27 de julho de 2016

Crédito
Um primeiro recuo da inadimplência


   

 
Os dados divulgados hoje pelo Banco Central mostram que a situação do crédito no país continua muito complicada. Mas também trouxeram uma boa notícia, qual seja, a redução da inadimplência tanto das famílias (-0,3 p.p.) como das empresas (-0,2 p.p.) depois de meses de elevação.

Esse comportamento pode vir a ser muito positivo caso se configure como o início de uma tendência de queda, já que abriria a possibilidade de uma redução dos spreads e consequentemente das taxas de juros dos empréstimos, a ser potencializada pelo possível início de uma fase de declínio da Selic.

Por enquanto, a menor inadimplência não pode, infelizmente, ser diretamente associada a uma melhora das condições financeiras dos agentes, especialmente das empresas, cujos negócios ainda estão muito deprimidos. É mais provável que seja resultado do esforço dos bancos em renegociar antecipadamente as dívidas de clientes às portas da inadimplência, bem como do longo e forte racionamento do crédito, a excluir os tomadores com histórico de atraso de pagamentos.

Esses dois processos, renegociação e racionamento do crédito, ainda estão em operação. Evidência disso é que o declínio das concessões continua, também sob influência da baixa demanda de crédito devido ao ambiente econômico recessivo. Em termos reais, as concessões totais de crédito no primeiro semestre de 2016 apresentaram uma contração de 8,3%, bastante superior ao declínio visto no ano de 2015 como um todo (-3,6%).

Além da contração dos volumes, a piora do crédito também tem se expressado em outros indicadores: em termos médios para o total das concessões, os prazos encolheram e as taxas de juros nominais subiram, de 27,5% a.a. para 32,6% a.a. entre jun/15 e jun/16, devido não apenas ao encarecimento do funding dos bancos, por causa da elevação da Selic, mas também pela ampliação dos spreads (de 17,7 p.p. para 22,7 p.p. entre jun/15 e jun/16).

A separação entre o crédito livremente pactuado entre as partes e o crédito direcionado mostra, como esta Análise vem frisando com frequência, que o papel anticíclico que se poderia esperar deste último perdeu-se na crise atual.

No primeiro semestre de 2016, em termos reais, o declínio das concessões de crédito direcionado continuou se aprofundando: chegou a -22,4%, depois de ter fechado 2015 em -19,2%. É o crédito às empresas que mais tem caído no acumulado desses seis meses do ano (-28,3%), ainda que as concessões às famílias também estejam em um ritmo de retração expressivo (-15,6%).

As concessões do crédito livre, por sua vez, declinaram em termos reais 6,4% no primeiro semestre de 2016, sendo que tinham caído apenas 1,1% em 2015. Aqui novamente são as concessões às empresas que registraram o pior desempenho na primeira metade de 2016 (-10,9%, em termos reais). O crédito às famílias, que garante margens importantes aos bancos, caíram menos, apenas 2,6% no mesmo período.
 

 
Resultados Gerais. Os dados de crédito, divulgados hoje pelo Banco Central, indicaram que o saldo das operações alcançou R$ 3.130 bilhões em junho, que corresponde a uma participação no PIB de 51,9%. As operações de crédito realizadas a partir de recursos livres responderam por 26,0% do PIB e a parcela com recursos direcionados, por 25,9% do PIB.

A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.569 bilhões, o que representou uma retração de 0,7% frente ao mês anterior, em termos nominais. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a retração nominal foi de 1,7%. O valor destas operações realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$ 799,6 bilhões, expansão nominal de 1,0% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 769,8 bilhões, uma diminuição de 4,3% frente a junho de 2015.

O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu em dezembro R$ 1.560,0 bilhão, o que representou, em termos nominais, retração de 0,4% frente ao mês anterior e expansão de 3,7% frente a junho de 2015. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 730,5 bilhões (aumento nominal de 8,7% sobre o mesmo mês do ano anterior), enquanto que, para pessoas jurídicas, foi de R$ 830,4 bilhões (0,3% menor do que o mês de junho de 2015).

No mês de junho foram concedidos R$ 297,2 bilhões em novas operações de crédito, frente a R$ 319,7 bilhões no mesmo mês do ano passado, uma variação real negativa de 7,0%. Deste volume, R$ 259,5 bilhões foram originados de recursos livres (redução de 6,7% frente ao mesmo mês do ano anterior), sendo que 54,8% em operações junto a pessoas físicas e 45,2% para a pessoas jurídicas.

Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de cartão de crédito (R$ 87,6 bilhões), cheque especial (R$ 30,4 bilhões) e crédito pessoal (R$ 18,2 bilhões). Junto às empresas, as principais modalidades foram conta garantida (R$ 19,6 bilhões), cheque especial (R$ 19,4 bilhões), capital de giro (R$ 17,7 bilhões) e desconto de duplicatas (R$ 11,0 bilhões).

Quanto às concessões com recursos direcionados, a variação real foi de -9,4% frente a junho de 2015, atingindo R$ 37,6 bilhões. Deste montante, 48,8% foram destinados como crédito às famílias e 51,2% destinados a pessoas jurídicas.

Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 9,0 bilhões) e financiamento imobiliário (R$ 7,5 bilhões). Para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$ 7,9 bilhões), BNDES (R$ 6,8 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 2,8 bilhões).

Setores. Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 789,8 bilhões, o que representa uma retração nominal de 1,6% frente a junho de 2015. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 4,2% nesta mesma comparação, atingindo o valor de R$ 436,4 bilhões. O setor agropecuário respondeu por R$ 23,6 bilhões do montante, valor 2,9% menor, em termos nominais, do que o registrado em junho de 2015. O saldo do setor de serviços foi de R$ 752,6 bilhões, redução nominal de 2,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Juros e Inadimplência. A taxa média de juros total atingiu 32,6% a.a. em maio. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 52,2% a.a. (avanço de 8,9 p.p. em relação a junho de 2015): 71,4% para pessoas físicas e 30,3% para pessoas jurídicas. Já no âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 11,0 % a.a. (aumento de 1,7 p.p. frente ao mesmo mês do ano passado): média de 10,5% para pessoas físicas e 11,7% para pessoas jurídicas.

A inadimplência total de maio alcançou 3,5%, um aumento de 0,6 p.p. em relação a junho passado. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência média registrada foi de 5,6% (aumento de 1,0 p.p. frente ao mesmo mês do ano passado): 6,1% para pessoas físicas e 5,1% para pessoas jurídicas. Para os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa média foi de 1,4% (variação de 0,3 p.p. desde junho de 2015): 1,7% para as famílias e 1,1% para empresas.

 

 

 

 

 

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