25 de maio de 2016

Crédito
De mal a pior


   

 
A evolução do crédito neste início de 2016 vai de mal a pior. O desempenho do primeiro quadrimestre já é bastante sugestivo do que nos espera, se nada for feito, para esse ano no mercado creditício. Em termos reais, o período de janeiro a abril acumula queda de 9,1% em relação ao mesmo período do ano anterior contra -3,6% no acumulado de 2015. Isso denota um avanço extraordinário da retração creditícia no país.

As concessões do crédito direcionado, que a priori deveriam ser menos cíclicas, é quem tem liderado o encolhimento das operações creditícias com quedas cada vez mais fortes: -25,4%, em termos reais, no primeiro quadrimestre de 2016 contra -19,2% no acumulado de 2015, sempre em relação ao mesmo período do ano passado.

Isso não significa dizer que as concessões livres estejam indo muito bem, pelo contrário. Elas têm assumido acelerada trajetória descendente: depois de uma contração real de 1,1% em 2015, avançam para -7,0% no acumulado dos quatro primeiros meses de 2016.

Ainda que ninguém se salve, a situação tem sido mais grave para as empresas. Enquanto as concessões às famílias passaram de uma retração real de -2,3% em 2015 para -5,9% no primeiro quadrimestre de 2016, o declínio do crédito concedido às empresas ultrapassou os dois dígitos neste início de ano, atingindo -13,0%, contra -5,2% no acumulado do ano passado.

É o crédito livre às empresas que tem piorado mais. Sua queda real de -10,9% no acumulado até abril de 2016 é muito superior aos -2,4% do acumulado de 2015. Esse movimento foi acompanhado por suas principais modalidades: capital de giro (-28,3% até abr/16 contra -10,3% em 2015, em termos reais) e conta garantida (-9,8% contra -1,4%, respectivamente).

Uma piora também foi sentida no crédito direcionado às empresas, cujos patamares de queda são os mais intensos: -26,7% no primeiro quadrimestre de 2016 contra -19,2% em 2015, sempre em termos reais.

Como não há melhora significativa do ambiente econômico, não é de se estranhar que as concessões do BNDES para o financiamento do investimento apresentem retrações abissais: -44,2% no primeiro quadrimestre de 2016, em termos reais. Em 2015, a queda acumulada chegou a -27,3%, também em termos reais. Nota-se ainda uma forte piora do crédito rural nesse início de ano: -20,1% contra +8,4% em 2015.

A contar pela evolução da inadimplência das empresas, que só nesses quatro meses subiu 0,5 p.p. enquanto levou o ano todo de 2015 para aumentar 0,7 p.p., os bancos devem endurecer ainda mais os critérios de concessão exigidos das empresas, fechando o mercado de crédito para muitas delas. Com isso, não sobra muita esperança para uma reversão próxima da situação de financiamento corporativo no país.
 

 
Resultados Gerais. Os dados de crédito, divulgados hoje pelo Banco Central, indicaram que o saldo das operações alcançou R$ 3.143 bilhões em abril, que corresponde a uma participação no PIB de 52,5%. As operações de crédito realizadas a partir de recursos livres responderam por 26,4% do PIB e a parcela com recursos direcionados, por 26,1% do PIB.

A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.568 bilhões o que representou uma retração de 0,9% frente ao mês anterior, em termos nominais. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a expansão nominal foi de apenas 0,2%. O valor destas operações realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$ 796,9 bilhões, expansão nominal de 1,4% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 781,2 bilhões, apresentando estabilidade frente a abril de 2015.

O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu em dezembro R$ 1.564,8 bilhão, o que representou, em termos nominais, retração de 0,2% frente ao mês anterior e expansão de 5,3% frente a abril de 2015. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 723,0 bilhões (aumento nominal de 9,4% sobre o mesmo mês do ano anterior), enquanto que, para pessoas jurídicas, foi de R$ 841,8 bilhões (2,0% maior do que o mês de abril de 2015).

No mês de abril foram concedidos R$ 272,9 bilhões em novas operações de crédito, frente a R$ 305,2 bilhões no mesmo mês do ano passado, uma variação negativa de 10,6%. Deste volume, R$ 244,0 bilhões foram originados de recursos livres (redução de 9,2% frente ao mesmo mês do ano anterior), sendo que 56,4% em operações junto a pessoas físicas e 43,6% para a pessoas jurídicas.

Dentre as concessões de crédito às pessoas físicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de cartão de crédito (R$ 84,1 bilhões), cheque especial (R$ 29,8 bilhões) e crédito pessoal (R$ 16,5 bilhões). Junto às empresas, as principais modalidades foram conta garantida (R$ 18,8 bilhões), cheque especial (R$ 19,2 bilhões), capital de giro (R$ 15,8 bilhões) e desconto de duplicatas (R$ 9,4 bilhões).

Quanto às concessões com recursos direcionados, a variação nominal foi de -20,8% frente a abril de 2015, atingindo R$ 28,9 bilhões. Deste montante, 48,4% foram destinados como crédito às famílias e 51,6% destinados a pessoas jurídicas.

Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 5,3 bilhões) e financiamento imobiliário (R$ 6,8 bilhões). Para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$ 4,3 bilhões), BNDES (R$ 6,5 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 3,0 bilhões).

Setores. Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 796,7 bilhões, o que representa uma expansão nominal de 0,6% frente a abril de 2015. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 2,0% nesta mesma comparação, atingindo o valor de R$ 441,8 bilhões. O setor agropecuário respondeu por R$ 24,1 bilhões do montante, valor 0,8% maior, em termos nominais, do que o registrado em abril de 2015. O saldo do setor de serviços foi de R$ 765,1 bilhões, aumento nominal de 0,3% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Juros e Inadimplência. A taxa média de juros total atingiu 32,4% a.a. em abril. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 52,0% a.a. (avanço de 10,2 p.p. em relação a abril de 2015): 70,8% para pessoas físicas e 31,1% para pessoas jurídicas. Já no âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 10,7 % a.a. (aumento de 1,8 p.p.): média de 10,0% para pessoas físicas e 11,6% para pessoas jurídicas.

A inadimplência total de abril manteve-se em 3,7%, um aumento de 0,7 p.p. em relação a abril de 2015. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência média registrada foi de 5,7%: 6,2% para pessoas físicas e 5,1% para pessoas jurídicas. Para os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa média foi de 1,7% (variação de 0,5 p.p. desde abril de 2015): 2,1% para as famílias e 1,2% para empresas.

 

 

 

 

 

 

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