IEDI na Imprensa - Produção industrial cresce 2% em janeiro, mas não compensa o recuo de dezembro
Produção industrial cresce 2% em janeiro, mas não compensa o recuo de dezembro
Valor Econômico - 05/03/2015
Camilla Veras Mota e Robson Sales
Após dois meses seguidos de queda, a produção industrial avançou 2% em janeiro, na comparação com dezembro e já feito o ajuste sazonal. A alta, puxada pelo aumento de 9,1% na fabricação de bens de capital e de 0,7% na de bens intermediários, entretanto, não foi suficiente para recuperar o tombo de 3,2% verificado em dezembro pela Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF).
Em relação a janeiro de 2014, a produção encolheu em todas as categorias que fazem parte do levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - a produção total e a de bens de capital apuraram a 11ª queda consecutiva, de 5,2% e de 16,4%, respectivamente -, reforçando as análises que indicam que a crise no setor não dá sinais de término no curto prazo.
O aumento da produção de caminhões em janeiro foi apontado pelo IBGE como principal contribuição positiva para a alta em bens de capital e aconteceu após a conclusão do período de férias coletivas decretado em dezembro em diversas fábricas, ressalta o instituto.
O fim da temporada de recessos também pode ter influenciado a alta de 7,6% registrada pelo segmento de máquinas e equipamentos, diz Nelson Marconi, da Fundação Getulio Vargas (FGV). "Muitas encomendas feitas no fim do ano acabam ficando para janeiro", afirma, chamando atenção para a alta de 22,7% na produção de bens de capital em janeiro de 2014 sobre dezembro do ano anterior.
A antecipação de encomendas estimulada pelo aumento das alíquotas do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), anunciado no fim do ano passado, também pode ter ajudado, afirma o economista.
Em relatório, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi) relaciona o crescimento da produção a um ajuste temporário de estoques no setor de bens de capital. De acordo com a sondagem industrial da FGV, a proporção de empresas nesse segmento com excesso de estoques no período caiu de 27% para 24,9%.
"Mas tudo isso é muito pouco para desenhar uma tendência de recuperação", afirma Marconi, da FGV. Em 12 meses, a indústria acumula perdas de 3,5% - a maior queda desde janeiro de 2010, quando a produção caía 4,8%, na mesma comparação.
O aumento da produção total e no segmento de bens de consumo não chega nem a recompor as perdas de dezembro, quando as variáveis tiveram quedas de 3,2% e de 11,5%, ressalta Flávio Serrano, economista-sênior do Besi Brasil. Ainda assim, a expectativa é que altas mais expressivas como a de janeiro dificilmente se repitam nos próximos meses. "A queda de 7% no investimento esperada para 2014 limita a capacidade de expansão produtiva da indústria neste ano."
Para o estrategista-chefe do banco Mizuho no Brasil, Luciano Rostagno, fatores como o aumento significativo nos custos de energia, as políticas fiscal e monetária mais contracionistas, os custos ainda altos do trabalho e os riscos de racionamento devem manter a confiança do setor em baixa neste ano e dificultar a retomada dos investimentos.
O dólar em nível elevado, por sua vez, deve beneficiar a indústria apenas no médio prazo. "No curto prazo, a volatilidade elevada tende a atuar como fator contracionista da atividade, já que gera incerteza [em relação ao nível em que a cotação deve se estabilizar] e favorece a postergação de investimentos", avalia o economista. O banco estima retração de 2,5% da produção em 2015, contra queda de 3,5% projetada para o ano passado.
O gerente da PIM-PF, André Macedo, também não enxerga uma recuperação do setor nos próximos meses. De um lado, a demanda externa ainda não se recuperou completamente. O mercado doméstico, por sua vez, tende a desacelerar com o encarecimento do crédito e um aumento menor da renda das famílias. "A alta é boa, mas não animadora. É um aumento de ritmo, mas não altera em nada o panorama de menor intensidade que a produção industrial nos mostra."