IEDI na Imprensa - Redução no gasto das famílias faz produção industrial cair 1,2%
Redução no gasto das famílias faz produção industrial cair 1,2%
O Globo - 03/06/2015
Perdas chegam a alimentos e têxteis. Levy diz que quadro será revertido
Marcello Corrêa e Fernando Eichenberg
A queda no consumo das famílias, um dos destaques negativos do PIB do primeiro trimestre, passou a afetar com mais intensidade a indústria brasileira em abril. Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, o setor encolheu 1,2% naquele mês frente a março — a terceira queda seguida nesse tipo de comparação. No mesmo período, a produção dos chamados bens semi e não duráveis, como alimentos e vestuário, encolheu 2,2%, pior resultado desde julho de 2013, quando a queda foi de 3,7%. Para analistas, o resultado reflete a piora do mercado de trabalho, que começa a impactar não só a demanda por bens que dependem do crédito, mas as compras do dia a dia.
Não é a primeira vez que o segmento tem dados negativos, mas a perda se intensificou. No ano passado, quando a indústria fechou o ano com queda de 3,2%, a produção de bens semi e não duráveis encolheu só 0,2%. Já no acumulado do ano até abril, o segmento apresenta queda de 6,8%, contra recuo médio de 6,3%.
— O que chama atenção é essa maior magnitude de queda dos semi e não duráveis, mais atrelada em relação ao consumo interno e à renda disponível menor, além dos preços altos. Até o fim do ano passado, havia alguns grupamentos da categoria, como alimentos e setor farmacêutico, com resultado positivo — destaca André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal ( PIM) do IBGE.
Relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) também destaca a piora no desempenho do segmento. “Nos setores de bens de capital e de bens duráveis, a crise é notadamente drástica. É no setor de bens de consumo semi e não duráveis que a crise industrial adicionou, neste ano, um novo agravante. É neste setor que se observa diretamente a queda do consumo das famílias brasileiras”, aponta o documento.
Na comparação com abril do ano passado, os números também são negativos. Na média, a indústria recuou 7,6%, completando uma sequência de 14 quedas consecutivas nesse tipo de cálculo. No período, a produção de bens semi e não duráveis caiu 9,3%, mas está longe de ser a maior contribuição negativa: com queda de 24%, o segmento de bens de capital, importante indicador de investimentos, puxou o resultado para baixo.
Para economistas, o cenário ainda deve piorar.
— A gente não vê uma reversão para esse ano. No segundo trimestre, a gente espera uma contração maior, em parte por causa de uma produção industrial um pouco pior. A confiança tanto do consumidor como do empresário, vem caindo — destaca Natália Cutarelli, economista do banco ABC Brasil.
A LCA Consultores projeta queda de até 7% no segundo trimestre, frente a igual período do ano passado. Em comunicado, os analistas destacam que o setor deve ainda ser impactado pela queda nas vendas de automóveis e os altos estoques das montadoras. Em contrapartida, a desvalorização do real frente ao dólar pode favorecer segmentos exportadores, além de diminuir as importações, um movimento que já começou a aparecer no PIB do primeiro trimestre.
‘TUDO É RELATIVO’, DIZ MINISTRO
Mas, em Paris, a perspectiva era outra. Na capital francesa para a reunião ministerial da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OCDE), o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse que o Brasil tem condições de reverter o quadro.
— Eu acho que a gente vai virar a nossa produção industrial. Há alguma coisa puxada na parte de automóveis. Obviamente, nós tivemos alguns anos com muito apoio, uma produção que foi muito mantida pelo crédito público. Acho que é um período de acomodação — afirmou.
O ministro apontou a necessidade de maiores estudos no setor de autopeças, onde, alega, o Brasil deveria ter vantagens competitivas. Levy preferiu não comentar um possível aumento da tarifa de importação, para facilitar a cadeia de produção no setor automotivo:
— Tudo é relativo. Pode ser uma relação entre os diversos elos. Mas é uma questão que tem de ser estudada.