IEDI na Imprensa - De Olho no Comportamento de Bens Intermediários
Publicado em: 03/04/2014
De Olho no Comportamento de Bens Intermediários
O Estado de São Paulo - 03/04/2014
Rogério César de Souza
Vejamos o desempenho recente da produção da indústria brasileira: -0,4% e -3,8%, respectivamente, em novembro e dezembro de 2013 e 3,8% e 0,4%, nessa ordem, em janeiro e fevereiro deste ano. Ou seja, a forte queda da produção industrial nos dois últimos meses do ano passado foi recuperada nos dois primeiros meses deste ano.
Portanto, pode-se dizer que a indústria começou bem 2014, pelo menos do ponto de vista da produção. E o que mais pode ser dito?
Pode-se afirmar que a indústria entrou numa trajetória de crescimento mais consistente que se diferencia daquela trajetória oscilante e com tendência a estagnação que se observou nos últimos anos? Ainda é cedo para tal afirmação. No entanto, é isto que se espera para 2014: que a indústria brasileira apresente uma evolução a taxas positivas - ainda que não sejam robustas -, sem muitas oscilações, e feche o ano com crescimento da produção entre 2,0% e 2,5%.
Os setores de bens duráveis e de bens de capital contribuíram positivamente para as expectativas de que a indústria brasileira comece a trilhar num novo caminho em 2014. Em janeiro e fevereiro, a produção de bens duráveis avançou, respectivamente, 4,8% e 3,3%. A produção de bens de capital, embora não tenha ido tão bem em fevereiro (0,1%) quanto foi em janeiro (13,3%), acumula crescimento de 12,4% no primeiro bimestre deste ano frente o mesmo bimestre de 2013. Muito provavelmente, esses serão os setores que puxarão a produção industrial em 2014.
Mas, para capturar, de fato, um caminhar mais firme da produção industrial, nosso olhar deve se direcionar para o comportamento do setor de bens intermediários. Esse setor, de maior peso dentro da atividade industrial e que representa as compras intra-indústria, foi, como se sabe, muito ruim em 2012(-1,4%) e ficou estagnado em 2013. Além do fraco desempenho da economia brasileira, a concorrência com o bem importado explica, em grande medida, o ritmo da produção de bens intermediários nesses últimos anos.
No primeiro bimestre deste ano, ao avançar 1,6% em janeiro e 0,8% em fevereiro, a produção industrial de intermediários deu sinais de melhora. São resultados ainda tímidos, mas que podem representar o começo daquela trajetória (acima citada) de crescimento mais consistente e geral da indústria nacional - um crescimento que pode já estar refletindo alguns efeitos da desvalorização cambial. A indústria brasileira não se recuperará plenamente sem uma resposta mais convincente do seu setor de intermediários. Os próximos meses confirmarão se isso realmente está ocorrendo.
ECONOMISTA DO INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI