|
|
O resultado de julho aponta para mais um aprofundamento da crise
do emprego, reforçando a ideia de que a piora do mercado
de trabalho ainda está em processo. No trimestre móvel
findo neste mês, a taxa de desocupação chegou
a 11,6%, o que representa 11,85 milhões de pessoas sem
emprego.
Frente ao
mesmo período do ano passado, esse contingente de desocupados
cresceu em 3,2 milhões de pessoas. Pela primeira vez, a
principal causa desse crescimento foi o fechamento de postos de
trabalho, que desocupou 1,7 milhão de pessoas a mais em
comparação com o trimestre findo em jul/15. O outro
fator de influência, isto é, a entrada adicional
de indivíduos na força de trabalho, contribuiu com
1,5 milhão de pessoas desocupadas.
Mas não
é apenas o desemprego que aumenta. As famílias brasileiras
também estão sendo obrigadas a enfrentar uma perda
expressiva de seus rendimentos reais, cuja oscilação
entre baixo crescimento e queda, verificada de meados de 2014
a meados de 2015, foi, desde então, substituída
por uma trajetória ininterrupta de retrações.
No trimestre findo em julho de 2016, frente ao mesmo período
do ano passado, o declínio do rendimento real habitualmente
recebido por todos os trabalhos foi de 3,1%.
Duas forças
estão na origem desse desempenho do rendimento real. A
primeira delas foi a aceleração da inflação
especialmente em 2015, sob pressão da brusca correção
de preços administrados (sobretudo da energia elétrica
e dos combustíveis) e de choques inflacionários
dos produtos alimentícios devido a fatores climáticos.
Em 2016, apesar da desaceleração, a inflação
ainda se encontra em patamar elevado.
A segunda
força a corroer os rendimentos reais do trabalho é
o próprio aumento do desemprego. Primeiro porque essa conjuntura
retrai os reajustes salariais daqueles que conseguem se manter
empregados, mas também porque o desemprego atinge principalmente
as ocupações melhor remuneradas, isto é,
os postos com carteira assinada, geralmente na indústria
e, mais recentemente, no setor de serviços mais qualificados.
A massa real
de rendimentos, que reflete as trajetórias tanto da ocupação
como do rendimento real, não poderia, então, ter
outro desempenho que não o de uma rápida deterioração
desde meados do ano passado.
No trimestre
móvel findo em julho de 2016, a massa de rendimentos reais
de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi 4,0% menor do
que aquela do mesmo trimestre de 2015. Com isso, chegou a R$ 7,3
bilhões o volume de poder de compra que se perdeu no mercado
interno brasileiro em função da piora do emprego.
Esse patamar
de queda da massa real é expressivo, especialmente quando
comparamos com taxas trimestrais de crescimento entre +5,0% e
+6,0% a não muito tempo atrás (em 2013 e 2014).
Isso funciona como um freio importante ao avanço do consumo,
ainda mais no contexto em que o crédito não é
capaz de agregar poder de compra para a população.
Ao contrário, o crédito só encarece e se
contrai mês após mês, em termos reais.
Com isso,
a perspectiva de reversão das perdas do comércio
varejista e do setor de serviços, sobretudo aqueles prestados
às famílias, torna-se mais distante. O mesmo valeria
para a indústria de bens de consumo não duráveis,
não fossem as vendas externas que funcionam como via de
escape para muitos de seus segmentos. A má notícia
para esta indústria é que a taxa de câmbio,
cujo patamar mais competitivo vinha lhe ajudando a ampliar suas
exportações, tem se valorizado nesses últimos
meses e pode continuar se valorizando se nada for feito.
|
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE,
a taxa de desocupação alcançou 11,6% no trimestre
compreendido entre maio e julho de 2016, 3,0 p.p. maior que a taxa observada
no mesmo trimestre do ano passado (8,6%). No trimestre móvel anterior
sem sobreposição (fevereiro a abril), a taxa observada foi
de 11,2%.
O rendimento real
médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 1.985,00,
o que representou redução de 0,6% frente ao trimestre anterior
sem sobreposição e variação de -3,1% frente
ao mesmo trimestre de referência do ano anterior. Já o rendimento
real médio do trabalho principal habitualmente recebido alcançou
R$ 1.934,00, que corresponde a uma retração de 0,6% frente
ao trimestre anterior sem sobreposição e de 2,8% frente
ao mesmo trimestre do ano anterior.
A massa de rendimentos
reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou
R$ 175,3 bilhões, variação de -0,6% frente ao trimestre
anterior sem sobreposição e de –4,0% sobre o mesmo
trimestre de 2015.
No trimestre de referência,
a população ocupada alcançou 90,5 milhões
de pessoas, 0,2% a menos do que o registrado no trimestre anterior sem
sobreposição. A variação sobre o mesmo trimestre
de 2015 foi de -1,8%. Na mesma comparação, o número
de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 1,5% atingindo
102,3 milhões de pessoas, enquanto que o número de desocupados
aumentou 37,4%, o que representa 11,8 milhões de pessoas.
Frente ao mesmo trimestre
de 2015, o número de pessoas ocupadas dentre as posições
de ocupação apresentou crescimento nas categorias trabalhador
por conta própria (2,4%) trabalhador doméstico (2,1%) e
trabalhador privado sem carteira (0,9%). As demais tiveram retração:
setor público (-2,1%), trabalho privado com carteira (-3,9%), empregador
(-4,6%) e trabalhador familiar auxiliar (-22,8%).
Dentre os setores
da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na
comparação com o trimestre compreendido entre maio e julho
de 2015, estão: transporte, armazenagem e correios (4,8%), serviços
domésticos (3,5%), alojamento e alimentação (3,2%),
administração pública, defesa e seguridade, educação,
saúde humana e serviços sociais (2,7%), construção
(2,5%). Dentre os setores que tiveram retração da população
ocupada, estão: outros serviços (-0,3%), comércio,
reparação de veículos automotores e motocicletas
(-1,1%), agricultura, pecuária, produção florestal,
pesca e aquicultura (-2,1%), informação, comunicação
e atividades financeiras imobiliárias, profissionais e administrativas
(-9,8%) e indústria (-10,6%).
|
|