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Como informa hoje o IBGE, o PIB brasileiro do segundo trimestre
de 2016 teve um novo declínio, de -0,6% frente ao trimestre
anterior, com ajuste. Este resultado veio acompanhado de alguns
aspectos favoráveis, especialmente na indústria
e no investimento, cujas quedas foram interrompidas. Mas isso
não é tudo. Fatores bastante preocupantes, que não
contribuem para a recuperação da economia, ainda
persistem. Esse quadro de sinais divergentes ilustra bem a situação
delicada em que a economia brasileira se encontra e aponta para
riscos potenciais a uma trajetória de retomada.
A evolução
do PIB em 2016 mostra que a crise da economia brasileira entrou
em uma nova fase, em que houve uma moderação dos
níveis de queda. Na série com ajuste sazonal, que
é mais sensível às mudanças de curto
prazo, os resultados dos dois primeiros trimestres deste ano foram
-0,4% e -0,6%, enquanto em 2015 as quedas oscilaram entre -1,0%
e -2,3% por trimestre.
Com isso,
o resultado frente ao mesmo período do ano anterior pôde
refluir para -3,8% no segundo trimestre de 2016, depois de ter
ficado em um patamar superior a -5,0% nos dois trimestres anteriores.
No acumulado do semestre, o PIB caiu 4,6%, abaixo da retração
de 5,2% do segundo semestre de 2015.
Dentre os
aspectos favoráveis desse desempenho está o crescimento
de 0,3% da indústria geral, sob influência do segmento
extrativo (+0,7%). Ainda que tenha sido o único macrossetor
a crescer no período, é preciso observar que esse
resultado positivo é muito pouco expressivo, especialmente
depois de quase oito trimestres consecutivos de retração.
É sinal, portanto, muito mais de uma estabilização
do que de uma recuperação do setor industrial.
É a
indústria de transformação que reflete claramente
essa estabilização, uma vez que nos dois trimestres
de 2016 seu resultado foi de -0,1% e 0%, respectivamente, frente
ao período anterior e com ajuste sazonal. Isso foi suficiente
para reduzir seu declínio frente ao mesmo período
do ano anterior: -5,4% no segundo trimestre de 2016 contra algo
como -10% e -12% nos três trimestres antecedentes.
Outro aspecto
favorável é a alta de 0,4% da formação
bruta de capital fixo, sinalizando uma estabilização
do investimento. Este foi o primeiro resultado positivo na série
com ajuste desde o último trimestre de 2013 e tem na sua
origem a confluência de pelo menos dois fatores: uma retração
menos intensa da construção civil (-0,2%) e o desengavetamento
de alguns projetos de modernização das empresas,
ensejadas por uma melhora das expectativas e da rentabilidade
exportadora, buscando defender sua competitividade. É possível
também que o colapso do investimento público ocorrido
em 2015 tenha se reduzido nessa primeira metade de 2016.
Definitivamente,
o PIB teria tido um desempenho melhor no segundo trimestre se
apenas esses fatores estivessem em operação. Infelizmente
não foi o caso. Há forças que não
têm colaborado para o arrefecimento da crise.
Do ponto de
vista setorial, enquanto a indústria atinge o fundo do
poço, outros setores agravaram suas perdas. A agropecuária
voltou a cair no segundo trimestre: -2,3% frente ao trimestre
anterior com ajuste. O setor de serviços, ainda que não
tenha retomado o ritmo de queda de 2015, teve um segundo trimestre
de 2016 pior do que o primeiro: -0,8% contra -0,4%, na série
com ajuste. Devido ao seu peso no PIB e à sua importância
na geração de empregos, a propagação
da crise para o setor de serviços dificulta a melhora das
condições da economia em geral.
A engrenagem
do desemprego e da queda do rendimento real da população,
como os dados da Pnad contínua vem mostrando, está
em curso e pode vir, inclusive, a voltar a prejudicar o desempenho
industrial, especialmente nos seus segmentos produtores de bens
de consumo não duráveis. O declínio de 0,7%
do Consumo das Famílias no segundo trimestre do ano é
um dos sintomas dessa engrenagem a encolher a demanda interna
do país.
No atual contexto
de ajuste fiscal, que ensejou uma queda de 0,5% do Consumo do
Governo, tampouco o setor público tem muitas condições
de ajudar a demanda interna a reverter o círculo recessivo
por meio da elevação do investimento público
ou de políticas de preservação do emprego
e da renda.
Ganha uma
importância central, então, o setor externo, em que
a ampliação das exportações apresenta-se
como uma válvula de escape da crise para muitas empresas,
notadamente do setor industrial. O grande problema é que
a taxa de câmbio mais competitiva que vinha viabilizando
essa saída já não é mais a mesma.
