19 de agosto de 2016

Empresas
Queda da rentabilidade e
menores lucros retidos na indústria


   

 
A economia brasileira enfrenta o segundo ano seguido de recessão. Do ponto de vista do equilíbrio financeiro das empresas não financeiras, observou-se a deterioração dos indicadores de rentabilidade e de endividamento, sob forte influência, depois de 2010, do aumento das despesas financeiras.

A Carta IEDI de hoje analisa os dados sobre distribuição do valor adicionado a partir dos resultados apresentados nos Demonstrativos de Valor Adicionado de 129 empresas industriais selecionadas entre 2013 e 2015. Constata-se, além da queda da rentabilidade, uma perda de capacidade de o setor industrial reter lucros que, em face à conjuntura de profunda incerteza e contração da demanda agregada, resulta na dificuldade das empresas em responder a uma eventual melhora conjuntural do cenário econômico com o aumento dos investimentos.

Entre 2013 e 2015, o valor adicionado total das empresas da amostra permaneceu praticamente estagnado em termos nominais, na faixa de R$ 400 bilhões ao ano com pouca variação anual. O ano de 2015 foi o de maior valor com R$ 417 bilhões e o de menor foi 2014 com R$ 391 bilhões. Notou-se retração nominal significativa do valor adicionado gerado nas atividades ligadas à construção civil, mineração e siderurgia.

Embora o valor agregado total tenha crescido nos demais setores, o aumento da participação de remuneração do capital de terceiros não permitiu folga para o acréscimo dos lucros retidos, pelo contrário, dada a rigidez das demais divisões da distribuição do valor adicionado – gasto com pessoal, tributos e dividendos – os lucros retidos ficaram negativos, como forma de suportar o crescimento das despesas financeiras.

O governo se apropriou da maior parcela do valor adicionado pelo conjunto da indústria. Entre 2013 e 2015, a sua participação foi em média de 41,0% do total. Isto significou um volume de tributos da ordem de R$ 499 bilhões no acumulado do período. Os bancos, por sua vez, vêm logo em seguida, com uma parcela de apropriação do valor adicionado não muito diferente daquela do governo: R$ 443 bilhões ou 36% do total, no acumulado de 2013 a 2015. Já os empregados, em terceiro lugar, ficaram com R$ 297 bilhões do valor adicionado, isto é, 25% do total acumulado no período.

Houve um pequeno acréscimo na participação no valor gasto com pessoal durante o período, concentrado sobretudo no ano de 2015.

A participação dos tributos decaiu durante o período, acompanhando o ritmo da atividade econômica. Vale salientar que antes da queda, a participação dos tributos alcançou cerca de um terço no total do valor adicionado, excluindo a Petrobras da amostra: em 2013, ano de expansão econômica, a indústria destinou R$ 72,5 bilhões para tributos (33,8% do total).

Assim como a participação dos gastos com pessoal, a distribuição de resultados aos acionistas demonstrou também certa estabilidade durante o período, indicando que há certa regularidade na distribuição de resultados apesar das condições da economia.

Nota-se aumento significativo da participação da remuneração do capital de terceiros, sobretudo para o ano de 2015. Excluindo a Petrobras da amostra, a participação salta de 34,7% para 62% entre 2013 e 2015, o que demonstra o impacto do processo de fragilização financeira do setor industrial.

Embora o aumento das despesas financeiras tenha sido disseminado em todos os setores, houve concentração principalmente nos setores de bens intermediários, construção civil e material de construção. O impacto pode ser observado no comportamento dos lucros retidos durante o período, que atingiu no agregado participação negativa em 2015. Este resultado deveu-se exclusivamente a perda contabilizada na Vale da ordem de R$ 40 bilhões. Excluindo-se este valor, as empresas acumularam R$ 4,1 bilhões de lucros retidos com queda nominal de 56,5% em relação a 2014

Destacam-se prejuízos acumulados para um grupo significativo de setores em 2015, principalmente entre os setores de bens intermediários e para a construção civil e material de construção, mas de forma extensa houve a redução contínua dos lucros retidos nos resultados anuais para todos os setores.

A retração dos lucros acumulados impactou a capacidade de investir do setor industrial, que apresentou queda dos investimentos para um conjunto de setores, em especial, novamente bens intermediários, construção civil e material de construção.

A exceção fica por conta dos setores de papel e celulose e siderurgia, entre os bens intermediários, que aumentaram seus investimentos, mas também sua exposição financeira, acumulando, em alguns casos importantes, prejuízos significativos no período.

Excluídas as empresas dos setores de papel e celulose e siderurgia e a Petrobras, a Vale e a JBS, 121 companhias industriais adquiriram ativos imobilizados da ordem de R$ 24,4 bilhões em 2013. De lá para cá, este montante diminuiu para R$ 21 bilhões em 2014 e para R$ 19,5 bilhões em 2015 com queda de 20,1% no período. Dentre as categorias de uso, o pior desempenho foi em bens intermediários com queda de 44,6% entre 2013 e 2015 no agregado sem as empresas dos setores Siderúrgico e de Papel e celulose, a Petrobras e a Vale.

Os dados em conjunto sugerem que o agravamento da situação econômica no país inseriu algumas cadeias produtivas – em especial, bens intermediários, material de construção e construção civil – em um processo de fragilização financeira, em que as receitas operacionais correntes deixaram do cobrir as despesas financeiras.

No caso de não haver um fator de aumento da demanda agregada ou dos preços em alguns setores vinculados ao mercado exterior, o processo de fragilização financeira deverá aumentar devido ao acréscimo dos níveis de endividamento.
   

 
 

 

 

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