6 de junho de 2016

Indústria
Os segmentos sem crise
na indústria brasileira


  

 
Ninguém duvida de que 2016 será o terceiro ano consecutivo de declínio da produção industrial do país. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a retração de -3,0% em 2014 avançou para -8,3% em 2015, chegando a -10,5% no primeiro quadrimestre deste ano. A magnitude da crise, entretanto, não tem sido igual para todos os segmentos industriais. Pode até causar surpresa, mas para alguns poucos privilegiados sequer pode se falar de crise.

Foram raros os exemplos, mas eles existiram. De 96 segmentos acompanhados pelos IBGE, apenas 10 apresentaram crescimento de produção em 2015. No ambiente de profunda crise econômica como a que o Brasil atravessa, a manutenção de positivas taxas de evolução é uma prova de resistência.

Dentre os sobreviventes encontram-se:

  • Artigos de joalheria e bijuteria (+ 10% de aumento da produção em 2015)
     
  • Celulose e outras pastas para fabricação de papel (+8,0%)
     
  • Biocombustíveis (+4,9%)
     
  • Produtos de limpeza e polimento (+2,6%)
     
  • Motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão (+2,1%)
     
  • Intermediários para fertilizantes (+1,6%)
     
  • Óleos e gorduras vegetais e animais (+1,4%)
     
  • Químicos orgânicos (1,0%)
     
  • Instrumentos e materiais para uso médico e odontológico e de artigos ópticos (+0,5%)
     
  • Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais (+0,2%)  
A má notícia é que 5 desses 10 segmentos tiveram piora substantiva no primeiro quadrimestre de 2016 e já entraram no campo negativo na comparação com o mesmo período do ano anterior. É positivo, contudo, que os outros 5 segmentos melhoraram ainda mais seu desempenho nos quatro primeiros meses do ano: biocombustíveis (+21,7%), celulose e outras pastas para a fabricação de papel (+16,6%), produtos de limpeza e polimento (+3,7%), óleos e gorduras vegetais e animais (+2,1%) e moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais (+1,8%).

Também favorável é que no primeiro quadrimestre de 2016, o número de segmentos industriais com crescimento acima de zero tenha aumentado de 10 para 17 dos 96 (18%). Prevalecendo esta tendência ao longo de todo o ano, este será o número de segmentos “sem crise” na indústria brasileira. Trata-se de uma indicação de melhora no quadro industrial, porém ainda de forma muito parcial.

A lista dos segmentos que podem estar conseguindo superar a crise neste primeiro quadrimestre do ano inclui, principalmente, aqueles ligados ao agronegócio e à indústria alimentícia, alguns contando com expressiva importância das exportações.

São exemplos:

  • Adubos e fertilizantes (+1,4%)
     
  • Abate e fabricação de produtos de carne (+2,2%)
     
  • Torrefação e moagem de café (+6,1%)
     
  • Produtos e preparados químicos diversos (+7,8%)
     
  • Fabricação e refino de açúcar (+12,0%)
     
  • Conservas de frutas, legumes e outros vegetais (+14,6%)

Do lado negativo, o desempenho de 31 segmentos (32% do total) piorou muito na entrada de 2016. Se o ritmo de queda do primeiro quadrimestre perdurar no ano todo, muitos deles serão fortes candidatos a entrarem na lista daqueles que sofrem uma crise fulminante, isto é, cuja contração anual da produção ultrapassa a marca de -20%.

Em 2015, foram 11 os desafortunados a encabeçar essa lista dos perdedores em doses verdadeiramente excepcionais. Estes, em sua grande maioria, são segmentos ligados à cadeia da indústria automobilística e ao setor de bens de capital: cabines, carrocerias e reboques para veículos automotores (-46,2%), caminhões e ônibus (-44,2%), máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e na construção (-29,5%), equipamentos de comunicação (-27,1%), entre outros.

Levando em conta o desempenho do primeiro quadrimestre de 2016, o número de segmentos da indústria com quedas superiores a 20% salta para 26. Um dos aspectos preocupantes é que muitos desses segmentos são reincidentes, indicando que o alto grau das dificuldades por eles enfrentadas desde o início da crise irá se renovar no corrente ano.

Em certos casos, a retração “fulminante” da produção resulta de uma perda de demanda brusca, porém com caráter cíclico – podendo, por isso, ser compensada futuramente, como, por exemplo, nos segmentos de bens de capital ou de bens duráveis de alto valor unitário. Em outros casos, contudo, as perdas de produção podem se revelar irreparáveis ou em grande medida irrecuperáveis, levando à desindustrialização. É o que pode estar acontecendo em segmentos mais globalizados, como de equipamentos de informática e de comunicação.
   

 
 

 

 

 

 

 

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