31 de agosoto de 2016

PIB
A indústria se estabiliza,
mas a economia não


   

 
Como informa hoje o IBGE, o PIB brasileiro do segundo trimestre de 2016 teve um novo declínio, de -0,6% frente ao trimestre anterior, com ajuste. Este resultado veio acompanhado de alguns aspectos favoráveis, especialmente na indústria e no investimento, cujas quedas foram interrompidas. Mas isso não é tudo. Fatores bastante preocupantes, que não contribuem para a recuperação da economia, ainda persistem. Esse quadro de sinais divergentes ilustra bem a situação delicada em que a economia brasileira se encontra e aponta para riscos potenciais a uma trajetória de retomada.

A evolução do PIB em 2016 mostra que a crise da economia brasileira entrou em uma nova fase, em que houve uma moderação dos níveis de queda. Na série com ajuste sazonal, que é mais sensível às mudanças de curto prazo, os resultados dos dois primeiros trimestres deste ano foram -0,4% e -0,6%, enquanto em 2015 as quedas oscilaram entre -1,0% e -2,3% por trimestre.

Com isso, o resultado frente ao mesmo período do ano anterior pôde refluir para -3,8% no segundo trimestre de 2016, depois de ter ficado em um patamar superior a -5,0% nos dois trimestres anteriores. No acumulado do semestre, o PIB caiu 4,6%, abaixo da retração de 5,2% do segundo semestre de 2015.

Dentre os aspectos favoráveis desse desempenho está o crescimento de 0,3% da indústria geral, sob influência do segmento extrativo (+0,7%). Ainda que tenha sido o único macrossetor a crescer no período, é preciso observar que esse resultado positivo é muito pouco expressivo, especialmente depois de quase oito trimestres consecutivos de retração. É sinal, portanto, muito mais de uma estabilização do que de uma recuperação do setor industrial.

É a indústria de transformação que reflete claramente essa estabilização, uma vez que nos dois trimestres de 2016 seu resultado foi de -0,1% e 0%, respectivamente, frente ao período anterior e com ajuste sazonal. Isso foi suficiente para reduzir seu declínio frente ao mesmo período do ano anterior: -5,4% no segundo trimestre de 2016 contra algo como -10% e -12% nos três trimestres antecedentes.

Outro aspecto favorável é a alta de 0,4% da formação bruta de capital fixo, sinalizando uma estabilização do investimento. Este foi o primeiro resultado positivo na série com ajuste desde o último trimestre de 2013 e tem na sua origem a confluência de pelo menos dois fatores: uma retração menos intensa da construção civil (-0,2%) e o desengavetamento de alguns projetos de modernização das empresas, ensejadas por uma melhora das expectativas e da rentabilidade exportadora, buscando defender sua competitividade. É possível também que o colapso do investimento público ocorrido em 2015 tenha se reduzido nessa primeira metade de 2016.

Definitivamente, o PIB teria tido um desempenho melhor no segundo trimestre se apenas esses fatores estivessem em operação. Infelizmente não foi o caso. Há forças que não têm colaborado para o arrefecimento da crise.

Do ponto de vista setorial, enquanto a indústria atinge o fundo do poço, outros setores agravaram suas perdas. A agropecuária voltou a cair no segundo trimestre: -2,3% frente ao trimestre anterior com ajuste. O setor de serviços, ainda que não tenha retomado o ritmo de queda de 2015, teve um segundo trimestre de 2016 pior do que o primeiro: -0,8% contra -0,4%, na série com ajuste. Devido ao seu peso no PIB e à sua importância na geração de empregos, a propagação da crise para o setor de serviços dificulta a melhora das condições da economia em geral.

A engrenagem do desemprego e da queda do rendimento real da população, como os dados da Pnad contínua vem mostrando, está em curso e pode vir, inclusive, a voltar a prejudicar o desempenho industrial, especialmente nos seus segmentos produtores de bens de consumo não duráveis. O declínio de 0,7% do Consumo das Famílias no segundo trimestre do ano é um dos sintomas dessa engrenagem a encolher a demanda interna do país.

No atual contexto de ajuste fiscal, que ensejou uma queda de 0,5% do Consumo do Governo, tampouco o setor público tem muitas condições de ajudar a demanda interna a reverter o círculo recessivo por meio da elevação do investimento público ou de políticas de preservação do emprego e da renda.

