1º de julho de 2016

Indústria
Não é tão bom assim


  

 
Em 2016, a indústria brasileira vem caminhando em terreno movediço. É certo que não há nisso nada para se comemorar, mas já é alguma coisa não estarmos mais vendo uma espiral de agravamento ininterrupta de sua recessão como a de 2015.

É esse o quadro que a alternância de taxas positivas e negativas da produção industrial, que prevalece desde janeiro do presente ano, sugere. Em maio frente a abril com ajuste sazonal a indústria geral ficou estagnada, depois de dois meses consecutivos de crescimento modesto. No caso da indústria de transformação, ainda que pequena, houve queda de 0,6% neste mesmo mês, denotando que o resultado de maio não é tão bom assim.

Com isso, a evolução na margem da indústria em 2016 tem sido a seguinte: 3 meses de alta, 1 mês de queda e 1 mês de estagnação. Em 2015, foram 11 meses seguidos de queda na série com ajuste sazonal. É clara, portanto, a existência de uma ruptura da trajetória industrial na passagem de 2015 para 2016.

Tal ruptura tem sido acompanhada por resultados dos macrossetores que apontam em direções diferentes entre si. O melhor desempenho tem sido, sem sombra de dúvida, do setor de bens de capital, que em 2016 só apresentou variações positivas na série com ajuste sazonal. Em maio, a produção desses bens cresceu 1,5% frente abril, com ajuste. Em consequência, a queda frente ao mesmo período do ano anterior tem refluído de -31,8% em dez/15 para -11,4% em mai/16.

Bens intermediários e bens de consumo semi e não duráveis acompanham, a seu turno, o comportamento da indústria geral alternando meses de alta e de queda da produção. Em maio, caíram respectivamente 0,7% e 1,4% frente a abril, com dados já ajustados. No último caso, contou muito a queda de 7,4% da indústria alimentícia, devido ao adiantamento da moagem de cana em abril.

A situação que continua bastante difícil é a do setor de bens de consumo durável, onde as variações negativas ainda prevalecem. O forte crescimento de 5,6% em maio frente a abril, livre de efeitos sazonais, deve ser interpretado com cautela, já que pode muito bem consistir em um dado pontual, associado à reconstituição de estoques, por exemplo. Emprego, renda e crédito continuam jogando contra o desempenho do setor.

Se o diagnóstico de que a indústria busca seu fundo de poço continua pertinente, a questão que fica é saber por quanto tempo ela ficará presa nele. Os desenvolvimentos recentes do cenário internacional e as incertezas que ainda pesam no âmbito doméstico, vindas sobretudo da política e da política econômica, tornam difícil uma resposta precisa para essa questão.

O que parece certo é que os episódios recentes de valorização do câmbio majoram os riscos de a indústria permanecer no fundo do poço mais tempo do que o desejável, ou pior, sofrer mais uma rodada de aprofundamento das perdas.
   

 
Resultados Gerais. Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial de maio não registrou variação frente a abril na série livre de influências sazonais, após ter apresentado alta de 1,4% no mês anterior. Na comparação com maio de 2015, a indústria assinalou queda de 7,8%. Dessa forma, a indústria acumulou decréscimo de 9,8% nos primeiros cinco meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2015. O indicador acumulado dos últimos doze meses frente a igual período imediatamente anterior apresentou variação negativa de 9,5%.

Categorias de Uso. Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, duas registraram variação positiva: bens de consumo duráveis ( 5,6%) e bens de capital (1,5%). Por outro lado, os setores produtores de bens de consumo semi e não-duráveis (-1,4%) e de bens intermediários (-0,7%) assinalaram taxas negativas em maio de 2016.

Na comparação com igual mês do ano anterior, todas categorias apresentaram taxas negativas: bens de consumo duráveis (-17,4%), bens de capital (-11,4%), bens intermediários (-8,1%) e bens de consumo semi e não-duráveis (-2,1%).

No acumulado do ano, todas as categorias de uso registraram quedas na produção física: bens de consumo duráveis (-24,7%), bens de capital (-23,0%), bens intermediários (-9,2%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (-2,4%).

Setores. A estabilidade do índice da indústria entre abril e maio foi resultado do crescimento de 12 dos 24 ramos pesquisados, com destaque para veículos automotores, reboques e carrocerias (4,8%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (3,6%), indústrias extrativas (1,4%), metalurgia (3,4%), outros equipamentos de transporte (9,5%), bebidas (2,2%), celulose, papel e produtos de papel (2,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (4,3%) e produtos de borracha e de material plástico (2,0%). Por outro lado, os destaques negativos vieram de produtos alimentícios (-7,0%) e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-8,2%).

Na comparação com maio de 2015, a produção industrial mostrou queda de 7,8%, influenciada pelo recuo da produção de 21 dos 26 ramos pesquisados. Vale citar que maio de 2016 (21 dias) teve um dia útil a mais do que igual mês do ano anterior (20). Coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-13,4%), indústrias extrativas (-11,9%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-15,8%) exerceram as maiores influências negativas, seguidas de metalurgia (-10,3%), de produtos de minerais não-metálicos (-12,4%), de produtos de metal (-12,1%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-17,5%), de máquinas e equipamentos (-7,1%), de outros equipamentos de transporte (-18,3%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-12,3%), de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-17,4%), de produtos do fumo (-28,7%), de produtos de borracha e de material plástico (-6,4%), de produtos diversos (-17,7%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-8,0%) e de móveis (-16,9%). Por outro lado, as atividades de produtos alimentícios (3,8%), celulose, papel e produtos de papel (4,8%) e bebidas (4,4%) assinalaram as altas de maio de 2016.

No índice acumulado para o período janeiro-maio de 2016, frente a igual período do ano anterior, o setor industrial mostrou queda de 9,8%, com recuo em 23 dos 26 ramos. Entre os setores, o principal impacto negativo foi observado em veículos automotores, reboques e carrocerias (-24,2%), indústrias extrativas (-14,4%), máquinas e equipamentos (-18,3%), metalurgia (-13,4%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-29,8%), produtos de metal (-15,6%), produtos de borracha e material plástico (-12,8%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-4,2%), produtos de minerais não-metálicos (-12,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-15,0%), outros equipamentos de transporte (-22,9%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-11,6%), produtos têxteis (-13,0%), móveis (-15,8%) e outros produtos químicos (-3,2%). Por outro lado, as três atividades que ampliaram a produção foram: produtos alimentícios (2,7%), celulose, papel e produtos de papel (3,1%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (2,4%).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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