25 de agosto de 2016

Crédito
Sem alteração do quadro


   

 
A evolução recente do crédito pouco tem contribuído para o arrefecimento da crise em que vivemos. Tanto as empresas como as famílias vêm sendo, já há algum tempo, obrigadas a enfrentar o dificílimo quadro econômico do país sem poder contar com empréstimos que possam tornar menos dolorosos os ajustamentos de seus orçamentos.

No primeiro semestre de 2016, as concessões reais de crédito permaneceram em franca contração enquanto as taxas de juros seguiram em sua escalada. A contar pelos resultados do crédito no mês de julho, o cenário do segundo semestre não deve ser muito diferente.

No acumulado entre janeiro e junho de 2016, o total das concessões reais sofreu uma queda de 8,3% frente ao mesmo período do ano anterior. Julho aponta uma retração ainda maior: -12,4% em relação a julho de 2015. A taxa média de juros nominais, por sua vez, atingiu 33,0% ao ano em julho último, um patamar 3,2 p.p. superior àquele do final de 2015 e 4,6 p.p. maior do que o vigente em julho de 2015.

Quem mais tem sido afetado pela piora do crédito são as empresas. Não bastassem a queda das receitas devido à crise e as pressões de custo, sobretudo em função da brusca correção dos preços administrados ao longo do ano passado, as empresas vêm tendo menos acesso a financiamentos e maiores custos financeiros.

No primeiro semestre de 2016, as concessões reais às empresas caíram 13,2%, puxadas principalmente pelo crédito direcionado (-28,2%), refletindo em boa medida a baixa disposição em investir, mas também pelo crédito livre (-10,9%), condicionado pela redução de empréstimos vinculados ao nível de atividade das empresas. Em julho, a situação foi ainda pior, com queda de 20,4% frente a jul/15, mas agora quem mais se contraiu foi o crédito livre (-20,6%), havendo algum arrefecimento na tendência das modalidades direcionadas (-18,4%).

Já as taxas médias de juros pagas pelas empresas, depois de dois meses seguidos estabilizadas em 21,7% a.a., em termos nominais, avançaram para 22,1% na passagem de junho para julho de 2016. A despeito disso, a inadimplência total ficou estável em 3,0%, abaixo do pico de 3,2% verificado em abril de 2016.

No caso das famílias, uma escassez adicional de crédito também marcou o primeiro mês do segundo semestre do ano. Em julho, a queda real das concessões foi de 5,6% frente ao mesmo mês de 2015, ao passo que no acumulado da primeira metade do ano tinha sido de 3,9%. A piora foi sentida nas modalidades de crédito livre e direcionado.

No crédito livre às famílias, onde as margens dos bancos são mais elevadas, a retração tem sido menor, mas ainda assim avançou de -2,6% no primeiro semestre para -3,3% em junho. No crédito direcionado, o desempenho do crédito rural, imobiliário e do microcrédito levaram a queda de 15,6% do primeiro semestre para 24,8% no mês de julho, sempre em termos reais e frente ao mesmo período do ano passado.

A elevação dos juros médios dos empréstimos totais às famílias tem sido bastante expressiva em 2016: de 37,9% a.a. em dez/15 para 42% a.a. em mai/16 em termos nominais, estabilizando-se nesse patamar desde então. Em julho a taxa média ficou nesses mesmos 42% a.a.. Mas apenas parcialmente essa escalada de juros se explica pela maior inadimplência das famílias, que passou de 3,4% para 3,7% entre dez/15 e mai/16, recuando nos dois meses seguintes: 3,5% em junho e 3,6% em julho de 2016.

Como se sabe, a reversão dessas tendências desfavoráveis do crédito é um elemento importante para a redinamização de setores como o comércio varejista e a indústria, especialmente daqueles segmentos que mais tem sofrido na crise, a saber, de bens de capital e de bens de consumo duráveis. Mas ao que tudo indica não há sinais positivos vindo desse front.
 

 
Resultados Gerais. Os dados de crédito, divulgados hoje pelo Banco Central, indicaram que o saldo das operações alcançou R$ 3.116 bilhões em julho, que corresponde a uma participação no PIB de 51,4%. As operações de crédito realizadas a partir de recursos livres responderam por 25,6% do PIB e a parcela com recursos direcionados, por 25,8% do PIB.

A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.554 bilhões, o que representou uma retração de 1,0% frente ao mês anterior, em termos nominais. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a retração nominal foi de 2,5%. O valor destas operações realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$ 798,5 bilhões, expansão nominal de 0,6% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 755,3 bilhões, uma diminuição de 5,6% frente a julho de 2015.

O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu em dezembro R$ 1.561,8 bilhão, o que representou, em termos nominais, expansão de 0,1% frente ao mês anterior e expansão de 3,0% frente a julho de 2015. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 731,6 bilhões (aumento nominal de 8,4% sobre o mesmo mês do ano anterior), enquanto que, para pessoas jurídicas, foi de R$ 830,2 bilhões (1,3% menor do que o mês de julho de 2015).

No mês de julho foram concedidos R$ 263,5 bilhões em novas operações de crédito, frente a R$ 300,8 bilhões no mesmo mês do ano passado, uma variação real negativa de 12,4%. Deste volume, R$ 235,2 bilhões foram originados de recursos livres (redução de 11,1% frente ao mesmo mês do ano anterior), sendo que 59,4% em operações junto a pessoas físicas e 40,6% para a pessoas jurídicas.

Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de cartão de crédito (R$ 86,7 bilhões), cheque especial (R$ 28,7 bilhões) e crédito pessoal (R$ 16,7 bilhões). Junto às empresas, as principais modalidades foram conta garantida (R$ 18,7 bilhões), cheque especial (R$ 18,2 bilhões), capital de giro (R$ 13,1 bilhões) e desconto de duplicatas (R$ 9,0 bilhões).

Quanto às concessões com recursos direcionados, a variação real foi de -21,6% frente a julho de 2015, atingindo R$ 28,5 bilhões. Deste montante, 47,6% foram destinados como crédito às famílias e 52,4% destinados a pessoas jurídicas.

Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 5,1 bilhões) e financiamento imobiliário (R$ 6,9 bilhões). Para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$ 4,1 bilhões), BNDES (R$ 7,1 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 1,9 bilhões).

Setores. Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 783,8 bilhões, o que representa uma retração nominal de 2,7% frente a julho de 2015. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 5,1% nesta mesma comparação, atingindo o valor de R$ 433,5 bilhões. O setor agropecuário respondeu por R$ 23,9 bilhões do montante, valor 2,7% menor, em termos nominais, do que o registrado em julho de 2015. O saldo do setor de serviços foi de R$ 743,5 bilhões, redução nominal de 3,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Juros e Inadimplência. A taxa média de juros total atingiu 33,0% a.a. em julho. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 52,7% a.a. (avanço de 8,5 p.p. em relação a julho de 2015): 71,9% para pessoas físicas e 30,4% para pessoas jurídicas. Já no âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 11,5 % a.a. (aumento de 1,4 p.p. frente ao mesmo mês do ano passado): média de 10,6% para pessoas físicas e 12,7% para pessoas jurídicas.

A inadimplência total de maio alcançou 3,6%, um aumento de 0,6 p.p. em relação a julho passado. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência média registrada foi de 5,7% (aumento de 0,9 p.p. frente ao mesmo mês do ano passado): 6,2% para pessoas físicas e 5,2% para pessoas jurídicas. Para os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa média foi de 1,4% (variação de 0,2 p.p. desde julho de 2015): 1,8% para as famílias e 1,1% para empresas.

 

 

 

 

 

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