Ganha uma importância central, então, o setor externo, em que a ampliação das exportações apresenta-se como uma válvula de escape da crise para muitas empresas, notadamente do setor industrial. O grande problema é que a taxa de câmbio mais competitiva que vinha viabilizando essa saída já não é mais a mesma. Ao longo do primeiro semestre do ano houve valorização nominal da moeda nacional em torno de 20%.

O resultado disso já pode ser visto nos dados do PIB do segundo trimestre de 2016. As exportações cresceram praticamente nada, somente 0,4% frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal, muito abaixo dos 4,3% do primeiro trimestre. Já as importações, que caíam desde o segundo trimestre de 2015, voltaram a crescer bastante acima das exportações: 4,5%, também com ajuste.

Esse comportamento das importações pode estar associado à estabilização da indústria, bem como do pequeno aumento dos investimentos, o que não seria um problema se o crescimento das exportações estivesse se acelerando. Como este não é o caso, o setor externo voltou a contribuir negativamente para o crescimento da economia neste segundo trimestre. Este é um custo que o país definitivamente não pode arcar no momento.

Se o câmbio continuar se valorizando nos próximos meses perderemos talvez o único fator dinamizador da economia, e com isso podem ser comprometidas a melhora das expectativas dos agentes econômicos produtivos e a ainda incipiente reação da indústria.
  

 
Resultados Gerais. Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2016 atingiu os R$1,530 trilhão a preços correntes. O índice trimestral com ajuste sazonal, por sua vez, assinalou frente ao trimestre imediatamente anterior uma queda de 0,6%. Frente ao mesmo trimestre de 2015, o PIB brasileiro assinalou recuo de 3,8%. No acumulado do primeiro semestre do ano de 2016, o PIB assinalou decréscimo de 4,6%, enquanto que no acumulado dos últimos 4 trimestres, a variação foi negativa em 4,9%.

Ótica da Oferta. Da ótica da oferta, na comparação do índice do 2º com o 1º trimestre de 2016, todos os setores apresentaram queda: Agropecuária (-2,0%), Serviços (-2,1%) e em menor medida, a Indústria (-0,2%). Dentre as atividades dos serviços, as maiores quedas foram verificadas nas atividades de Transporte, armazenagem e correio (-2,1%), Outros serviços (-1,7%), Intermediação financeira e seguros (-1,1%), Comércio (-0,8%) e Serviços de informação(-0,6%). Na indústria, a única queda se deu na construção civil (-0,2%). A indústria de transformação registrou estabilidade, enquanto a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (1,1%) e a indústria extrativa (0,7%) registraram variações positivas.

Frente ao mesmo trimestre de 2015, o resultado de -3,8 % foi condicionado por todos os setores: Indústria (-3,0%), Serviços (-3,3%) e Agropecuária (-3,1%). O desempenho da Indústria, por sua vez, reflete a queda de 5,4% da Indústria de Transformação, Construção Civil (-2,2%) e Extrativa Mineral (-4,9%). Já nos Serviços, a contração afeta sobretudo o Comércio (-7,4%) e Transporte, armazenagem e correio (-6,5%).

No acumulado do primeiro semestre de 2016, o PIB apresentou queda de 4,6% em relação a igual período de 2015. O destaque negativo ficou para a Indústria (-5,2%), seguida pela Agropecuária (-3,4%) e os Serviços (-3,5%).

Ótica da Demanda. O desempenho do segundo trimestre do PIB em 2016 em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) foi resultado da queda do consumo das famílias (-0,7%) e do Governo, que recuou 0,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBKF), por sua vez, registrou o primeiro resultado positivo após dez trimestres consecutivos em queda (0,4%). No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços tiveram expansão de 0,4%, enquanto que as Importações de Bens e Serviços cresceram 4,5%.

Na comparação com mesmo trimestre de 2015, a queda é generalizada para todos os componentes da demanda interna: FBFK (-8,8%), Consumo das Famílias (-5,0%) e Consumo do Governo (-2,2%). As importações (-10,6%) também apresentaram contração nesta comparação, enquanto as exportações (+4,3%) permaneceram como único fator de estímulo positivo à economia nacional.

Na análise da demanda interna, o destaque negativo ficou para a FBKF, com queda de 13,3%. O Consumo das Famílias (-5,6%) e do Governo (-1,9%) registraram recuos menos expressivos. Em relação ao setor externo, as Importações de Bens e Serviços apresentaram uma queda de 16,2%, enquanto que as Exportações de Bens e Serviços cresceram 8,2%.

 

 

 

 

 

 

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