29 de julho de 2016

Emprego
As mudanças do segundo trimestre


   

 
A situação do emprego continua se agravando em 2016, ainda que, depois da piora substantiva da taxa de desemprego na passagem do último trimestre de 2015 (9,0%) para o primeiro deste ano (10,9%), tenha ocorrido algum arrefecimento do ritmo de deterioração. A taxa no segundo trimestre ficou em 11,3%.

Isso significa que o contingente de desocupados no país avançou para 11,6 milhões, uma alta de 3,2 milhões de pessoas frente ao segundo trimestre de 2015. Como já apontamos em outras Análises, os dois motores de aumento do desemprego estão em operação em 2016, a saber, o crescimento do número de pessoas em busca de trabalho (+1,8 milhão) e o corte de postos de trabalho (-1,4 milhão).

Entretanto, o que os dados divulgados hoje pelo IBGE mais revelam é uma mudança no mapa do desemprego neste segundo trimestre. Isso pode ser visto na evolução tanto dos diferentes tipos de ocupação como dos distintos setores da economia.

Do ponto de vista da posição na ocupação, o trabalho com carteira assinada continua liderando o fechamento de vagas: -1,5 milhão frente ao segundo de trimestre de 2015. Parte desse contingente que perdeu seus empregos tem migrado para ocupações por conta própria, que incluem os chamados “bicos”, mas o dado novo é que este papel compensatório dos trabalhadores por conta própria perdeu força. Se no primeiro trimestre de 2016, o contingente nessa ocupação aumentou 1,4 milhão, no segundo trimestre o crescimento caiu para 857 mil.

Outros tipos de ocupação que tem aumentado estão no rol daquelas de menor qualidade, apresentando rendimentos menores. É o caso de serviços domésticos, com alta de 225 mil postos, e serviços sem carteira assinada, que nos últimos anos estava em declínio, mas que empregou 16 mil pessoas a mais no segundo trimestre de 2016 contra o mesmo período do ano passado.

Do ponto de vista setorial, a indústria parece ter moderado o ritmo de fechamento de vagas no segundo trimestre do ano, mesmo que ainda seja o setor que mais desemprega. No primeiro trimestre fechou 1,5 milhão de vaga e agora no segundo trimestre, 1,4 milhão, sempre em relação ao mesmo período do ano passado. Mas que fique claro, a situação do emprego industrial permanece muito grave.

Um dos fatos novos é que o setor de serviços qualificados (de comunicação, financeiros, imobiliários e profissionais) tem se aproximado muito do nível da indústria em termos de fechamento de vagas, saltando de -656 mil para -1,1 milhão entre o primeiro e o segundo trimestre de 2016 frente a iguais períodos de 2015. Outro fato novo é que mesmo o emprego no comércio, que estava resistindo, também sucumbiu e teve queda de 173 mil vagas no segundo trimestre.

Continuam compensando parcialmente essas quedas, os setores de transporte (+213 mil postos), alojamento e alimentação (+163 mil), administração pública, defesa e serviços sociais (+481 mil) e serviços domésticos (+317 mil). Chama atenção também o fato de a construção civil, que desempregava no início do ano, tenha voltado a ampliar vagas (+277 mil), o que pode estar associado com o aumento do trabalho sem carteira assinada visto acima.
  

 
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação alcançou 11,3% no segundo trimestre de 2016, 3,0 p.p. maior que a taxa observada no mesmo trimestre do ano passado (8,3%). No trimestre móvel anterior sem sobreposição (janeiro março), a taxa observada foi de 10,9%.

O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 1.972,00, o que representou redução de 1,5% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e variação de -4,2% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior. Já o rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido alcançou R$ 1.921,00, que corresponde a uma retração de 1,4% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de 3,9% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.

A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 174,7 bilhões, variação de -1,1% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de –4,9% sobre o mesmo trimestre de 2015.

No trimestre de referência, a população ocupada manteve-se estável em 90,8 milhões de pessoas frente ao primeiro trimestre do ano. Contudo, sobre o mesmo trimestre de 2015, a variação foi de -1,5%. Na mesma comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 1,8% atingindo 102,4 milhões de pessoas, enquanto que o número de desocupados aumentou 38,7%, o que representa 11,6 milhões de pessoas.

Frente ao mesmo trimestre de 2015, o número de pessoas ocupadas dentre as posições de ocupação apresentou crescimento nas categorias trabalhador por conta própria (3,9%) trabalhador doméstico (3,7%) e trabalhador privado sem carteira (0,2%). As demais tiveram retração: setor público (-1,3%), trabalho privado com carteira (-4,1%), empregador (-7,3%) e trabalhador familiar auxiliar (-21,4%).

Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre março e maio de 2015, estão: serviços domésticos (5,3%), transporte, armazenagem e correios (5,0%), construção (3,9%), alojamento e alimentação (3,8%) e administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (3,1%). Dentre os setores que tiveram retração da população ocupada, estão: outros serviços (-0,5%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-1,0%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-1,5%), informação, comunicação e atividades financeiras imobiliárias, profissionais e administrativas (-10,0%) e indústria (-11,0%).

 

 

 

 

 

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