IEDI na Imprensa - Indústria tem pior trimestre desde 2009
Indústria tem pior trimestre desde 2009
O Estado de São Paulo - 07/05/2015
Queda de janeiro a março foi de 5,9%; recuo de março foi de 3,5% ante mesmo mês de 2014, selando a 13ª retração nessa comparação
Idiana Tomazelli
A produção industrial caiu 3,5% em março em relação a igual mês do ano passado, resultado que selou um recorde histórico. É a 13.ª queda consecutiva nessa comparação, uma sequência negativa inédita na série iniciada em janeiro de 2003, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro supera até mesmo o período da crise internacional, quando houve 12 recuos seguidos na atividade.
Nem os três dias úteis a mais no mês em 2015 (em função de o carnaval de 2014 ter sido celebrado em março) tiraram a atividade do vermelho. Com isso, a indústria brasileira fechou o primeiro trimestre com recuo de 5,9% em relação ao mesmo períodode2014.Éopiordesempenho desde o terceiro trimestre de 2009, no auge da crise financeira global, quando o tombo foi de 8,1%.
Na comparação com fevereiro, a produção diminuiu0,8%, o pior resultado para um mês de março desde 2006 na comparação com meses imediatamente anteriores. “Desde setembro de 2014, a trajetória é muito clara em termos de redução da produção da indústria. Todos os fatores permanecem, desde o baixo nível de confiança do empresário, do consumidor, até a evolução mais lenta da demanda doméstica, passando pelo cenário adverso do mercado internacional”, afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Neste início de ano, a mudança na política de desoneração da folha de pagamento também interferiu na confiança e, consequentemente, na atividade, avaliou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, Humberto Barbato. Com um nível de estoques acima do habitual e sem perspectivas de recuperação no curto prazo, ele prevê que as demissões no setor continuem. “A indústria, que já demitiu, vai continuar a demitir e isso afeta a confiança também do consumidor”, disse.
A produção industrial deve encerrar 2015 com a quarta retração anual seguida. Na projeção da economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, a perda deve ficar em 4,5% neste ano. “Acredito que isso (recuperação) só ocorrerá a partir de 2016, depois de adotada uma agenda de reformas, entre elas o avanço das concessões públicas em projetos de infraestrutura”, destacou.
Disseminada. A retração da indústria foi disseminada entre todas as categorias, com destaque para bens de capital e bens de consumo duráveis, ambos puxados pela atividade de veículos, que registrou a sexta queda seguida na comparação com o mês imediatamente anterior. No período, o setor acumulou perda de 19,4%. “O que observamos no último ano e no início de 2015 é que a indústria recua calcada neste setor de veículos automotores, não só devido aos automóveis, mas diversos itens dentro da atividade”, afirmou Macedo, do IBGE.
Dentro do setor, a desaceleração atinge desde automóveis e caminhões até o setor de autopeças. No acumulado dos três primeiros meses do ano, 92% dos produtos na atividade de veículos têm produção menor do que em igual período de 2014. Além disso, outras atividades acabam sentindo o impacto da retração do setor automotivo, como produção de borracha e material plástico.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial vê aí influência dos ajustes na economia, que estariam levando a indústria para uma “situação desastrosa”. “Por serem mais dependentes de expectativas sobre o futuro e por dependerem mais de financiamentos”, diz relatório do Iedi sobre os dados de ontem, “os setores de bens de capital e de bens duráveis são aqueles cuja produção recuou mais fortemente”.
Alheia à situação do restante da indústria, o setor extrativo é um dos poucos a exibir resultados positivos. A produção cresceu 8,9% em março ante igual mês do ano passado e teve alta de 7,3% nos últimos 12 meses.
Colaboraram Francisco Carlos de Assis, Ricardo Leopoldo e Vinicius Neder