9 de agosto de 2016

Comércio Varejista
Ao menos, estabilização das quedas


   

 
O desempenho do varejo neste primeiro semestre de 2016 não é muito animador. A despeito da obtenção de algumas taxas positivas na série com ajuste sazonal, como o módico 0,1% em junho para o varejo restrito, as quedas superam as altas. Se considerarmos o volume de vendas de automóveis e materiais de construção (conceito ampliado), o resultado de -0,2% de junho perfaz a quinta taxa negativa do semestre.

De fato, essa evolução não causa estranhamento já que as forças por detrás do desempenho do varejo, isto é, as condições do emprego, da renda, do crédito e da inflação, não têm contribuído e, ao que parecem, não devem mudar muito nos próximos meses. Isso significa dizer que dificilmente o segundo semestre do ano será muito melhor do que este primeiro.

A leitura mais otimista que é possível fazer dos dados do IBGE é que o ritmo de piora das vendas do comércio restrito se estabilizou, mas isso não quer dizer que as quedas não sejam profundas. Frente ao mesmo período do ano passado, os resultados do último trimestre de 2015 e dos dois primeiros de 2016 foram -6,9%, -7,0% e -7,1%, respectivamente, um sinal de estabilização da taxa de declínio. Desde o início do levantamento do varejo nacional, em 2001, nunca houve uma sucessão de trimestres tão ruins.

Na comparação dos semestres, ainda há deterioração, mas também em um ritmo menos intenso: -2,2%, -6,4% e -7,0%, nos dois semestres de 2015 e neste primeiro de 2016, respectivamente. Em boa medida isso tem sido provocado pela estabilização, ou mesmo moderação, das perdas daqueles segmentos do varejo que foram os primeiros alvos de ajustamento do orçamento das famílias.

O segmento de tecidos, vestuário e calçados, cujas vendas caem sistematicamente desde o segundo trimestre de 2014, ultrapassando a faixa de -10% no final do ano passado, é um desses casos. A retração de 11,1% no primeiro semestre de 2016 ficou praticamente no mesmo nível do segundo semestre de 2015 (-11,5%).

Outro exemplo é o segmento de móveis e eletrodomésticos, muito prejudicado pela contração do crédito e pelo receio das famílias do desemprego. O volume de suas vendas, em retração desde o terceiro trimestre de 2014, atingiu um resultado de -16,7% no último semestre de 2015 e, agora em 2016, de -14,5%. Existe moderação, mas ela é pouco significativa diante desse patamar de queda.

Já as vendas de supermercados, alimentos e bebidas, que pesam bastante no desempenho do varejo, acumularam perdas de 3,2% no último semestre de 2015 e de 3,6% neste primeiro semestre de 2016. A pesar de sua essencialidade, as estratégias das famílias em substituir produtos e marcas por similares mais baratos parecem ter chegado no limite, diante de uma inflação de alimentos que teima a subir acima do IPCA geral. O impacto sobre o volume de vendas do segmento tem sido mais forte ultimamente (-4,4% no segundo trim. de 2016).

O segmento de veículos e autopeças, o primeiro a entrar em crise já no final de 2013, ainda está longe de reverter suas perdas, mas ao menos conseguiu arrefece-las um pouco, ainda que marginalmente: de -19,9% no segundo semestre de 2015 para -13,7% no primeiro de 2016. Isso foi determinante para a desaceleração da queda do comércio varejista no conceito ampliado, de -10,7% para -9,3% nesse mesmo período.

Os demais setores, cujas vendas começaram a cair mais recentemente, ainda estão numa clara trajetória de piora. É o caso de outros artigos de uso pessoal e doméstico, com retração de -5,7% no segundo semestre de 2015 e de -12,3% agora em 2016. Ainda que em menor intensidade, o mesmo vale para equipamentos de escritório e informática (-11,9% e -16,2%, respectivamente), combustíveis (-8,9% e -9,8%), livros, jornais e papelaria (-13,9% e -17,0%) e material de construção (-11,9% e -13,0%).

Mesmo artigos farmacêuticos, ortopédicos e de perfumaria, que mantinham crescimento do volume de vendas, sucumbiram no segundo trimestre de 2016 (-2,0% frente ao mesmo período do ano anterior). Com isso, a alta de 1,1% no segundo semestre de 2015 caiu para apenas 0,2% neste primeiro semestre de 2016.
  

 
Resultados Gerais. Em junho, frente a maio, na série livre de efeitos sazonais divulgada pelo IBGE, o volume de vendas do comércio varejista assinalou pequeno avanço de 0,1%. Na comparação com junho de 2015, o volume de vendas decresceu 5,3%. Por sua vez, a variação acumulada no ano foi de -7,0%. Já na comparação do acumulado em 12 meses, a variação acumulada foi de -6,7%, acentuou o recuo nessa base de comparação verificado no mês anterior.

Setores. Na relação entre junho de 2016 e o mês imediatamente anterior, na série ajustada sazonalmente, a relativa estabilidade (0,1%) do comércio varejista foi observada também nos setores de combustíveis e lubrificantes (-0,1%) móveis e eletrodomésticos (-0,1%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-0,2%). Os setores que pressionaram a taxa negativamente foram: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,4%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,6%). Por outro lado, os setores que assinalaram avanço no volume de vendas foram tecidos, vestuário e calçados (0,7%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (0,8%) e livros, jornais, revistas e papelaria (0,6%). No comércio varejista ampliado, a variação de -0,2% deveu-se a queda de 1,3% de veículos e motos, partes e peças e avanço de 1,3% em material de construção.

Na comparação entre junho 2016 contra junho 2015, o volume das vendas varejistas mostrou queda em todas as atividades, com destaque para: hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,9%), móveis e eletrodomésticos (-9,7%); combustíveis e lubrificantes (-8,9%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (-8,4%). As demais atividades em quedas foram: tecidos, vestuário e calçados (-3,7%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-18,3%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-2,1%) e livros, jornais, revistas e papelaria (-18,3%). O comércio varejista ampliado registrou recuo de 8,4%, devido à queda de veículos, motos, partes e peças (-15,2%) e material de construção (-9,8%).

No índice acumulado no primeiro semestre de 2016, frente a igual período do ano anterior, o volume das vendas no varejo registra queda de -7,0%, devido a queda de todas as atividades, exceto artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (0,2%). As principais influências negativas na formação do resultado global do comércio varejista vieram dos grupamentos de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-17,0%), livros, jornais, revistas e papelaria (-16,2%), móveis e eletrodomésticos (-14,5%), outros artigos de uso pessoal (-12,3%) e tecidos, vestuário e calçados (-11,1%). No varejo ampliado, veículos, motos, partes e peças (-15,2%) e material de construção (-13,0%) registraram queda.

Regiões. Em junho de 2016, 13 das 27 unidades da Federação apresentaram recuo no volume de vendas, na comparação com o mês imediatamente anterior, na série com ajuste sazonal. Os destaques negativos foram: Paraíba (-2,0%), Tocantins e Rio de Janeiro (-1,4%) Santa Catarina (-1,2%), Piauí (-1,1%) e Grande do Norte (-1,0%). Por outro lado, Paraná, com variação de 7,4%, registrou o maior avanço no volume de vendas.

Na comparação com junho de 2015, a queda do volume de vendas no varejo foi registrada em todas as unidades da federação. O destaque ficou para o Amapá (-19,1%) em termos de magnitude, enquanto que em relação à participação na composição da taxa do comércio varejista, destacaram-se Rio de Janeiro (-9,5%) e São Paulo (-1,7%).

 

 

 

 

 

 

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