29 de junho de 2016

Emprego
Indústria e qualidade do emprego


   

 
O número de desempregados no Brasil chegou a 11,4 milhões de pessoas no trimestre findo em maio de 2016, levando a taxa de desocupação para 11,2%, a maior dos últimos quatro anos segundo a Pnad Contínua.

Para entendermos essa evolução do desemprego é preciso levar em conta duas dinâmicas: por um lado, o aumento do número de pessoas à procura de emprego e, por outro lado, o fechamento de postos de trabalho.

A primeira dessas dinâmicas, ou seja, a entrada de pessoas adicionais no mercado de trabalho, é captada pela expansão da força de trabalho. No trimestre findo em maio, foram 2,03 milhões a mais de demandantes de emprego em comparação com o mesmo período do ano passado, configurando uma alta de 2,0%.

Já a redução de postos de trabalho é expressa na queda da população ocupada. De fato, em relação ao mesmo período do ano passado, foi 1,25 milhão de postos a menos no trimestre findo em maio. Isso representa uma retração de 1,4% do número de ocupados em um ano.

Mais pessoas buscando emprego e redução do contingente de ocupados marcam o atual quadro do emprego no país. Há ainda uma outra característica a destacar que diz respeito a onde estão sendo fechados esses postos de trabalho.

Os dados deixam claro que foi o emprego formal quem mais perdeu com a crise. É o que mostra a redução da ocupação com carteira assinada da ordem de 1,52 milhão de pessoas na comparação do trimestre findo em maio de 2016 com o mesmo período do ano passado, representando uma queda de 4,2%.

Isso se deu porque os empregos com carteira assinada são mais caros e porque estão mais associados ao setor da economia que é o epicentro da crise atual, o setor industrial. Não há dúvida de que é a indústria que lidera disparado a queda do emprego: 1,4 milhão a menos de ocupados nesse setor entre o trimestre findo em maio de 2016 e o mesmo período de 2015. Isso significou um declínio de 10,7%.

Outros setores onde também há grande formalização seguiram a mesma tendência da indústria, mas de maneira menos intensa. É o caso dos serviços de informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas que, em seu todo, fechou 919 mil postos de trabalho no trimestre findo em maio frente ao mesmo período do ano passado (-8,6%).

Em contrapartida, os setores que conseguiram aumentar o número de ocupados foram justamente aqueles que, tradicionalmente, comportam empregos informais e por conta própria, isto é, os conhecidos “bicos”.

Encaixam-se nessa situação os serviços domésticos (+390 mil ocupados ou +6,5% frente a mar-abr-mai/2015), o setor de transporte, armazenagem e correios (+236 mil ocupados ou +5,5%), alojamento e alimentação (+180 mil ocupados ou +4,1%) e construção (+164 mil ocupados ou +2,2%).

No setor do comércio e reparação de veículos, houve uma pequena queda de 80 mil ocupados (-0,5%) no trimestre findo em maio de 2016 frente ao mesmo período de 2015. Isso ocorre, muito provavelmente, porque há uma compensação interna ao próprio setor da redução do emprego nos segmentos mais formalizados pela expansão de atividades informais.

Disso podemos concluir que, além do expressivo aumento do desemprego, o mercado de trabalho vem sofrendo, nos últimos meses, uma clara deterioração da qualidade da ocupação no país, fato que tem uma relação direta com a crise e muito especialmente com a crise industrial.
  

 
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação permaneceu em 11,2% no trimestre encerrado em maio de 2016, 3,1 p.p. maior que a taxa observada no mesmo trimestre do ano passado (8,1%). No trimestre móvel anterior sem sobreposição (dezembro de 2015 a fevereiro de 2016), a taxa foi de 10,2%.

O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 1.982,00, o que representou aumento de 0,5% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e variação de -2,7% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior. Já o rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido alcançou R$ 1.930,00, que corresponde a uma expansão de 0,4% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e retração de 2,5% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.

A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 175,6 bilhões, variação de 0,5% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de -3,3% sobre o mesmo trimestre de 2015.

No trimestre de referência, a população ocupada alcançou 90,8 milhões de pessoas, o que representou redução de 1,4% frente ao mesmo trimestre do ano anterior. Na mesma comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 2,0% atingindo 102,2 milhões de pessoas e o número de desocupados aumentou 40,2%, o que representa 11,4 milhões de pessoas.

Frente ao mesmo trimestre de 2015, o número de pessoas ocupadas dentre as posições de ocupação apresentou crescimento nas categorias trabalhador doméstico (5,1%) e trabalhador por conta própria (4,3%). As demais tiveram retração: trabalho privado sem carteira (-0,1%), setor público (-2,2%), trabalho privado com carteira (-4,2%), empregador (-5,2%) e trabalho auxiliar familiar (-19,8%).

Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre março e maio de 2015, estão: serviços domésticos (6,5%), transporte, armazenagem e correios (5,5%), alojamento e alimentação (4,1%), administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (2,5%) e construção (2,2%). Dentre os setores que tiveram retração da população ocupada, estão: comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-0,5%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-1,3%), outros serviços (-1,6%), informação, comunicação e atividades financeiras imobiliárias, profissionais e administrativas (-8,6%) e indústria (-10,7%).

 

 

 

 

 

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