IEDI na Imprensa - Juro Alto e Dólar Barato Dificultam Ajuste da Indústria, Avalia Iedi
Juro Alto e Dólar Barato Dificultam Ajuste da Indústria, Avalia Iedi
Valor Econômico - 21/12/2006
Raquel Salgado
A entrada da China e da Índia na economia mundial e a atual conjuntura interna do Brasil, com juro alto e câmbio apreciado, têm aprofundado o processo de mudança estrutural do setor industrial do país. Enquanto a indústria de transformação, em especial a de bens intermediários, produz menos e perde espaço, a extrativa deslancha. O problema é que na indústria de transformação o ajuste ao novo jogo do comércio mundial ocorre de forma passiva. Esta é a avaliação do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Edgard Pereira, diretor-executivo da entidade, ressalta que uma variável macroeconômica está em desequilíbrio: o juro. Por conta disso, outra variável também está fora de linha: o câmbio. A dupla juros altos e real valorizado em relação ao dólar inibe os investimentos privados. Sem eles, não há como aumentar a produtividade e ser mais competitivo. O resultado é uma indústria de bens intermediários e de bens de consumo semi-duráveis (roupas e calçados) que crescem menos e perdem espaço para os produtos importados.
Ao mesmo tempo, a indústria extrativa tem bom desempenho, embalada pela demanda mundial por commodities. Só neste ano, de janeiro a outubro, a produção avançou 7,1%, bem acima da indústria geral, que teve ganhos de 2,9% e também dos bens intermediários, cuja produção aumentou apenas em 2%. "Essa mudança estrutural já ocorre há um bom tempo, mas se intensificou nos últimos anos", afirma.
Pereira explica que em um país de industrialização tardia é natural que de tempos em tempos a indústria precise passar por ajustes. "Isso já foi feito quando os Estados Unidos despontaram e o mesmo aconteceu quando o Japão cresceu muito", disse. A pressão crescente sobre a indústria brasileira vem principalmente pelo aumento da quantidade importada. "Isso significa perda de escala, o que reflete em menor competitividade", diz Pereira. Agora é a vez de se adaptar à entrada da China e da Índia. "Mas precisa ser um ajustamento ativo, com investimentos e não como temos visto aqui no Brasil".
Do contrário, a indústria seguirá perdendo participação no Produto Interno Bruto (PIB) do país. Atualmente, ela representa cerca de 25% desse indicador. É um número bem abaixo do pico alcançado no início da década de 90, que foi em torno de 35%. Segundo Pereira, é esperado que conforme as economias se desenvolvam, o setor industrial perca importância relativa. Porém, isso ocorre em economias desenvolvidas, quando a renda per capita chega a mais de US$ 25 mil. "E não é o caso do Brasil. Temos uma renda per capita baixa ainda, em torno de US$ 7 mil".
O presidente do Iedi e também da Coteminas, Josué Christiano Gomes da Silva, está otimista com o próximo ano e acredita que, dependendo do seu conteúdo, o pacote de medidas que o governo deve lançar em janeiro, mais a continuidade da trajetória de queda dos juros, poderá levar o país a crescer perto da casa dos 5% em 2007. E ele rejeita a idéia de que não há infra-estrutura para sustentar um avanço dessa magnitude. "Não adianta achar que vai haver investimento em infra-estrutura sem demanda. Ele é reflexo da própria expansão econômica", diz.