IEDI na Imprensa - O Capital de Lula
O Capital de Lula
IstoÉ Dinheiro - 27/12/2006
O presidente renasceu das cinzas em 2006 e hoje, reeleito, atinge sua mais alta popularidade. Onde ele irá investir seu patrimônio político?
Leonardo Attuch e Adriana Nicacio
O script estava traçado. Acossado por um vendaval de denúncias, o presidente Lula sangraria lentamente ao longo de 2006 e chegaria em outubro, mês eleitoral, nas cordas. Em março, quando ele perdeu seu braço direito, o ministro Antônio Palocci, a derrocada parecia real e ameaçadora. Além disso, as primeiras pesquisas eleitorais sinalizavam que Lula, de fato, poderia ser batido. Mas nada saiu como previsto.
À medida que a corrida sucessória avançava, Lula se distanciava de seu principal oponente, Geraldo Alckmin. E, quando as urnas foram abertas, viu-se uma diferença de 21 milhões de votos – em favor de Lula. Confirmada a vitória, a única dúvida dizia respeito à governabilidade do segundo mandato, com um PT debilitado. Mas depois de conduzir a formação de sua base, Lula vai iniciar 2007 com mais de 65% do Congresso Nacional nas mãos. E a chave de ouro veio em dezembro, quando a Confederação Nacional da Indústria e o Ibope divulgaram sua última pesquisa sobre popularidade presidencial. Nada menos que 71% dos brasileiros aprovam Lula. Além disso, ele ainda foi apontado como o melhor presidente da história. O que explica a força de Lula, depois de tantos escândalos? “Além de sua saga pessoal, que personifica o pobre que venceu na vida, houve um fator para o qual ninguém quis olhar”, disse Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, à DINHEIRO. “Ele sempre foi bem avaliado porque, de fato, melhorou a vida dos mais pobres.”
O presidente é hoje um líder com votos, alianças e popularidade. Em outras palavras, ele esbanja capital político. “Lula está na casa do xeque-mate, pronto para encurralar o adversário, que é o baixo crescimento”, avalia Edgard Pereira, economista do Iedi. Além das condições políticas, ele tomará posse numa situação inédita. É a primeira vez em muitos anos que alguém veste a faixa presidencial sem uma crise econômica se avizinhando. José Sarney, por exemplo, herdou a recessão do fim do regime militar. Fernando Collor tinha de exterminar a inflação com seu ippon. Fernando Henrique chegou com a mesma missão em seu primeiro mandato e, no segundo, uma crise cambial batia à porta. Em janeiro de 2003, quando Lula recebeu o governo, a inflação disparava e o risco-país era superior a 2 mil pontos. De lá para cá, quase tudo melhorou. A única coisa que não mudou foi o crescimento pífio – tanto Lula como FHC têm médias próximas a 2,6%. “O presidente tem força, mas falta clareza na sua agenda”, critica o empresário Salo Seibel, conselheiro do Iedi. “Ele parece querer fazer com a economia o que todo obeso gostaria de conseguir: emagrecer sem regime.”
A questão é que o melhor momento para se investir o patrimônio político é o início de mandato – de preferência, os 100 primeiros dias. E Lula, embora possua boa folga parlamentar, não tem uma agenda de reformas a ser encaminhada ao Congresso. A única coisa em discussão é um novo pacote de incentivos tributários, que vem sendo preparado pelo ministro Guido Mantega. “Essa é a hora de se ter coragem, de cortar gastos e de enxugar o Estado, ainda que haja um preço a ser pago, em termos de popularidade”, aponta Paulo Francine, diretor da Fiesp. Enquanto Palocci foi ministro, a estratégia era a âncora fiscal. Com um forte superávit primário e a redução dos juros, previa-se que a dívida interna, hoje em 50% do PIB, pudesse cair para 40% até 2010, abrindo espaço para cortes de impostos. Um dos grandes defensores desse ajuste de longo prazo é o ex-ministro Delfim Netto, hoje conselheiro de Lula. Mantega, porém, parece mais disposto a recuperar a capacidade de investimento do Estado. Seja qual for o caminho, Lula terá de honrar, no segundo mandato, o discurso que fez ao ser reeleito. A promessa de 2002, centrada no combate à fome, de certa forma foi cumprida. Quatro anos atrás, um trabalhador com salário mínimo tinha de trabalhar 153 horas e 37 minutos para comprar a cesta básica. Hoje, o tempo necessário é de 93 horas e 32 minutos, segundo o Dieese. “Criamos uma rede de proteção social”, disse à DINHEIRO o ministro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social. “Agora é hora de crescer.”