2 de junho de 2016

Indústria
Descontinuidade da trajetória


  

 
O desempenho da indústria em 2016 dá sinais de uma evidente descontinuidade da trajetória anterior marcada por quedas continuadas da produção. Em abril, a produção industrial cresceu 0,1% frente a março com ajuste sazonal. Vale observar que dos quatro primeiros meses do ano, três apresentaram variações positivas nessa comparação.

A despeito do sinal favorável, o resultado de -10,5% do primeiro quadrimestre de 2016 frente ao mesmo período do ano anterior nos lembra da magnitude da crise em que o setor ainda se encontra. É cedo para falar em melhora da indústria brasileira. O que pode ser dito neste estágio é que o quadro começa a se tornar menos grave.

Esse movimento tem sido acompanhado por praticamente todos os macrossetores da indústria, com destaque para o de bens de capital que liderara a retração em 2015. A produção desses bens teve alta em todos os quatro meses de 2016 frente ao mês anterior, com ajuste sazonal (+2,5%, +0,8%, +3,0% e +1,2%, respectivamente). Não víamos uma sucessão de resultados positivos assim desde 2009.

Com isso, em comparação com o mesmo período do ano anterior, a queda de bens de capital recuou de -31,6% no último quadrimestre de 2015 para -25,9% no primeiro de 2016. Três de seus segmentos tiveram seu declínio arrefecido nesse período: bens de capital para transporte (de -36% para -25,9%, respectivamente), para energia (de -11,7% para -8,9%) e para construção (de -56,8% para -46,3%).

A produção de bens de consumo semi e não-duráveis também teve uma evolução favorável devido a um conjunto de fatores que inclui desaceleração da inflação e reajuste do salário mínimo, a recompor parcialmente o poder de compra de parte da população, e o patamar mais competitivo do câmbio, ajudando a ampliar as exportações e substituir importações. Em maio, houve alta de 1,9% frente ao mesmo mês de 2015, o que não ocorria desde out/14.

Foi possível então, que o patamar de queda de bens semi e não duráveis recuasse de -6,4%, frente ao mesmo período do ano anterior, no último quadrimestre de 2015 para -2,8% no primeiro quadrimestre de 2016, sob influência da alta de abates de reses (+1,2%) e de suínos e aves (+3,8%), da indústria farmacêutica (+3,1%) e da produção de álcool e gasolina (+13,1%). Por sua vez, reduziram suas perdas os segmentos de calçados, têxteis e vestuário.

Onde os sinais de algum alívio são menos expressivos é na produção de bens duráveis. Aqui, o resultado do primeiro quadrimestre do ano (-26,5%) praticamente reproduz aquele do último quadrimestre de 2015 (-27,8%). Alguns segmentos, contudo, estão “menos ruins”: é o caso de automóveis (-25,4% contra -32,2%), que tem conseguido ampliar suas exportações, eletrodomésticos da linha branca (-17,7% contra -22,6%) e móveis (-15,5% contra -22,7%).

Por fim, os bens intermediários foram os únicos a apresentarem piora do desempenho em 2016: -9,6% no primeiro quadrimestre contra -8,9% no último quadrimestre de 2015 frente ao mesmo período do ano anterior. A história teria sido diferente não fosse a piora em metalurgia (-14,2% contra -11,8%), sujeita à crise do setor siderúrgico, e de embalagens (-7,0% contra -6,4%). Os demais segmentos tiveram retrações mais brandas neste início de ano.
   

 
Resultados Gerais. Segundo dados divulgados pelo IBGE, a produção industrial de abril registrou variação positiva de 0,1% frente a março na série livre de influências sazonais, após ter registrado alta de 1,4% no mês anterior. Na comparação com abril de 2015 a indústria assinalou queda de 7,2%. Dessa forma, a indústria acumulou decréscimo de 10,5% nos primeiros quatro meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2015. O indicador acumulado dos últimos doze meses frente a igual período imediatamente anterior apresentou variação negativa de 9,6%.

Categorias de Uso. Entre as categorias de uso na comparação com o mês imediatamente anterior, duas categorias de uso assinalaram alta na produção industrial: bens de capital (1,2%) e bens intermediários (0,5%). Por outro lado, os setores de bens de consumo duráveis (-4,4%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (-0,6%) recuaram.

Na comparação com igual mês do ano anterior, quase todos os índices por categorias de uso apresentaram taxas negativas, com exceção de bens de consumo semi e não-duráveis, com expansão de 1,9%. As demais categorias apresentaram os seguintes resultados: bens de consumo duráveis (-23,7%), bens de capital (-16,5%) e bens intermediários (-7,5%).

Setores. A pequena alta de 0,1% da indústria entre março e abril alcançou 11 dos 24 ramos pesquisados, com destaque para os ganhos registrados por produtos alimentícios (4,6%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,0%), indústrias extrativas (1,3%), celulose, papel e produtos de papel (2,7%), máquinas e equipamentos (2,0%), bebidas (2,4%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (1,9%). Por outro lado, os setores que assinalaram quedas mais relevantes foram: veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-10,9%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,6%), metalurgia (-2,5%), outros equipamentos de transporte (-5,5%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-3,1%), produtos de metal (-1,3%) e produtos do fumo (-11,9%).

Na comparação com abril de 2015, a produção industrial mostrou queda de 7,2%, influenciada pelo recuo da produção de vinte e um dos vinte e seis ramos pesquisados. As maiores influências negativas ficaram a cargo de: indústria extrativa (-15,7%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-20,6%), metalurgia (-14,9%), máquinas e equipamentos (-12,1%), produtos de metal (-17,1%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-24,8%), outros equipamentos de transporte (-25,7%), produtos de borracha e de material plástico (-10,5%), produtos de minerais não-metálicos (-9,6%), outros produtos químicos (-6,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-12,9%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-8,7%), produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-2,0%) e móveis (-15,4%). Por outro lado, a atividade de produtos alimentícios (12,3%) exerceu a principal pressão positiva.

No índice acumulado para o acumulado de janeiro a abril de 2016, frente a igual período do ano anterior, a queda de 10,5% foi impulsionada pelo recuo de 22 ramos dos 26 ramos investigados, com destaque para: veículos automotores, reboques e carrocerias (-26,1%), indústrias extrativas (-15,0%), máquinas e equipamentos (-20,9%), metalurgia (-14,2%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-32,6%), de produtos de metal (-16,6%), produtos de borracha e de material plástico (-14,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-17,4%), produtos de minerais não-metálicos (-12,6%), outros equipamentos de transporte (-24,1%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-12,2%), produtos têxteis (-14,6%), outros produtos químicos (-3,9%) e móveis (-15,6%). Por outro lado, produtos alimentícios (2,2%), celulose, papel e produtos de papel (2,6%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (2,7%) e produtos do fumo (12,6%) foram as altas do mês.

 

 

 

 

 

 

 

 

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