31 de maio de 2016

Emprego
Estratégias das famílias e das empresas


   

 
A taxa de desemprego no Brasil, em alta desde 2015, assume uma franca escalada em 2016, atingindo 11,2% no trimestre findo em abril. Na origem desse movimento encontram-se as estratégias de ajustamento tanto das famílias como das empresas.

Do lado das famílias, a corrosão do seu poder de compra pela inflação mais elevada, as difíceis negociações salariais devido à crise, a elevação dos juros e o medo crescente da perda do emprego impuseram um ajustamento via redução do consumo bem como por meio de um número maior de familiares em busca de emprego.

Do lado das empresas, a queda da confiança dos empresários, a redução das vendas no mercado doméstico, as dificuldades de ampliação das exportações devido ao baixo dinamismo internacional, o racionamento do crédito e aumento dos juros e o crescente do número de falências impuseram pesada contenção de custos e redução de postos de trabalho.

Contudo, essas duas estratégias não têm tido a mesma importância para explicar a elevação do desemprego dos últimos meses.

Na primeira metade de 2015, o fator preponderante eram as estratégias familiares, que fizeram crescer o número de pessoas em busca de trabalho a despeito de uma capacidade cada vez menor de absorção pelas empresas. Na segunda metade de 2015, as famílias levaram ao mercado de trabalho um número ainda maior de pessoas, mas o fechamento de vagas já estava ocorrendo.

É em 2016 que o peso das estratégias empresariais tem sido cada vez maior na elevação do desemprego. O corte dos postos de trabalho aumentou muito, chegando a 1,54 milhão no trimestre findo em abril frente ao mesmo período do ano passado. Enquanto isso, o número de pessoas a entrar na força de trabalho continua elevado, sendo 1,83 milhão nesta mesma comparação.

É na indústria que a destruição de empregos tem ocorrido de forma mais grave: foi 1,56 milhão de pessoas ocupadas a menos no trimestre findo em abril contra o mesmo período do ano anterior. A situação é muito pior do que nos demais setores da economia.

Não é por outra razão, que o emprego formal é o que mais cai. Lembremos que os postos de trabalho oferecidos pelo setor industrial são majoritariamente com carteira assinada, diferentemente de outros setores bastante empregadores. No trimestre findo em abril, 1,54 milhão de ocupados com carteira assinada ficaram desempregados em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Diante desse quadro, as pessoas que perderam seus empregos ou que entraram no mercado de trabalho premidas pelo ajustamento familiar não têm outra saída a não ser se submeter a ocupações de pior qualidade. Isso explica o crescimento de 1,07 milhão de ocupados por conta própria e de 238 mil trabalhadores domésticos no trimestre findo em abril contra o mesmo período de 2015.

Como nessas ocupações os rendimentos costumam ser menores e mais instáveis, a redução do consumo deve continuar fazendo parte da vida dessas famílias, reforçando o quadro negativo de vendas das empresas e, por conseguinte, do próprio emprego.
  

 
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação atingiu 11,2% no trimestre encerrado em abril de 2016, 3,2 p.p. maior que a taxa observada no mesmo trimestre do ano passado (8,0%). No trimestre móvel anterior sem sobreposição (novembro de 2015 a janeiro de 2016), a taxa foi de 9,5%.

O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 1.962,00, o que representou retração de 0,8% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e uma redução de 3,3% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior. Já o rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido alcançou R$ 1.911,00, que responde por uma redução de 0,8% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e retração de 3,1% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.

A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 173,3 bilhões, variação de -1,5% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e de -4,3% sobre o mesmo trimestre de 2015.

No trimestre de referência, a população ocupada alcançou 90,6 milhões de pessoas, o que representou redução de 1,7% frente ao mesmo trimestre do ano anterior. Na mesma comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 1,8% atingindo 102,0 milhões de pessoas e o número de desocupados aumentou 42,1% e alcançou 11,4 milhões de pessoas.

Frente ao mesmo trimestre de 2015, o número de pessoas ocupadas dentre as posições de ocupação apresentou crescimento em duas categorias: trabalhador por conta própria (4,9%) e trabalhador doméstico (4,0%). As demais tiveram retração, com destaque para trabalho privado sem carteira (-0,6%), setor público (-3,3%), trabalho privado com carteira (-4,3%), empregador (-7,7%) e trabalho auxiliar familiar (-20,3%).

Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre janeiro e março de 2015, estão transporte, armazenagem e correios (5,3%), serviços domésticos (5,1%), alojamento e alimentação (3,5%) e administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (2,5%). Os setores que tiveram retração da população ocupada foram construção (-0,2%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-0,6%), outros serviços (-0,8%), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-0,9%), construção (-1,2%), informação, comunicação e atividades financeiras imobiliárias, profissionais e administrativas (-7,8%) e indústria (-11,8%).

 

 

 

 

 

 

Leia outras edições de Análise IEDI no site do IEDI


Leia no site do IEDI: Para Vencer a Crise - Documento do IEDI que oferece ao debate nacional linhas gerais de um programa destinado a recolocar o País na trilha do desenvolvimento