1º de agosto de 2016

Balança Comercial
A indústria – quem diria –
é a matriz do ajuste


   

 
O ajuste externo da economia brasileira tem sido exemplar. O comércio exterior acumula superávit de US$ 23,6 bilhões no primeiro semestre de 2016. Isto se deve ao extraordinário declínio do déficit da indústria de transformação. Se é verdade que a queda das importações continua a principal responsável por essa evolução, as exportações já reagem em certos setores industriais, contribuindo também para que alguns deles voltem a ter saldo positivo.

A Carta IEDI a ser divulgada hoje analisa justamente o comércio exterior dos produtos manufaturados no primeiro semestre de 2016, cujo déficit neste período (US$ 2,8 bilhões) foi algo como somente 10% daquele visto no primeiro semestre de 2015 (US$ 23,5 bilhões).

Isso significou uma contribuição da indústria de transformação de US$ 20,7 bilhões para o crescimento de US$ 21,4 bilhões do superávit total da balança comercial do país (97%!) entre o primeiro semestre de 2015 e o de 2016. O restante, US$ 0,7 bilhão, foi a contribuição de outros produtos (principalmente commodities agrícolas e minerais).

Como em outras oportunidades, recorremos à metodologia da OCDE para agrupar os setores industriais segundo quatro faixas de intensidade tecnológica: alta, média-alta, média-baixa e baixa. Em todas as faixas, as importações continuaram em forte retração na primeira metade de 2016, superior a -20% frente ao mesmo período 2015. As exportações, por sua vez, cresceram em três das quatro faixas, situação radicalmente distinta daquela da primeira metade do ano passado, quando apenas as exportações de alta intensidade tecnológica cresciam. Com isso, duas faixas foram superavitárias do primeiro semestre do ano e os déficits das outras duas caíram mais de 30% frente ao mesmo período de 2015.

Apresentamos a seguir os aspectos mais marcantes da evolução recente do comércio exterior de cada uma das faixas de intensidade tecnológica.

Os setores industriais de alta intensidade tecnológica, como lhes é característico, apresentaram déficit no acumulado de 2016 até junho (US$ 8,9 bilhões), mas muito menor do que aquele em igual período de 2015 (US$ 13,2 bilhões). Isso decorreu de uma queda de 23,0% das importações e do crescimento de 6,0% das exportações, ensejadas, principalmente, pelo excepcional aumento das vendas externas do setor aeronáutico e espacial (+16,3%) e de materiais de escritório e informática (+23,8%).

A mesma tendência foi seguida pela faixa de média-alta intensidade tecnológica, que continua apresentando saldo negativo, mas em um patamar muito menor na primeira metade de 2016: US$ 14,4 bilhões contra US$ 23,5 bilhões no mesmo período de 2015. Pesou muito nesse resultado a obtenção de superávit da indústria automobilística (US$ 349 milhões), algo que não ocorria desde 2009, quando a crise global atingiu o Brasil.

De fato, as exportações da indústria automobilística cresceram 3,7% frente ao primeiro semestre de 2015, sendo acompanhada por outros setores que compõem a faixa de média-alta intensidade, como máquinas e equipamentos (+5,3%) e material de transporte (+75,8%). A queda das importações foi forte em máquinas e equipamentos elétricos (-25,4%), veículos (-35,0%) e material de transporte (-43,3%). As importações totais da faixa média-alta caíram 23,4%.

Apesar da expressiva redução dos déficits dessas duas faixas, é pouco provável que possamos obter em breve uma inversão do sinal de sua balança, já que apenas em 1989 as indústrias de alta e média-alta intensidade tecnológica, juntas, conseguiram obter resultado superavitário. Ainda assim, devem continuar contribuindo para a melhora do comércio exterior de manufaturados.

Já a faixa de média-baixa intensidade tecnológica, depois de seis anos seguidos acumulando déficits nos respectivos primeiros semestres, obteve superávit em 2016 (US$ 1,9 bilhão). Neste caso, foi decisiva a redução de 35,6% das importações, uma vez que suas exportações também caíram (-9,7%). Esta foi a única faixa a exportar menos em 2016 frente a 2015.

Devido a seu peso, dois setores condicionaram tal comportamento da média-baixa tecnologia: petróleo e seus derivados, ainda deficitários, mas cujas importações caíram 41,0% no primeiro semestre de 2016, e produtos metálicos que, a despeito de se conservarem superavitários, tiveram queda de 10,1% nas exportações, revertendo o crescimento de 6,4% no primeiro semestre de 2015 frente a igual período do ano anterior.

Por fim, a faixa de baixa intensidade tecnológica – tradicional fonte de saldos comerciais da indústria – continuou gerando superávit (US$ 18,6 bilhões) no primeiro semestre de 2016, mas apenas um pouco melhor do que aquele acumulado no mesmo período de 2015 (US$ 15,9 bilhões). Seu principal setor, alimentos, bebidas e fumo, conseguiu ampliar suas vendas externas em 2,2%, depois de ter apresentado queda nos primeiros semestres tanto de 2015 como de 2014. Já a importação desses produtos caiu em 2016 (-15,2%) mais do que em 2015 (-10,3%).

É o setor de têxteis, couro e calçados quem chama mais atenção na faixa de menor intensidade tecnológica, pois conseguiu reverter o período de déficit de 2011 a 2015, retomando o perfil superavitário que caracterizou o primeiro semestre de todos os anos entre 1989 e 2010. Na primeira metade de 2016, o saldo foi positivo em US$ 24 milhões, devido a uma contração de nada menos que 41,5% de suas importações. Aqui, a substituição de importações aparece com toda nitidez.

Pode-se creditar à recessão econômica uma contribuição importante para a melhoria da balança comercial de manufaturas, ao reduzir as compras externas desses bens. Porém, é inconteste que o patamar mais competitivo da taxa de câmbio vem estimulando a substituição de importação e favorecendo a ampliação das exportações.

A contar pelo primeiro semestre do ano, é possível que voltemos ainda este ano a ter crescimento das exportações de bens industriais como um todo, dado que esta já é a realidade para alguns setores. Diante de importações em queda, caminhamos claramente para um resultado positivo do saldo comercial da indústria. O principal risco de isso não acontecer vem da taxa de câmbio, que em junho já apresentava uma apreciação nominal de 20% frente a janeiro de 2016.
  

  

 

 


 

Leia outras edições de Análise IEDI na seção Economia e Indústria do site do IEDI


Leia no site do IEDI: O Cúmulo da Cumulatividade Tributária - Estudo sobre a cumulatividade de impostos no Brasil, um problema que aparece quando os tributos pagos na compra de bens e serviços necessários à produção não são recuperados pelo produtor quando completa a produção e o produto é vendido.