Em um momento em que é possível identificar sinais
de que a indústria está achando seu “fundo
do poço”, para o segmento de alta intensidade tecnológica
o mergulho na recessão aparece como o maior de sua história.
A Carta IEDI, a ser divulgada hoje, analisa o desempenho no primeiro
trimestre de 2016 da indústria por intensidade tecnológica,
segundo classificação adotada pela OCDE, e mostra
que desde 2003 a alta tecnologia nunca teve um início de
ano tão ruim.
De fato, a
faixa de alta intensidade, que já vinha em uma trajetória
de queda vertiginosa no ano passado, acelerou seu ritmo de retração
em 2016. No primeiro trimestre, sua produção declinou
26,3% em relação a igual período de 2015,
o que significa uma piora considerável frente ao patamar
de queda de -19% dos últimos trimestres de 2015. Também
cabe notar que o resultado de sua produção neste
primeiro trimestre foi muito pior do que aquele da indústria
de transformação como um todo (-11,1%).
As atividades
do complexo eletrônico têm concorrido bastante para
a queda do segmento de alta intensidade tecnológica: -34,6%
no trimestre findo em março último. Já a
indústria farmacêutica cresceu 0,9% em janeiro-março,
provavelmente refletindo o fim do processo de ajustamento de estoques
verificado na segunda metade de 2015 e a demanda por produtos
para prevenção e combate às doenças
transmitidas pelo aedes aegypti.
Já
a produção da indústria de média-alta
intensidade tecnológica caiu 21,0% no primeiro trimestre
de 2016, mostrando uma relativa estabilização do
ritmo de deterioração em relação ao
resultado do último trimestre de 2015 (-21,5%). Ainda assim,
esse desempenho só não foi pior do que aquele do
primeiro trimestre de 2009 (-25,2%), quando o segmento de média-alta
liderou a contração da produção industrial.
Destaca-se
o fato de que a retração ocorreu em todos os ramos
abarcados nesse segmento, da produção de bens de
capital, máquinas e equipamentos à indústria
de material de transporte terrestre passando pela indústria
química. No ramo de veículos automotores, reboques
e semi-reboques, o retrocesso foi de 27,8% no primeiro trimestre
de 2016 frente ao mesmo período do ano anterior.
A indústria
de média-baixa intensidade tecnológica, por sua
vez, recuou 10,7% em janeiro-março de 2016. Tal queda também
foi generalizada. A produção de bens metálicos,
que inclui a siderurgia, e a de produtos de petróleo refinado,
álcool e afins ditam o comportamento dessa faixa. A fabricação
de produtos metálicos declinou 15,1% no contraste entre
primeiro trimestre de 2016 e igual período de 2015. Já
a de produtos do refino de petróleo e afins teve recuo
de 1,3%.
A faixa de
baixa intensidade foi quem sofreu o recuo menos agudo: -5,3% no
confronto entre primeiro trimestre de 2016 e igual acumulado de
2015. Esse resultado é um dos piores para um primeiro trimestre
de ano, mas significa um arrefecimento do ritmo de retração
frente aos dois últimos trimestres de 2015 (-6,3% e -6,2%
respectivamente).
Seu ramo mais
proeminente – as indústrias alimentícias,
de bebidas e fumo – produziu 2,2% menos em janeiro-março
último frente ao mesmo período de 2015. Já
as indústrias de produtos madeireiros e seus derivados,
papel e celulose e impressão diminuíram 5,0%. A
fabricação de manufaturados não especificados
noutras atividades e as indústrias têxteis, de vestuário,
artigos de couro e calçados experimentaram quedas ainda
mais expressivas neste início de 2016: -14,1% e -11,2%,
respectivamente.
Afora os problemas
econômicos pelos quais o Brasil já vinha atravessando,
o conturbado ambiente político deteriorou ainda mais o
quadro. A mudança de presidência, em definitivo ou
não, não significa retomada automática de
crescimento puxado, principalmente dos investimentos. Por essa
razão é fundamental que a taxa de câmbio permaneça
em um nível competitivo, favorecendo as exportações.