30 de agosto de 2016

Emprego
Menos emprego,
menor mercado consumidor


   

 
O resultado de julho aponta para mais um aprofundamento da crise do emprego, reforçando a ideia de que a piora do mercado de trabalho ainda está em processo. No trimestre móvel findo neste mês, a taxa de desocupação chegou a 11,6%, o que representa 11,85 milhões de pessoas sem emprego.

Frente ao mesmo período do ano passado, esse contingente de desocupados cresceu em 3,2 milhões de pessoas. Pela primeira vez, a principal causa desse crescimento foi o fechamento de postos de trabalho, que desocupou 1,7 milhão de pessoas a mais em comparação com o trimestre findo em jul/15. O outro fator de influência, isto é, a entrada adicional de indivíduos na força de trabalho, contribuiu com 1,5 milhão de pessoas desocupadas.

Mas não é apenas o desemprego que aumenta. As famílias brasileiras também estão sendo obrigadas a enfrentar uma perda expressiva de seus rendimentos reais, cuja oscilação entre baixo crescimento e queda, verificada de meados de 2014 a meados de 2015, foi, desde então, substituída por uma trajetória ininterrupta de retrações. No trimestre findo em julho de 2016, frente ao mesmo período do ano passado, o declínio do rendimento real habitualmente recebido por todos os trabalhos foi de 3,1%.

Duas forças estão na origem desse desempenho do rendimento real. A primeira delas foi a aceleração da inflação especialmente em 2015, sob pressão da brusca correção de preços administrados (sobretudo da energia elétrica e dos combustíveis) e de choques inflacionários dos produtos alimentícios devido a fatores climáticos. Em 2016, apesar da desaceleração, a inflação ainda se encontra em patamar elevado.

A segunda força a corroer os rendimentos reais do trabalho é o próprio aumento do desemprego. Primeiro porque essa conjuntura retrai os reajustes salariais daqueles que conseguem se manter empregados, mas também porque o desemprego atinge principalmente as ocupações melhor remuneradas, isto é, os postos com carteira assinada, geralmente na indústria e, mais recentemente, no setor de serviços mais qualificados.

A massa real de rendimentos, que reflete as trajetórias tanto da ocupação como do rendimento real, não poderia, então, ter outro desempenho que não o de uma rápida deterioração desde meados do ano passado.

No trimestre móvel findo em julho de 2016, a massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi 4,0% menor do que aquela do mesmo trimestre de 2015. Com isso, chegou a R$ 7,3 bilhões o volume de poder de compra que se perdeu no mercado interno brasileiro em função da piora do emprego.

Esse patamar de queda da massa real é expressivo, especialmente quando comparamos com taxas trimestrais de crescimento entre +5,0% e +6,0% a não muito tempo atrás (em 2013 e 2014). Isso funciona como um freio importante ao avanço do consumo, ainda mais no contexto em que o crédito não é capaz de agregar poder de compra para a população. Ao contrário, o crédito só encarece e se contrai mês após mês, em termos reais.

Com isso, a perspectiva de reversão das perdas do comércio varejista e do setor de serviços, sobretudo aqueles prestados às famílias, torna-se mais distante. O mesmo valeria para a indústria de bens de consumo não duráveis, não fossem as vendas externas que funcionam como via de escape para muitos de seus segmentos. A má notícia para esta indústria é que a taxa de câmbio, cujo patamar mais competitivo vinha lhe ajudando a ampliar suas exportações, tem se valorizado nesses últimos meses e pode continuar se valorizando se nada for feito.
  

 
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação alcançou 11,6% no trimestre compreendido entre maio e julho de 2016, 3,0 p.p. maior que a taxa observada no mesmo trimestre do ano passado (8,6%). No trimestre móvel anterior sem sobreposição (fevereiro a abril), a taxa observada foi de 11,2%.

O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 1.985,00, o que representou redução de 0,6% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e variação de -3,1% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior. Já o rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido alcançou R$ 1.934,00, que corresponde a uma retração de 0,6% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de 2,8% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.

A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 175,3 bilhões, variação de -0,6% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de –4,0% sobre o mesmo trimestre de 2015.

No trimestre de referência, a população ocupada alcançou 90,5 milhões de pessoas, 0,2% a menos do que o registrado no trimestre anterior sem sobreposição. A variação sobre o mesmo trimestre de 2015 foi de -1,8%. Na mesma comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 1,5% atingindo 102,3 milhões de pessoas, enquanto que o número de desocupados aumentou 37,4%, o que representa 11,8 milhões de pessoas.

Frente ao mesmo trimestre de 2015, o número de pessoas ocupadas dentre as posições de ocupação apresentou crescimento nas categorias trabalhador por conta própria (2,4%) trabalhador doméstico (2,1%) e trabalhador privado sem carteira (0,9%). As demais tiveram retração: setor público (-2,1%), trabalho privado com carteira (-3,9%), empregador (-4,6%) e trabalhador familiar auxiliar (-22,8%).

Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre maio e julho de 2015, estão: transporte, armazenagem e correios (4,8%), serviços domésticos (3,5%), alojamento e alimentação (3,2%), administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (2,7%), construção (2,5%). Dentre os setores que tiveram retração da população ocupada, estão: outros serviços (-0,3%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-1,1%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,1%), informação, comunicação e atividades financeiras imobiliárias, profissionais e administrativas (-9,8%) e indústria (-10,6%).

 

 

 

 

 

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