Se nos primeiros meses de 2016 existem indícios de que
a crise da economia brasileira está perdendo força
– inclusive no seu epicentro, isto é, na indústria
– as perspectivas no mercado de trabalho continuam de todo
sombrias. A redução de empregos seguiu progredindo
nesse início de ano, sendo que o quadro mais grave continua
o do emprego industrial. Contudo, isso não ocorre na mesma
intensidade em todos os setores da indústria.
A Carta IEDI
a ser divulgada hoje analisa a situação recente
do emprego nos diferentes setores industriais agrupados segundo
a intensidade tecnológica (IT), a exemplo do que já
faz com a produção industrial e a exportação
de manufaturados. Para isso, toma-se como base a classificação
dos setores adotada pela OCDE, que estabelece quatro faixas de
intensidade tecnológica: alta, média-alta, média-baixa
e baixa.
No que se
refere ao emprego formal total, a partir dos dados do CAGED, o
país perdeu, em termos líquidos, pouco mais de 1,8
milhão de vagas nos últimos 12 meses, entre maio
de 2015 e abril de 2016. A rapidez da destruição
líquida de postos de trabalho foi extraordinária,
já que no período anterior, entre maio de 2014 e
abril de 2015, a queda tinha sido de 418 mil vagas.
Quem mais
contribuiu foi a indústria de transformação,
onde a redução líquida de postos de trabalho
formais chegou a 650 mil entre maio de 2015 e abril de 2016. Neste
período, todos os agrupamentos de setores por IT apresentaram
saldo negativo, configurando uma situação consideravelmente
pior do que a observada em 2009, quando a economia brasileira
sofria o efeito-contágio da crise financeira global.
No período
recente, foi a faixa de alta intensidade tecnológica onde
o emprego mais se retraiu ainda que em termos absolutos não
seja uma faixa muito empregadora, já que reúne setores
intensivos em capital e em conhecimento. Entre maio de 2015 e
abril de 2016 foram fechadas 51 mil vagas, quanto no período
de maio de 2014 e abril de 2015 a redução tinha
chegado a 17 mil. O fechamento de postos avançou, assim,
190%. Todos os setores dessa faixa desempregaram nos últimos
12 meses, inclusive o de produtos farmacêuticos que vinha
mantendo um crescimento de vagas até abril de 2015.
Apesar da
forte aceleração da recente redução
de vagas, a faixa de alta intensidade tecnológica foi a
que mais demorou para efetuar cortes de monta. O emprego nesses
subsetores é, de fato, em um primeiro momento, menos elástico
às variações na produção em
função do maior grau de qualificação
da sua força de trabalho. As demissões são
onerosas tanto pelos altos rendimentos quanto pelos elevados custos
de treinamento da força de trabalho.
Em segundo lugar, vem a faixa de baixa intensidade tecnológica,
que reúne justamente os setores mais intensivos em mão
de obra. Entre maio de 2015 e abril de 2016 foram 235 mil vagas
a menos, isso porque já havia tido redução
de 101 mil vagas entre maio de 2014 e abril de 2015. A redução
de postos aumentou, assim, 131,5%. Os segmentos onde a redução
de postos mais se ampliou foram produtos alimentícios,
papel e celulose, produtos de madeira, móveis, têxteis
e confecção de vestuário e acessórios.
Convém
ressaltar que os setores de baixa intensidade tecnológica
cumpriram o papel de colchão amortecedor do emprego industrial
na crise de 2009, mas se transformaram em 2015 e 2016 em focos
de demissões e estão colaborando para aprofundar
o declínio no emprego industrial total.
Em seguida,
encontra-se a faixa de média baixa intensidade tecnológica,
cujas perdas cresceram 107% nos últimos 12 meses em relação
aos 12 meses imediatamente anteriores. Entre maio de 2015 e abril
de 2016 foram 174 mil vagas a menos, muito acima das 84 mil vagas
perdidas entre maio de 2014 e abril de 2015. Nesta faixa, as maiores
retrações do emprego vieram da produção
de minerais não metálicos e de produtos de borracha
e plástico.
Por fim, na
faixa de média alta intensidade tecnológica a perda
de postos de trabalho avançou de 105 mil entre maio de
2014 e abril de 2015 para 150 mil entre maio de 2015 e abril de
2016 (+42,4%). As maiores retrações tiveram como
destaques: produtos químicos, máquinas e aparelhos
elétricos e máquinas e equipamentos.