20 de maio de 2016

Indústria
O mergulho da alta tecnologia


  

 
Em um momento em que é possível identificar sinais de que a indústria está achando seu “fundo do poço”, para o segmento de alta intensidade tecnológica o mergulho na recessão aparece como o maior de sua história. A Carta IEDI, a ser divulgada hoje, analisa o desempenho no primeiro trimestre de 2016 da indústria por intensidade tecnológica, segundo classificação adotada pela OCDE, e mostra que desde 2003 a alta tecnologia nunca teve um início de ano tão ruim.

De fato, a faixa de alta intensidade, que já vinha em uma trajetória de queda vertiginosa no ano passado, acelerou seu ritmo de retração em 2016. No primeiro trimestre, sua produção declinou 26,3% em relação a igual período de 2015, o que significa uma piora considerável frente ao patamar de queda de -19% dos últimos trimestres de 2015. Também cabe notar que o resultado de sua produção neste primeiro trimestre foi muito pior do que aquele da indústria de transformação como um todo (-11,1%).

As atividades do complexo eletrônico têm concorrido bastante para a queda do segmento de alta intensidade tecnológica: -34,6% no trimestre findo em março último. Já a indústria farmacêutica cresceu 0,9% em janeiro-março, provavelmente refletindo o fim do processo de ajustamento de estoques verificado na segunda metade de 2015 e a demanda por produtos para prevenção e combate às doenças transmitidas pelo aedes aegypti.

Já a produção da indústria de média-alta intensidade tecnológica caiu 21,0% no primeiro trimestre de 2016, mostrando uma relativa estabilização do ritmo de deterioração em relação ao resultado do último trimestre de 2015 (-21,5%). Ainda assim, esse desempenho só não foi pior do que aquele do primeiro trimestre de 2009 (-25,2%), quando o segmento de média-alta liderou a contração da produção industrial.

Destaca-se o fato de que a retração ocorreu em todos os ramos abarcados nesse segmento, da produção de bens de capital, máquinas e equipamentos à indústria de material de transporte terrestre passando pela indústria química. No ramo de veículos automotores, reboques e semi-reboques, o retrocesso foi de 27,8% no primeiro trimestre de 2016 frente ao mesmo período do ano anterior.

A indústria de média-baixa intensidade tecnológica, por sua vez, recuou 10,7% em janeiro-março de 2016. Tal queda também foi generalizada. A produção de bens metálicos, que inclui a siderurgia, e a de produtos de petróleo refinado, álcool e afins ditam o comportamento dessa faixa. A fabricação de produtos metálicos declinou 15,1% no contraste entre primeiro trimestre de 2016 e igual período de 2015. Já a de produtos do refino de petróleo e afins teve recuo de 1,3%.

A faixa de baixa intensidade foi quem sofreu o recuo menos agudo: -5,3% no confronto entre primeiro trimestre de 2016 e igual acumulado de 2015. Esse resultado é um dos piores para um primeiro trimestre de ano, mas significa um arrefecimento do ritmo de retração frente aos dois últimos trimestres de 2015 (-6,3% e -6,2% respectivamente).

Seu ramo mais proeminente – as indústrias alimentícias, de bebidas e fumo – produziu 2,2% menos em janeiro-março último frente ao mesmo período de 2015. Já as indústrias de produtos madeireiros e seus derivados, papel e celulose e impressão diminuíram 5,0%. A fabricação de manufaturados não especificados noutras atividades e as indústrias têxteis, de vestuário, artigos de couro e calçados experimentaram quedas ainda mais expressivas neste início de 2016: -14,1% e -11,2%, respectivamente.

Afora os problemas econômicos pelos quais o Brasil já vinha atravessando, o conturbado ambiente político deteriorou ainda mais o quadro. A mudança de presidência, em definitivo ou não, não significa retomada automática de crescimento puxado, principalmente dos investimentos. Por essa razão é fundamental que a taxa de câmbio permaneça em um nível competitivo, favorecendo as exportações.
   

 

 

 

 

 

 

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