13 de setembro de 2016

Comércio Varejista
Flertando com a estabilidade


   

 
As vendas reais do comércio varejista vêm mantendo a oscilação de resultados positivos e negativos que tem marcado sua evolução em 2016, mas parece que, à medida em que avançamos para o segundo semestre do ano, a amplitude dessas variações tem sido menor, girando mais claramente em torno da estabilidade na série com ajuste sazonal.

O declínio das vendas do varejo no conceito restrito foi de 0,3% em julho frente ao mês anterior, já descontados os efeitos sazonais, revertendo a alta de mesma magnitude verificada em junho (+0,3%). Já no conceito ampliado, que inclui as vendas de automóveis, autopeças e materiais de construção, o desempenho tem sido sistematicamente negativo desde março de 2016, mas também tem se aproximado cada vez mais de zero. Em julho, caiu -0,5% frente a junho com ajuste.

Esta é uma trajetória menos adversa do que a de 2015, quando as quedas imperaram. Mas é bem provável que o presente ano termine sem uma mudança do quadro do comércio de declínio para crescimento, já que, como temos visto em Análises IEDI anteriores, a situação do emprego continua grave, com uma taxa de desocupação em elevação e rendimentos reais em declínio. Ademais, as vendas daqueles bens que exigem algum tipo de financiamento também esbarram no crédito em contração e a juros elevados.

Nessa conjuntura, os sete meses de 2016 continuam sendo de crise para o comércio, muito embora um pouco menos intensa do que fora no ano passado. Na pior fase da atual crise, indicada pela comparação do nível de vendas reais de dez/15 com dez/13, na série com ajuste, o comércio no conceito restrito caiu 8,2%. Já em 2016, na comparação entre jul/16 e dez/15, a retração persiste: -2,2%. No conceito ampliado, essas mesmas comparações dão os seguintes resultados: -14,3% e -4,5%, respectivamente.

A despeito de resultados negativos, em três importantes segmentos do comércio as perdas em 2016 puderam ser bastante arrefecidas. É o caso de equipamentos de escritório e informática, cujas vendas reais tinham caído 11,0% entre dez/13 e dez/15 e agora caem 2,0% no contraste de jul/16 com dez/15. Os outros casos são de móveis e eletrodomésticos (-21,7% e -5,8% nas mesmas comparações) e veículos e autopeças (-28,1% e -8,1%, respectivamente).

Um segmento que também sofreu muito em 2015, o de tecidos, vestuário e calçados, que apresentou perda de vendas reais de 15,4% na pior etapa da crise (dez13 a dez15) e que na comparação entre jul/16 e dez/15 registra declínio de 8,2%, veio com retração preocupante em julho. Frente a junho, com ajuste, a queda foi de -5,8%, depois de três meses seguidos em que o segmento vinha conseguindo, na margem, expandir suas vendas.

De todos os segmentos do varejo aquele que mais nitidamente tem flertado com a estabilização é o de hiper e supermercados, alimentos, bebidas e fumo. No pior da crise suas vendas reais caíram 6,0% e agora, em jul/16 frente a dez/15, apresentam retração de apenas 0,4%. Isto ocorre a despeito de o desempenho mês a mês, que vinha próximo de zero, mas sempre positivo entre março e junho, ter voltado a cair em julho: -0,3% frente a junho, com ajuste sazonal. Neste caso, a inflação de alimentos aparece como um obstáculo importante para uma reação mais persistente.

Por fim, cabe registrar a performance de dois segmentos que entraram atrasados na crise do varejo. As vendas de farmacêuticos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos aumentaram 9,3% em dez/15 frente a dez/13, passando a mostrar retração na comparação mais recente: -2,7% em jul/16 contra dez/15. Já as vendas de artigos de uso pessoal, que incluem as lojas de departamento, caíram 3,3% e 5,7% nas mesmas comparações, respectivamente.
 

 
De acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio de julho de 2016 divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista no Brasil, a partir de dados dessazonalizados, registrou retração de 0,3% em relação a junho. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a queda foi de 5,3%, no acumulado do ano de 6,7% e nos últimos 12 meses, de -6,8%.

O comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou queda de 0,5% sobre junho, a partir de dados livres de influências sazonais. Na comparação com junho de 2015, o decréscimo foi de 10,2%, no acumulado do ano foi de 9,4% e nos últimos 12 meses, a variação foi de -10,3%.

A partir de dados dessazonalizados de julho, frente ao mês de junho, os segmentos de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,7%), equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação (5,9%) apresentaram crescimento. Os demais segmentos registraram retração, como tecidos, vestuário e calçados (-5,8%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,2%), móveis e eletrodomésticos (-1,0%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,9%), hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebida e fumo (-0,3%) e combustíveis e lubrificantes (-0,3%). No varejo ampliado, o volume de vendas de veículos e motos, partes e peças decresceu 0,3% e o de material de construção, -2,5%.

Em relação ao mês de julho de 2015, todos os setores pesquisados continuam apresentando retração. No varejo restrito, o maior recuo foi observado nos segmentos de livros, jornais, revistas e papelaria (-18,6%), tecidos, vestuário e calçados (-14,2%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-12,9%), móveis e eletrodomésticos (-12,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-11,6%), combustíveis e lubrificantes (-9,9%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-3,2%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,1%). No varejo ampliado, a venda de material de construção retraiu 12,6% enquanto que a de veículos e motos, partes e peças encolheu 20,0%.

No acumulado do ano de 2016, todos os segmentos tiveram retração, puxados por livros, jornais, revistas e papelaria (-17,2%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-15,8%), móveis e eletrodomésticos (-14,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-12,2%), tecidos, vestuário e calçados (-11,6%), combustíveis e lubrificantes (-9,8%) e hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,9%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-0,3%). No varejo ampliado, a venda de materiais de construção retraiu 12,9% e a de veículos, motos, partes e peças, -14,7%.

Em relação a julho de 2015, todas as unidades federativas pesquisadas, a exceção de Roraima, que registrou expansão de 3,2%, apresentaram retração no volume de vendas. As maiores foram observadas no Amapá (-18,9%), Pará (-15,5%), Bahia (-13,4%), Espírito Santo (-13,4%), Mato Grosso (-13,2%), Rondônia (-12,7%), Rio Grande do Norte (-11,2%), Piauí (-11,1%), Tocantins (-11,1%), Maranhão (-10,8%) e Distrito Federal (-10,6%). As menores reduções ocorreram em Minas Gerais (-1,4%), Santa Catarina (-2,9%), São Paulo (-3,0%), Rio Grande do Sul (-3,2%) e Paraná (-4,0%).

 

 

 

 

 


 

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