida, no entanto, se essas atividades conseguirão manter esse bom desempenho nos próximos meses. Em maio, a taxa de desemprego medida pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE nas seis principais regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre) subiu para 6,7%. Enquanto isso, o rendimento médio habitual do trabalho encolheu 1,9% em maio e 5% frente a maio do ano passado.
“Ao longo da série do IBGE, iniciada em 2002, não tínhamos observado, até agora, uma sequência de sete meses consecutivos de queda dos semiduráveis e não duráveis, na comparação mensal. Logo, acredito que esse aumento de 1,2% seja reflexo de um processo de acomodação, depois de longo período de decréscimo. Com estoques mais ajustados, talvez essas atividades tenham dado uma resposta mais positiva”, diz Sales.
Os indicadores da Confederação Nacional da Indústria (CNI), também divulgados ontem, reforçaram a trajetória de recessão vivida pela indústria. Com exceção do faturamento — com alta de 1,6% ante a abril —, todos os indicadores caíram em maio.
As horas trabalhadas na produção encolheram 0,5%, na comparação com abril, e o emprego recuou 0,9%. Houve também queda na massa salarial de 1,2% e o rendimento médio real do trabalhador da indústria retraiu 0,3%.
“Os indicadores antecedentes, como a confiança dos empresários, apontam para quedas em junho, que devem repercutir em uma baixa produção também em julho. Isso reforça a nossa análise de que a produção industrial continuará fraca e esse resultado de maio não deve constituir uma tendência”, afirma o economista Rodrigo Miyamoto, do Itaú.