Ao longo do primeiro semestre do ano houve valorização
nominal da moeda nacional em torno de 20%.
O resultado
disso já pode ser visto nos dados do PIB do segundo trimestre
de 2016. As exportações cresceram praticamente nada,
somente 0,4% frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal,
muito abaixo dos 4,3% do primeiro trimestre. Já as importações,
que caíam desde o segundo trimestre de 2015, voltaram a
crescer bastante acima das exportações: 4,5%, também
com ajuste.
Esse comportamento
das importações pode estar associado à estabilização
da indústria, bem como do pequeno aumento dos investimentos,
o que não seria um problema se o crescimento das exportações
estivesse se acelerando. Como este não é o caso,
o setor externo voltou a contribuir negativamente para o crescimento
da economia neste segundo trimestre. Este é um custo que
o país definitivamente não pode arcar no momento.
Se o câmbio
continuar se valorizando nos próximos meses perderemos
talvez o único fator dinamizador da economia, e com isso
podem ser comprometidas a melhora das expectativas dos agentes
econômicos produtivos e a ainda incipiente reação
da indústria.
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Resultados Gerais. Segundo dados divulgados pelo IBGE,
o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2016 atingiu os
R$1,530 trilhão a preços correntes. O índice trimestral
com ajuste sazonal, por sua vez, assinalou frente ao trimestre imediatamente
anterior uma queda de 0,6%. Frente ao mesmo trimestre de 2015, o PIB brasileiro
assinalou recuo de 3,8%. No acumulado do primeiro semestre do ano de 2016,
o PIB assinalou decréscimo de 4,6%, enquanto que no acumulado dos
últimos 4 trimestres, a variação foi negativa em
4,9%.
Ótica
da Oferta. Da ótica da oferta, na comparação
do índice do 2º com o 1º trimestre de 2016, todos os
setores apresentaram queda: Agropecuária (-2,0%), Serviços
(-2,1%) e em menor medida, a Indústria (-0,2%). Dentre as atividades
dos serviços, as maiores quedas foram verificadas nas atividades
de Transporte, armazenagem e correio (-2,1%), Outros serviços (-1,7%),
Intermediação financeira e seguros (-1,1%), Comércio
(-0,8%) e Serviços de informação(-0,6%). Na indústria,
a única queda se deu na construção civil (-0,2%).
A indústria de transformação registrou estabilidade,
enquanto a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto
e limpeza urbana (1,1%) e a indústria extrativa (0,7%) registraram
variações positivas.
Frente ao mesmo trimestre
de 2015, o resultado de -3,8 % foi condicionado por todos os setores:
Indústria (-3,0%), Serviços (-3,3%) e Agropecuária
(-3,1%). O desempenho da Indústria, por sua vez, reflete a queda
de 5,4% da Indústria de Transformação, Construção
Civil (-2,2%) e Extrativa Mineral (-4,9%). Já nos Serviços,
a contração afeta sobretudo o Comércio (-7,4%) e
Transporte, armazenagem e correio (-6,5%).
No acumulado do primeiro
semestre de 2016, o PIB apresentou queda de 4,6% em relação
a igual período de 2015. O destaque negativo ficou para a Indústria
(-5,2%), seguida pela Agropecuária (-3,4%) e os Serviços
(-3,5%).
Ótica
da Demanda. O desempenho do segundo trimestre do PIB em 2016
em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) foi
resultado da queda do consumo das famílias (-0,7%) e do Governo,
que recuou 0,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF), por sua vez, registrou
o primeiro resultado positivo após dez trimestres consecutivos
em queda (0,4%). No setor externo, as Exportações de Bens
e Serviços tiveram expansão de 0,4%, enquanto que as Importações
de Bens e Serviços cresceram 4,5%.
Na comparação
com mesmo trimestre de 2015, a queda é generalizada para todos
os componentes da demanda interna: FBFK (-8,8%), Consumo das Famílias
(-5,0%) e Consumo do Governo (-2,2%). As importações (-10,6%)
também apresentaram contração nesta comparação,
enquanto as exportações (+4,3%) permaneceram como único
fator de estímulo positivo à economia nacional.
Na análise
da demanda interna, o destaque negativo ficou para a FBKF, com queda de
13,3%. O Consumo das Famílias (-5,6%) e do Governo (-1,9%) registraram
recuos menos expressivos. Em relação ao setor externo, as
Importações de Bens e Serviços apresentaram uma queda
de 16,2%, enquanto que as Exportações de Bens e Serviços
cresceram 8,2%.
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