2 de setembro de 2016

Indústria
Em compasso de espera


  

 
O segundo semestre do ano se inicia sem grande alteração do quadro industrial nos últimos meses, que é de estancamento da crise do setor. Alguns segmentos apresentaram declínio depois de meses seguidos de elevação da produção, refletindo talvez algum ajuste fino dos estoques, enquanto outros segmentos deram novos sinais de que, ao menos na margem, as quedas vão ficando para trás.

O crescimento da produção industrial em julho, frente a junho com ajuste sazonal, foi positivo, mas muito pequeno, de apenas 0,1%, corroborando o cenário de estabilização do setor. Apesar da evolução favorável nos sete meses 2016, responsável por uma alta de 1,6% no período, ainda há muita perda a ser recuperada. Para se ter uma ideia, entre dez/13, início da deterioração mais acentuada da indústria , até dez/15, isto é, antes da etapa atual de moderação, o recuo industrial chegou a 14,2%.

O que há de novo nos dados de julho é uma mudança na composição dos resultados dos macrossetores, mas que não necessariamente indica alterações de suas trajetórias, podendo ser apenas um aspecto pontual.

Este é particularmente o caso da produção de bens de capital, que apresentou, em julho, a primeira retração do ano. Seu resultado foi de -2,7% frente a junho, com ajuste sazonal, depois de ter acumulado alta de 14,7% no primeiro semestre de 2016. Após seguidas variações positivas, não é de se estranhar a obtenção de uma taxa negativa, sobretudo na série com ajuste sazonal, mais sensível a fatores conjunturais.

Outro macrossetor a apresentar retração em julho foi o de bens de consumo semi e não duráveis: -1,9% frente ao mês anterior com ajuste, a despeito do crescimento do ramo alimentício (+2,0%), cuja participação aqui é expressiva. Nos últimos quatro meses, isto é, entre abril e julho, taxas negativas têm preponderado nesse segmento da indústria, em contraste com o que ocorreu no final de 2015 e início de 2016. A piora do emprego e da renda real das famílias, ainda em processo, contribuem para isso, bem como a valorização do câmbio dos últimos meses, já que muitos de seus setores são exportadores.

Quem vinha carecendo de sinais favoráveis, mas que agora voltou a ter mais um mês de expansão da produção foi bens de consumo duráveis. Nos últimos três meses este macrossetor teve resultados positivos seguidos: +6,0% em maio, +2,0 em junho e +3,3% em julho. Dado que suas perdas foram das mais expressivas em 2015, esta trajetória recente é mais do que bem-vinda., embora nem de longe sirvam para neutralizar as perdas anteriores da produção.

Bens intermediários, por sua vez, que vinham claudicando desde o início do ano, também cresceram em julho na série com ajuste sazonal: +1,6%. Esta foi a segunda alta consecutiva (+0,8% em jun/16) e também é um bom sinal.

De forma geral, a indústria parece estar em compasso de espera, enquanto fatores dinamizadores adicionais não entram em operação. Muitos destes fatores dependem da estabilização da crise em outros setores, de forma a reverter o péssimo quadro do emprego e do crédito, por exemplo.

Outros fatores podem ser facilitados pelo poder público, a exemplo do destravamento dos investimentos em infraestrutura, da redução dos juros, em acordo com a convergência das expectativas inflacionárias, do estancamento da valorização do câmbio e da restauração do Reintegra, para reduzir as distorções da estrutura tributária e ampliar a competitividade do produto nacional.
   

 
Resultados Gerais. Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial apontou variação positiva de 0,1% frente ao mês imediatamente anterior em julho de 2016. Frente a igual mês do ano anterior, o setor industrial mostrou queda na produção (-6,6%), 29ª taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação. O índice acumulado nos últimos sete meses do ano registrou queda de 8,7%. Nos últimos 12 meses, a taxa recuou 9,6%, mantendo a trajetória descendente.

Categorias de Uso. Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, bens de consumo duráveis (3,3%) registrou a variação positiva mais expressiva em julho de 2016, seguido pelo setor produtor de bens intermediários (1,6%). Os setores de bens de capital (-2,7%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-1,9%) assinalaram resultados negativos em julho de 2016.

No confronto com igual mês do ano anterior, bens de consumo duráveis (-16,2%) e bens de capital (-11,9%) representaram as quedas mais acentuadas, acima da média nacional (-6,6%). Na primeira categoria, o destaque negativo ficou para os segmentos de bens de capital para fins industriais (-16,2%) e para equipamentos de transporte (-11,9%), enquanto que a categoria dos bens de consumo duráveis teve como maior influência negativa os segmentos produtores de automóveis (-16,4%) e de eletrodomésticos da linha marrom (-17,3%). Os setores produtores de bens de consumo semi e não-duráveis (-6,3%) e de bens intermediários (-5,0%) também mostraram resultados negativos.

No acumulado dos sete primeiros meses de 2016, bens de consumo duráveis (-21,4%) e bens de capital (-18,5%) apresentaram menor dinamismo, pressionadas especialmente pela redução na fabricação de automóveis (-20,9%) e de eletrodomésticos (-22,8%), na primeira, e de bens de capital para equipamentos de transporte (-18,9%), na segunda. Os segmentos de bens intermediários (-8,3%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (-2,9%) também assinalaram taxas negativas.

Setores. A alta de 0,1% da atividade industrial na passagem de junho para julho alcançou 11 dos 24 ramos pesquisados. Entre as atividades, as principais influências negativas foram registradas por produtos alimentícios (2,0%), indústrias extrativas (1,6%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (5,8%), metalurgia (1,6%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (0,4%) e produtos de borracha e de material plástico (1,3%). Entre os treze setores que assinalaram queda da produção, podemos destacar: perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,8%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-7,3%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-1,7%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-6,0%), produtos do fumo (-15,1%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-2,4%) e outros produtos químicos (-3,2%).

Na comparação com igual mês do ano anterior, o setor industrial mostrou queda em julho de 2016 (-6,6%), com recuo em 22 dos 26 setores. Coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-10,7%), indústrias extrativas (-9,9%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-13,8%) exerceram as maiores influências negativas. A atividade de produtos alimentícios (5,4%), por sua vez, exerceu a principal pressão positiva nesse mês, impulsionada pelos avanços na produção de açúcar cristal e VHP.

No índice acumulado para os sete meses de 2016, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou queda de 8,7%, impulsionado pelo desempenho principalmente dos setores produtores de indústrias extrativas (-13,4%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-20,2%), seguidos por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-6,7%), máquinas e equipamentos (-15,6%), metalurgia (-10,3%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-25,7%), produtos de metal (-13,5%), produtos de minerais não-metálicos (-11,5%), outros equipamentos de transporte (-22,0%), produtos de borracha e de material plástico (-10,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-11,2%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-10,3%) e móveis (-15,2%). Dentre as duas atividades que cresceram em 2016, as principais influências foram em produtos alimentícios (2,6%) e celulose, papel e produtos de papel (1,8%).

 

 

 

 

 

 

 

 

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