IEDI na Imprensa - Recessão Já Atingiu Indústria de Transformação e da Construção, Dizem Entidades
Recessão Já Atingiu Indústria de Transformação e da Construção, Dizem Entidades
O Globo - 29/08/2014
Os dois segmentos registraram a quarta retração trimestral consecutiva na atividade e já estão demitindo
Roberta Scrivano
Depois da divulgação do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano, especialistas avaliam que dois grupos da indústria já estão em recessão. São eles: a indústria de transformação e a da construção. Ambos segmentos registraram o quarto recuo trimestral seguido da atividade, de acordo com dados do IBGE, e já estão demitindo. Juntos, os fatores caracterizam a recessão, explicaram Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), e Paulo Francini, diretor de Economia da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) comprovam que a indústria de transformação começou a demitir consistentemente em março deste ano. Em relação à construção, os números da CNI apontam para retração no emprego desde 2012. Já de acordo com o IBGE, no segundo trimestre deste ano a queda da atividade da indústria de transformação foi de 2,4%, acumulando perdas de 5,5% nos últimos quatro trimestres. Na construção, o recuo observado entre abril e junho foi ainda pior e chegou a 2,9%. No acumulado dos últimos quatro trimestres, a redução chega a 7,8%.
Problemas estruturais, que vão desde o deficit em infraestrutura, passando pela burocracia até chegar no complexo sistema tributário nacional, além de questões conjunturais mais recentes, como a apreciação do câmbio, são os motivos apontados por Souza para justificar as dificuldades dos setores industriais.
— Para haver a reversão deste cenário, é preciso que haja a retomada da competitividade industrial. Esse é um processo difícil, que exige profundas reformas e que não será conquistado de uma hora para outra — ponderou o economista do Iedi.
Na opinião de Francini, a situação da indústria de transformação, embora tenha queda acumulada inferior à da construção, é a mais difícil, justamente pela gravidade dos problemas a serem enfrentados.
— Infelizmente, acreditamos que não há perspectiva de reversão desse quadro recessivo do setor num horizonte de curto prazo — lamentou Francini.
A consultoria Fitch Ratings, disse em relatório que as “perspectivas econômicas a médio prazo dependerão das medidas tomadas pelo próximo governo para restaurar a confiança, reduzir o custo de fazer negócios, facilitando os investimentos”.
Os dois especialistas também usam como justificativa para os prognósticos negativos, a forte queda dos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) entre abril e junho. Os dados do IBGE mostram redução de 5,3% no segundo trimestre na comparação com o período anterior. Trata-se, também, da quarta diminuição trimestral consecutiva. Souza, do Iedi, diz que o fluxo de investimentos de hoje servem como uma espécie de termômetro da atividade futura.
— Se o empresário está postergando ou cancelando os investimentos é porque sabe que vai reduzir a oferta no futuro — explicou.
Francini, da Fiesp, reforça que os dados dos investimentos combinados com a “contínua deterioração dos fundamentos econômicos, não permitem vislumbrar recuperação expressiva da economia brasileira nos próximos trimestres”.
— Que o ano em curso será um desastre para a nossa economia, já sabemos. Queremos ter visão sobre urgência de medidas capazes de, a partir do próximo ano, alterar este cenário de queda — argumentou.
Os dados ruins do segmento industrial também gerou preocupação nos trabalhadores. Miguel Torres, presidente da Força Sindical, disse que o “dado é nefasto para as campanhas salariais das categorias com datas-base no segundo semestre”
— Com os resultados que estamos vendo, fica clara a incompetência da equipe econômica do governo — disparou o sindicalista.