IEDI na Imprensa - Empresas Investem na Ásia para Driblar Déficit
Empresas Investem na Ásia para Driblar Déficit
DCI - 28/12/2006
Janaína Demarque
Empresas brasileiras estão investindo no Sudeste Asiático para tentar equilibrar o saldo da balança comercial existente entre o Brasil e alguns países da região. Até novembro, o País contabilizou um déficit de quase US$ 3 bilhões com a maioria das nações daquela área. Suzano Petroquímica, Petrobras, Chemtech e Celovaqui são alguns exemplos de companhias que aumentarão sua participação no mercado asiático em 2007, tendo em vista que acreditam na importância do local para os negócios.
Só com os Tigres Asiáticos o Brasil apresentou um saldo negativo de pouco mais de US$ 2 bilhões. O comércio com a Coréia do Sul é o que apresenta o déficit mais expressivo, por volta de US$ 1 bilhão. Com a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), bloco econômico composto por Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia, Brunei, Vietnã, Mianmar, Laos e Camboja, o déficit chega a US$ 827 milhões. Nem todos os países contribuem para esse resultado. Com Mianmar, Vietnã e Camboja, o País tem um superávit modesto de US$ 52 milhões.
A Chemtech, empresa de soluções tecnológicas, fechou recentemente um contrato com Cingapura, Malásia e Tailândia no qual ofereceu um sistema de gestão para três refinarias. Esse acordo aumentou em 10% o faturamento da companhia neste ano. Até o primeiro semestre de 2007, haverá uma expansão desse contrato que atingirá os mesmos países, mas cerca de mais cinco refinarias. Luiz Eduardo Ganem Rubião, diretor-geral da Chemtech, afirma que essa extensão do projeto vai elevar em 5% o faturamento do próximo ano. “Digo isso porque considero que o faturamento total também vai aumentar, mas o projeto tem a mesma ordem de grandeza do primeiro”, aponta Rubião.
Para Abílio Ramos, gerente executivo de suporte de operações da Petrobras, o mercado asiático de derivados do petróleo é o que mais cresce no mundo. Segundo ele, é difícil desvincular a China do Sudeste Asiático. “Esse país está levando as outras nações a reboque. Se o mercado com ele cresce, esse incremento também atinge sua zona de influência”, explica o gerente. As exportações de derivados para a região já representam 22,5% no faturamento de comércio externo da Petrobras. Ramos afirma que a empresa vai aumentar sua presença na área. “Já enviamos uma comissão de representantes para o Vietnã e Coréia do Sul, porque nós sabemos que há pouca exploração de mar profundo nessa região e nós temos capacidade para fazê-la. Daremos início às negociações já no ano que vem”, diz o gerente.
A Suzano Petroquímica já exporta para a região há mais de 20 anos e acredita que o comércio pode prosperar ainda mais. “O polipropileno, um de nossos produtos principais, entra no mercado de free zone e isso facilita muito. Hoje, o Sudeste Asiático representa 15% das nossas exportações, mas pretendemos que isso se eleve para 25% no próximo ano”, afirma Sinclair Fittipaldi, gerente de Marketing e comunicação da companhia. Isso será alcançado através de novas inserções na Indonésia e Hong Kong, considerada um porto de entrada interessante.
E não são somente as grandes empresas que visam o Sudeste Asiático. A Celovaqui, companhia de máquinas de embalagens de médio porte, enviou recentemente 15 máquinas para a Tailândia. O contrato fechado com a maior empresa de preservativos do mundo, a Ansell, aumentou em 80% o faturamento da empresa este ano. Joel Santana, diretor executivo da empresa, afirma a pretensão de atingir a Malásia em 2007, mais precisamente as fábricas da Trojan e da Durex lá instaladas, que fabricam cerca de seis bilhões de preservativos por ano cada uma.
Commodities x tecnologia
Segundo dados do Ministério de Desenvolvimento e Comércio Exterior, o Brasil exporta para o Sudeste Asiático, principalmente, soja, minérios de ferro, suco de laranja e carnes, e importa dispositivos de cristais líquidos (LCD), equipamentos para circuitos e para aparelhos transmissores e receptores, além de memórias para computador. “O problema maior é o País depender de produtos que estão baseados em commodities, porque os preços variam muito mais de acordo com a conjuntura e o crescimento é limitado. Os manufaturados criam demanda para si mesmos, porque são inovações”, diz Edgard Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Guilherme Loureiro, economista da LCA Consultoria, aponta o problema do câmbio como fator fundamental para essa relação deficitária. “Se a questão dos preços dos produtos fosse primordial para essa condição deficitária, esse padrão se repetiria com outros países. O problema está no câmbio. A moeda deles é desvalorizada e nossas mercadorias acabam ficando muito caras”, aponta Loureiro.
Para reverter esse quadro, Pereira vislumbra dois aspectos. O primeiro deles é a possibilidade de exportar para esses países os produtos que eles já produzem. “Isso não é viável, porque não conseguiríamos vencer a concorrência”, retruca o economista. A segunda possibilidade é efetuar um processo de substituição de importações. “Essa alternativa é mais plausível, tendo em vista que eles continuariam dependendo de nós. Quem não tem minério de ferro hoje, também não tem amanhã”, diz. Loureiro é um pouco mais pessimista. “Para melhorar a situação seria necessário mexer na política cambial desses países”, explica.
Para Carlos Urso, analista da LCA Consultoria, a alternativa seria a adoção de uma política econômica mais ativa, que procurasse devolver a competitividade à indústria brasileira. “Além de uma taxa de câmbio mais competitiva, são urgentes medidas como redução da tributação incidente sobre a atividade econômica, incentivos à pesquisa e tecnologia e uma legislação mais rápida e eficiente. No momento, os principais projetos de investimento em andamento estão ligados a setores que estão atravessando uma conjuntura internacional favorável: petróleo, siderurgia, mineração e alguns setores do agronegócio”, diz Urso. A alternativa que vem sendo escolhida pelas empresas brasileiras de maior porte é a internacionalização, uma das formas que elas estão utilizando para driblar as deficiências competitivas que o Brasil apresenta no momento.