IEDI na Imprensa - Mesmo com Resultado Positivo em Julho, Analistas não Veem Retomada da Indústria
Mesmo com Resultado Positivo em Julho, Analistas não Veem Retomada da Indústria
O Globo - 02/09/2014
Base de comparação é muito baixa, e setor deve apresentar retração de mais de 1% este ano
João Sorima Neto e Roberta Scrivano
O resultado positivo da atividade industrial em julho na comparação mensal representa mais uma recomposição dos setores que sofreram com a paralisação por causa da Copa do Mundo do que propriamente a retomada da produção. Essa é a opinião de Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que chama atenção para os dados quando comparados com o mesmo mês do ano passado. Nesse caso, a produção de julho caiu 3,6%, quinta taxa negativa consecutiva.
"Daqui até o fim do ano teremos resultados positivos de um mês para outro por conta da base de comparação muito baixa. Ainda assim, no acumulado de 2014, a produção industrial não terá crescimento e deve fechar com retração de 1,4%", disse.
Olhando setor a setor, Souza observa que os que melhor performaram em julho, apenas compensaram as perdas dos meses anteriores. Caso, por exemplo, dos equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, que subiu 44,1% em julho, contra queda acumulada de 38,1% nos meses anteriores. Já os veículos automotores, reboques e carrocerias, que tiveram expansão de 8,5% em julho ainda não conseguiram reverter a queda de 18,1% registrada nos meses de maio e junho.
"E há muitos setores que se enquadram em exemplos como esses. É uma situação difícil", pontuou Souza.
Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) concorda que o número positivo de seu segmento (crescimento de 44,1% para materiais elétricos e informática) em julho, não representa uma retomada de produção. Para ele, a base de comparação é muito ruim.
- O crescimento de 44% é apenas um efeito estatístico. A base de comparação é ruim. Em junho, houve queda de 29,6%. E, entre janeiro e julho, nosso segmento teve um desempenho 0,1% menor do que no mesmo período do ano passado. Para este ano, a expectativa é que a produção em nosso setor não cresça, ficando no mesmo patamar de 2013. Estamos num momento no Brasil em que o empresário não investe e o consumidor se mantém na defensiva. Todo mundo espera o novo governo e os ajustes que terão que ser feitos na economia - disse Barbato.
O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula, disse que o bom desempenho da indústria de eletroeletrônicos pode ser atribuído à venda de televisores, ainda por causa da Copa do Mundo. Ele diz que o primeiro semestre, que normalmente representa 40% das vendas do segmento, este ano representou 60%.
- Houve uma inversão, mas ainda assim acredito que manteremos o ritmo de vendas de televisores como nos últimos três anos próximo de 15 milhões de unidades, o que manterá o desempenho do nosso segmento positivo. No primeiro semestre, tivemos mais dificuldades com linha branca. Os consumidores preferiram trocar a TV, por causa da Copa, do que o refrigerador ou o fogão - disse.
Em relatório assinado pelos economistas Rodrigo Miyamoto e Ilan Goldfajn, o Itaú Unibanco avalia que apesar da melhora, não há uma retomada mais vigorosa do crescimento da indústria, uma vez que não houve compensação da queda de 1,4% do mês anterior. Para frente, os indicadores divulgados e a herança estatística sugerem um crescimento limitado no terceiro trimestre para a produção industrial.
"Os indicadores já divulgados ainda não apresentam indícios de uma retomada forte. A confiança recuou 1,2% em agosto em relação a julho, após ajuste sazonal e os estoques permanecem em alto patamar, indicando necessidade de ajuste na produção à frente. Assim, esperamos um crescimento modesto da produção industrial e da atividade econômica em geral no terceiro trimestre", diz o relatório.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) não comentou o resultado da indústria automobilística em julho. Mas em nota ratificou a previsão de que a produção deve crescer 13,2% no segundo semestre em relação aos primeiros seis meses do ano. Mas, no ano, a produção total deverá ficará 10% abaixo do número registrado em 2013, caindo de 3,712 milhões para 3,339 milhões de unidades fabricadas.