IEDI na Imprensa - Mudança de Metodologia Pode Elevar Resultados
Publicado em: 04/04/2014
Mudança de Metodologia Pode Elevar Resultados
Valor Econômico - 04/04/2014
Flavia Lima e Arícia Martins
Após dez anos sem mudanças, os números do setor industrial vão ser reformulados no âmbito da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF). Dentre outros pontos, a mudança vai permitir que a lista de produtos e plantas industriais seja atualizada, tirando de cena, por exemplo, o já obsoleto videocassete e adicionando itens que apareceram nos últimos dez anos, como tablets e smartphones. A "nova PIM" pode trazer, segundo especialistas, algum alívio para um setor que, especialmente no último ano, passou por grandes oscilações, tendo potencial para elevar os números da produção industrial do ano passado em até um ponto percentual e até mesmo do Produto Interno Bruto (PIB).
Na pesquisa mensal, as mudanças ocorrem a partir de maio - englobando, portanto, a próxima divulgação referente a março - retroagindo a janeiro de 2012, diz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A nova série também será incorporada ao cálculo das Contas Nacionais Trimestrais, o que deve acontecer a partir da divulgação do resultado do primeiro trimestre do ano, em 30 de maio, retroagindo a 2013.
Embora seja o principal indicador conjuntural mensal de atividade econômica do IBGE, a PIM é a pesquisa mais defasada em termos de cobertura amostral. A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), por exemplo, já teve duas atualizações desde que foi lançada, em 2005, e mesmo o PIB caminha para outra grande atualização, no fim deste ano, depois da revisão de 2007.
A atual versão da PIM é de 2004 e tem como base listas de produtos e ponderações das Pesquisas Industriais Anuais de 1998 a 2000. Segundo o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, isso significa que produtos que não existiam no final da década de 1990, como smartphones e tablets, ainda não fazem parte do indicador, ao mesmo tempo em que produtos defasados, como videocassetes, seguem na pesquisa.
A atualização da PIM-PF pode, ainda, atenuar diferenças importantes registradas que vinham sendo registradas em dados similares do IBGE e de outros órgãos. Como publicado pelo Valor em novembro, ao longo de 2013 os dois principais indicadores nacionais de produção de veículos divergiram nos resultados. O ápice disso foi no terceiro trimestre de 2013, quando a produção de veículos leves da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) subiu 5,1% em relação a igual período do ano anterior, enquanto o dado correspondente do IBGE caiu 5,5% na mesma comparação. A atualização da amostra de setores, produtos e informantes deve atenuar esse quadro, já que a diferença, segundo o próprio instituto, se deveu à produção de plantas industriais instaladas no país em 2012 e que ainda não tinham sido captadas pelas estatísticas da PIM.
Segundo Borges, da LCA, a mudança metodológica no cálculo da PIM-PF - cujos detalhes só serão divulgados pelo IBGE na próxima segunda - pode gerar mudanças relevantes não só nos resultados da produção e do PIB industrial, como nas contas nacionais como um todo. Ele observa que a pesquisa, além de ser incorporada no cálculo do PIB da indústria, também tem impactos indiretos na atividade de outros segmentos com alguma correlação com o setor, como serviços de transporte e comércio.
"Isso pode mudar bastante o histórico recente do PIB". Para Borges, a reformulação coloca mais incertezas nas projeções de atividade para março e para o primeiro trimestre, mas pode ter algum impacto positivo nas revisões para trás das duas séries. "A produção industrial de 2013 pode ter crescido quase o dobro do que o IBGE apontou", cogita, referindo-se à alta de 1,2% da indústria em 2013.
Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), também estima que os números possam ser revisados para cima, sobretudo as quedas que foram muito fortes e podem ser amenizadas. "Nos últimos dois anos e meio a variação mês a mês é um sobe-e-desce frenético e a mudança pode ter efeito positivo sobre a volatilidade". Alguns setores ou ramos, como químicos e farmacêuticos, devem ser reordenados, seguindo a mais recente Classificação Nacional de Atividades Econômicas (a CNAE 2.0), diz ele.
Para Borges, o órgão surpreendeu ao informar que a alteração já seria incorporada a partir das próximas divulgações da PIM e do PIB. "O IBGE tinha mencionado que a PIM seria alterada no começo do ano passado e, desde então, ficou quieto. Agora fica difícil especular como será a produção em março".