Ninguém duvida de que 2016 será o terceiro ano consecutivo
de declínio da produção industrial do país.
Em relação ao mesmo período do ano anterior,
a retração de -3,0% em 2014 avançou para
-8,3% em 2015, chegando a -10,5% no primeiro quadrimestre deste
ano. A magnitude da crise, entretanto, não tem sido igual
para todos os segmentos industriais. Pode até causar surpresa,
mas para alguns poucos privilegiados sequer pode se falar de crise.
Foram raros
os exemplos, mas eles existiram. De 96 segmentos acompanhados
pelos IBGE, apenas 10 apresentaram crescimento de produção
em 2015. No ambiente de profunda crise econômica como a
que o Brasil atravessa, a manutenção de positivas
taxas de evolução é uma prova de resistência.
Dentre os
sobreviventes encontram-se:
-
Artigos de joalheria e bijuteria (+ 10% de aumento da produção
em 2015)
-
Celulose e outras pastas para fabricação de papel
(+8,0%)
-
Biocombustíveis (+4,9%)
-
Produtos de limpeza e polimento (+2,6%)
-
Motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão
(+2,1%)
-
Intermediários para fertilizantes (+1,6%)
-
Óleos
e gorduras vegetais e animais (+1,4%)
-
Químicos orgânicos (1,0%)
-
Instrumentos e materiais para uso médico e odontológico
e de artigos ópticos (+0,5%)
-
Moagem, fabricação de produtos amiláceos
e de alimentos para animais (+0,2%)
A
má notícia é que 5 desses 10 segmentos tiveram
piora substantiva no primeiro quadrimestre de 2016 e já entraram
no campo negativo na comparação com o mesmo período
do ano anterior. É positivo, contudo, que os outros 5 segmentos
melhoraram ainda mais seu desempenho nos quatro primeiros meses
do ano: biocombustíveis (+21,7%), celulose e outras pastas
para a fabricação de papel (+16,6%), produtos de limpeza
e polimento (+3,7%), óleos e gorduras vegetais e animais
(+2,1%) e moagem, fabricação de produtos amiláceos
e de alimentos para animais (+1,8%).
Também
favorável é que no primeiro quadrimestre de 2016,
o número de segmentos industriais com crescimento acima
de zero tenha aumentado de 10 para 17 dos 96 (18%). Prevalecendo
esta tendência ao longo de todo o ano, este será
o número de segmentos “sem crise” na indústria
brasileira. Trata-se de uma indicação de melhora
no quadro industrial, porém ainda de forma muito parcial.
A lista dos
segmentos que podem estar conseguindo superar a crise neste primeiro
quadrimestre do ano inclui, principalmente, aqueles ligados ao
agronegócio e à indústria alimentícia,
alguns contando com expressiva importância das exportações.
São
exemplos:
Do lado negativo,
o desempenho de 31 segmentos (32% do total) piorou muito na entrada
de 2016. Se o ritmo de queda do primeiro quadrimestre perdurar
no ano todo, muitos deles serão fortes candidatos a entrarem
na lista daqueles que sofrem uma crise fulminante, isto é,
cuja contração anual da produção ultrapassa
a marca de -20%.
Em 2015, foram
11 os desafortunados a encabeçar essa lista dos perdedores
em doses verdadeiramente excepcionais. Estes, em sua grande maioria,
são segmentos ligados à cadeia da indústria
automobilística e ao setor de bens de capital: cabines,
carrocerias e reboques para veículos automotores (-46,2%),
caminhões e ônibus (-44,2%), máquinas e equipamentos
de uso na extração mineral e na construção
(-29,5%), equipamentos de comunicação (-27,1%),
entre outros.
Levando em
conta o desempenho do primeiro quadrimestre de 2016, o número
de segmentos da indústria com quedas superiores a 20% salta
para 26. Um dos aspectos preocupantes é que muitos desses
segmentos são reincidentes, indicando que o alto grau das
dificuldades por eles enfrentadas desde o início da crise
irá se renovar no corrente ano.
Em certos
casos, a retração “fulminante” da produção
resulta de uma perda de demanda brusca, porém com caráter
cíclico – podendo, por isso, ser compensada futuramente,
como, por exemplo, nos segmentos de bens de capital ou de bens
duráveis de alto valor unitário. Em outros casos,
contudo, as perdas de produção podem se revelar
irreparáveis ou em grande medida irrecuperáveis,
levando à desindustrialização. É o
que pode estar acontecendo em segmentos mais globalizados, como
de equipamentos de informática e de comunicação.
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