27 de junho de 2016

Crédito
A deterioração do crédito
às empresas e às famílias


   

 
A evolução do crédito continua sendo um componente importante da grave situação econômica do país. Não apresentando sinais de uma inflexão, a trajetória das concessões creditícias ainda é marcada por expressivas contrações, enquanto os juros permanecem em elevação.

Em maio, a queda do total das concessões reais de crédito foi de -5,4% frente ao mesmo mês do ano anterior. Com isso, o resultado acumulado de janeiro a maio de 2016 chegou a -8,5%, também em termos reais. Por sua vez, as taxas médias de juros nominais atingiram 32,7% ao ano (+5,6 p.p. frente a maio de 2015).

Cabe notar que essa deterioração do mercado de crédito em 2016 tem tido características distintas para as empresas e para as famílias. Para o setor empresarial, a piora do crédito vem se dando sobretudo pela contração das concessões. Já para as famílias, são os juros cada vez mais elevados que chamam atenção.

A menor demanda por crédito devido ao ambiente econômico recessivo e a preocupação dos bancos frente ao aumento da inadimplência das empresas levaram à expressiva queda -13,0% das concessões reais de crédito corporativo no acumulado do ano até maio. A seu turno, os juros médios pagos nesses empréstimos passaram, em termos nominais, de 20,7% a.a., em dezembro do ano passado, para 21,9% a.a. em maio de 2016 (+1,2 p.p.).

No crédito às famílias, a retração demorou mais para ocorrer, piorando sobretudo a partir do último trimestre de 2015. Em 2016, suas concessões reais caíram 4,7% até maio, frente ao mesmo período do ano passado. Os juros cobrados nessas operações seguem, contudo, em franca escalada, passando de 37,9% a.a., em termos nominais, para 42,0% a.a. entre dez/15 e mai/16 (+4,1 p.p.).

Por essa razão, as margens brutas dos bancos no crédito às pessoas físicas, que já são elevadas, continuaram subindo. Em termos nominais, entre dezembro do ano passado e maio deste ano passaram de 26,6 p.p. para 32,0 p.p. (+5,4 p.p.). No crédito corporativo, a alta foi menor: de 9,7 p.p. para 12,2 p.p. (+2,5 p.p.) no mesmo período.

Essa evolução é explicada apenas parcialmente pela evolução da inadimplência, já que esta tem afetado mais as empresas do que as famílias nos últimos meses. Entre dezembro de 2016 e maio de 2016, a inadimplência no crédito à pessoa física subiu 0,1 p.p. (de 4,2% para 4,3%, respectivamente), enquanto a subida da inadimplência do crédito corporativo chegou a 0,6 p.p. (de 2,6% para 3,2%, respectivamente).
 

 
Resultados Gerais. Os dados de crédito, divulgados hoje pelo Banco Central, indicaram que o saldo das operações alcançou R$ 3.145 bilhões em maio, que corresponde a uma participação no PIB de 52,4%. As operações de crédito realizadas a partir de recursos livres responderam por 26,3% do PIB e a parcela com recursos direcionados, por 26,1% do PIB.

A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.580 bilhões, o que representou uma expansão de 0,2% frente ao mês anterior, em termos nominais. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a retração nominal foi de 0,2%. O valor destas operações realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$ 800,0 bilhões, expansão nominal de 1,4% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 779,7 bilhões, uma diminuição de 1,9% frente a maio de 2015.

O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu em dezembro R$ 1.565,0 bilhão, o que representou, em termos nominais, expansão mínima de 0,1% frente ao mês anterior e expansão de 4,4% frente a maio de 2015. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 725,5 bilhões (aumento nominal de 8,9% sobre o mesmo mês do ano anterior), enquanto que, para pessoas jurídicas, foi de R$ 839,5 bilhões (0,8% maior do que o mês de maio de 2015).

No mês de maio foram concedidos R$ 286,2 bilhões em novas operações de crédito, frente a R$ 302,4 bilhões no mesmo mês do ano passado, uma variação negativa de 6,1%. Deste volume, R$ 259,1 bilhões foram originados de recursos livres (redução de 3,8% frente ao mesmo mês do ano anterior), sendo que 56,4% em operações junto a pessoas físicas e 43,6% para a pessoas jurídicas.

Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de cartão de crédito (R$ 89,5 bilhões), cheque especial (R$ 31,3 bilhões) e crédito pessoal (R$ 17,2 bilhões). Junto às empresas, as principais modalidades foram conta garantida (R$ 19,2 bilhões), cheque especial (R$ 19,8 bilhões), capital de giro (R$ 15,7 bilhões) e desconto de duplicatas (R$ 10,4 bilhões).

Quanto às concessões com recursos direcionados, a variação nominal foi de -21,4% frente a maio de 2015, atingindo R$ 27,2 bilhões. Deste montante, 52,6% foram destinados como crédito às famílias e 47,4% destinados a pessoas jurídicas.

Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 5,3 bilhões) e financiamento imobiliário (R$ 7,1 bilhões). Para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$ 4,8 bilhões), BNDES (R$ 4,8 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 2,0 bilhões).

Setores. Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 793,9 bilhões, o que representa uma retração nominal de 0,8% frente a maio de 2015. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 2,7% nesta mesma comparação, atingindo o valor de R$ 443,2 bilhões. O setor agropecuário respondeu por R$ 23,8 bilhões do montante, valor 0,4% menor, em termos nominais, do que o registrado em maio de 2015. O saldo do setor de serviços foi de R$ 762,7 bilhões, redução nominal de 0,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Juros e Inadimplência. A taxa média de juros total atingiu 32,7% a.a. em maio. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 52,3% a.a. (avanço de 9,7 p.p. em relação a maio de 2015): 71,7% para pessoas físicas e 30,6% para pessoas jurídicas. Já no âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 11,1 % a.a. (aumento de 1,9 p.p. frente ao mesmo mês do ano passado): média de 10,4% para pessoas físicas e 11,8% para pessoas jurídicas.

A inadimplência total de maio alcançou 3,8%, um aumento de 0,8 p.p. em relação a maio passado. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência média registrada foi de 5,9% (aumento de 1,2 p.p. frente ao mesmo mês do ano passado): 6,3% para pessoas físicas e 5,4% para pessoas jurídicas. Para os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa média foi de 1,7% (variação de 0,5 p.p. desde maio de 2015): 2,1% para as famílias e 1,3% para empresas.

 

 

 

 

 

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