15 de junho de 2016

Serviços
Sob as estratégias de
empresas e famílias


  

 
O setor de serviços, cuja crise vinha em nítida progressão desde o início do ano passado, conseguiu estabilizar o ritmo de sua queda. É o que se observa nesses primeiros meses 2016. Mas se isso significa o início de uma trajetória de recuperação, ainda é muito cedo para afirmar.

A retração das receitas reais do setor, que havia atingido -5,5% no último quadrimestre de 2015, recuou para -4,9% no primeiro quadrimestre de 2016, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior. Este arrefecimento, mesmo que favorável, é pouco e mantém o setor preso numa conjuntura muito adversa.

A despeito disso, os serviços é o macrossetor da economia que “melhor” tem resistido à crise presente, inclusive agora em que sinais de moderação também marcaram a evolução do comércio e da indústria. De fato, as retrações acumuladas em 2016 de -6,9% das vendas reais do comércio e, principalmente, de -10,5% da produção industrial indicam situações de gravidade maior do que em serviços (-4,9%).

O que notabiliza muito o comportamento do setor de serviços nesse começo de ano tem sido uma dança de cadeiras entre seus segmentos, em que uns assumem o lugar de outros numa trajetória de nítida piora. Isso reflete em alguma medida fases distintas das estratégias das famílias e das empresas diante do prosseguimento da crise.

Vejamos a seguir como a evolução de alguns segmentos de serviços ilustram esse ciclo de estratégias.

Dentre os serviços prestados às famílias, o subsetor de alojamento e alimentação foi o que primeiro sentiu os efeitos da crise (desde jun/14). A queda de suas receitas reais foi influenciada tanto pela elevação dos preços das refeições fora de casa como pelo fato de restaurantes e viagem serem considerados por muitas famílias como gastos supérfluos ou de mais fácil adiamento.

Por isso, os serviços de alojamento e alimentação tornaram-se o primeiro alvo do ajuste familiar diante da fase adversa da economia, mas sua retração de -6,2% no último trimestre de 2015 refluiu para -3,3% no acumulado de 2016 até abril. Certamente isso ocorreu porque foi ficando difícil para as famílias cortar ainda mais gastos que tanto já haviam caído.

A pressão do ajuste passou então a atingir de forma intensa o subsetor de outros serviços prestados às famílias. O mergulho das receitas reais desse segmento em 2015 foi extraordinário: +0,1%, -4,0% e -7,8% nos seus três quadrimestres em ordem, frente ao mesmo período do ano anterior. Depois de uma evolução de tal intensidade, a queda no primeiro quadrimestre de 2016 refluiu bastante: -1,9%.

Quanto às empresas, por sua vez, sua reação à crise afetou em primeiro lugar (desde mai/13) o subsetor de serviços técnico-profissionais, mais diretamente relacionados ao volume de seus negócios. Sua retração chegou a -11,2% no último quadrimestre de 2015, passando para -7,4% no primeiro quadrimestre de 2016, possivelmente devido à moderação da crise vivida pela indústria e comércio. Mas o fato é que apesar dessa evolução ainda caem muito.

Já o subsetor de serviços administrativos e complementares começaram a cair depois (a partir de jul/15) porque não estão diretamente vinculados ao desempenho das empresas, como os serviços de limpeza e segurança, por exemplo. Mas desde então levaram um tombo do qual ainda não se recuperaram. A evolução de suas receitas reais no segundo e terceiro quadrimestre de 2015 e no primeiro de 2016 foi a seguinte: -1,6%, -6,5% e -6,1%, em relação ao mesmo período do ano passado.

Por fim, os serviços de informação e comunicação por terem se tornado essenciais tanto às empresas como às famílias são um dos últimos segmentos a entrar em crise (desde set/15). Por isso, suas perdas ainda estão em processo de aceleração: -2,1% e -4,0% no último quadrimestre de 2015 e no primeiro de 2016, respectivamente.
   

 
De acordo com dados divulgados pelo IBGE da Pesquisa Mensal de Serviços para o mês de abril, a variação do volume de serviços prestados sobre o mesmo mês do ano anterior foi de -4,5%. No acumulado do ano, a retração de 4,9% e nos últimos 12 meses, de -4,6%.

O desempenho negativo, ainda que tenha reduzido de intensidade, persiste. Frente a abril de 2015, todos os segmentos pesquisados apresentaram redução do volume de serviços vendidos, tendo a maior variação sido registrada nos serviços de transporte, serviços auxiliares dos transportes e correios (-6,5%), seguido por serviços profissionais, administrativos e complementares (-5,4%), outros serviços (-3,3%) e serviços prestados às famílias e serviços de comunicação e informação (ambos -3,0%). O volume de serviços de atividades turísticas retraiu 3,6%.

No acumulado do ano, todos os setores mantiveram desempenho negativo. A maior queda observada foi no segmento de serviços profissionais, administrativos e complementares (-6,4%), transporte, serviços auxiliares dos transportes e correios (-5,5%), serviços de informação e comunicação (-4,0%), outros serviços (-3,6%) e serviços prestados às famílias (-3,1%). Os serviços relacionados a atividades turísticas tiveram aumento da retração, alcançando -1,0%.

Na variação de 12 meses registrada em março, todos os setores registraram queda. O pior desempenho alcançado foi do grupo de outros serviços (-7,9%), seguido por transportes, serviços de transportes e correio (-6,1%), serviços profissionais, administrativos e complementares (-5,8%), serviços prestados às famílias (-5,0%) e serviços de informação e comunicação (-2,1%). Nesta comparação, os serviços de atividades turísticas retraíram 1,6%.

Na análise por unidade federativa, no acumulado do ano, frente ao mesmo período de 2015, as unidades federativas que tiveram variação positiva estão Roraima (8,8%), Rondônia (7,8%), Distrito Federal (5,3%), Mato Grosso (4,8%) e Tocantins (2,9%). As maiores variações negativas foram registradas nos estados do Amapá (-16,3%), Amazonas (-16,0%), Maranhão (-10,7%), Paraíba (-9,6%), Pernambuco (-9,4%), Bahia (-8,4%), Sergipe (-7,7%) e Espírito Santo (-7,4%).

 

 

 

 

 

 

 

Leia outras edições de Análise IEDI no site do IEDI


Leia no site do IEDI: Indústria e Desenvolvimento - Reflexões e Propostas do IEDI para a Economia Brasileira - Para celebrar o aniversário de 25 anos de fundação do IEDI e sua trajetória, produzimos o presente livro que reúne 30 trabalhos representativos do Instituto a respeito dos mais diversos temas da indústria e da economia brasileira.