IEDI na Imprensa - Estudo Aponta Forte Dependência de Incentivos na Indústria de Alta Tecnologia
Estudo Aponta Forte Dependência de Incentivos na Indústria de Alta Tecnologia
Valor Econômico - 05/03/2014
Frederico Curado, presidente da Embraer: "Empresas estão capitalizadas, mas há insegurança sobre os investimentos"
Marta Watanabe
Nos últimos três anos, a produção da indústria de transformação foi marcada por um desempenho oscilante e altamente dependente de incentivos nos segmentos mais intensivos em tecnologia, e de um quadro de evidente piora em setores que agregam menos tecnologia. É o que mostra levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que analisa a produção da indústria de transformação agrupando os diversos setores segundo a intensidade tecnológica.
O estudo, que também analisou o desempenho da balança comercial no mesmo critério de intensidade tecnológica, mostra que em 2013, de forma semelhante aos anos anteriores, os grupos com segmentos de alta e média tecnologia tiveram déficits. A exceção fica por conta do grupo que reúne os segmentos de baixa tecnologia, que apresentou superávits nos últimos três anos. O que chama a atenção, porém, é que os saldos estão cada vez menores. O superávit do grupo de baixa tecnologia caiu de US$ 42,9 bilhões em 2011 para US$ 40,7 bilhões no ano passado.
Para 2014, diz Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica, a avaliação é que a produção industrial fique em "banho-maria". A indústria de bens de capital, estima, deve puxar a produção industrial para baixo. "Há uma possibilidade de reação, em razão do câmbio, da produção dos setores exportadores. No frigir dos ovos, porém, o desempenho total da indústria de transformação ficará muito próximo ao do ano passado."
Almeida ressalta que a alta de 1,5% da produção da indústria de transformação em 2013, na comparação com o ano anterior, foi determinada por 4 entre 18 setores. Dois deles são do grupo de média-alta intensidade tecnológica - máquinas e equipamentos mecânicos e automóveis - e responderam a incentivos como desonerações, em conjunto ou não com facilidades de financiamento.
O terceiro segmento, enumera Almeida, é de derivados de petróleo, único setor com alta convincente de produção no ano passado (7,3% em relação a 2012) no grupo de média-baixa intensidade tecnológica. Os derivados de petróleo, porém, diz o ex-secretário, estão em setor altamente regulado por políticas públicas. O único segmento com crescimento mais sustentado é o de aeronáutica, que teve alta de produção de 10,1% no ano passado, na comparação com 2012. "Trata-se de um setor de alta intensidade tecnológica, internacionalizado e integrado."
O quadro, avalia Almeida, mostra a fragilidade da indústria nacional. Apesar do bom desempenho do segmento aeronáutico, a indústria de alta tecnologia teve, no total, queda de produção de 0,5% em 2013, depois de um 2012 com recuo de 1,6%. O desempenho no - que inclui o segmento farmacêutico, de material de escritório e informática e instrumentos médicos - sofre com a alta dependência tecnológica e tem um déficit estrutural na balança comercial.
No setor de média-alta intensidade - que reúne automóveis, produtos químicos, máquinas e equipamentos -, o entrave ainda acontece, apesar dos incentivos do governo federal, em razão da disputa intensa com os importados no mercado interno. Ao mesmo tempo, a perda de espaço nas exportações também contribui negativamente para a produção doméstica. Na indústria de baixa intensidade tecnológica, a luz amarela acende por conta do recuo de produção em setores representativos, como de alimentos, de madeira e de papel e celulose.
Essa queda de produção, explica o economista Rogério César de Souza, do Iedi, está relacionada à queda do superávit comercial desse grupo no ano passado. O encolhimento do saldo comercial da indústria de baixa tecnologia aconteceu principalmente por conta do segmento de alimentos, que reduziu suas exportações de US$ 46,2 bilhões em 2011 para US$ 44,3 bilhões no ano passado. A indústria de alimentos responde por 70% das exportações dos setores de baixa tecnologia. Para Souza, o processo de desvalorização do real frente ao dólar pode ajudar as exportações da indústria de transformação, assim como frear as importações. Ele lembra, porém, que o período de real valorizado foi muito longo. Há necessidade, diz, de recomposição das cadeias industriais de alguns setores.
Frederico Curado, presidente da Embraer e vice-presidente do Iedi, diz que a recuperação da indústria como um todo demanda uma sinalização de política industrial de longo prazo, com estabilidade de regras. Isso motivaria investimentos e possibilitaria uma diversificação da pauta de exportação brasileira. Para ele, há um sentimento de cautela generalizada, no Brasil e no mundo. "As empresas estão capitalizadas, mas há insegurança sobre os investimentos. Isso não é uma prerrogativa somente do Brasil." Para Curado, a cautela ainda deve ser mantida em 2014, mas no caso de investimentos no país é importante a sinalização de uma política consistente para mudança de algumas condições estruturais, que darão mais resultado no médio e longo prazo. Nesse sentido, diz o executivo, estão na direção correta as iniciativas para concessão de aeroportos e rodovias. Mas ele cita outras mudanças "fundamentais", como a da carga tributária, da burocracia e qualificação de mão de obra, entre outros.
No campo dos incentivos atuais para redução de custo de produção e estímulo à exportação, a expectativa, diz Curado, é a manutenção da desoneração de folha. Para ele, o Reintegra - que dava às empresas crédito tributário equivalente a 3% da receita de exportação -, extinto em 2013, também era um benefício importante. "A expectativa é que não aconteça com a desoneração o mesmo que aconteceu com o Reintegra", diz Curado. Segundo o executivo, o crédito para a Embraer era representativo. "Cerca de 85% do nosso faturamento vem da exportação."