1º de junho de 2016

PIB
Novo horizonte


   

 
Ainda não há nada de real acontecendo para uma reviravolta na economia do país, mas os dados do PIB divulgados hoje trazem sinais de que um novo horizonte pode estar se formando. A sugestão de que a crise está perdendo força vem da retração livre de efeitos sazonais de apenas -0,3% do PIB do primeiro trimestre de 2016 frente ao trimestre anterior. Como cabe observar, em todos os trimestres de 2015, o declínio nesta mesma comparação situou-se em níveis muito maiores, entre 1,2% e 2%.

Dois fatores tiveram importância especial para a obtenção desse resultado. O primeiro deles foi a taxa de câmbio mais competitiva que, apesar do baixo crescimento do comércio internacional, vem conseguindo dinamizar as exportações brasileiras e estimular um processo de substituição de importações, ao garantir condições mais equânimes de concorrência com produtos estrangeiros.

No primeiro trimestre de 2016, as exportações cresceram de forma robusta: +6,5% frente ao trimestre anterior, com ajuste sazonal. As importações, por sua vez, caíram -5,6% na mesma comparação, repetindo o resultado do final de 2015 depois de uma continuada desaceleração desde o segundo trimestre do ano passado.

O segundo fator a operar nesse início de 2016 é a própria dinâmica da crise, que tende a engendrar condições relevantes para sua própria superação. Em outros termos, depois de longos e agudos períodos de contração econômica tornam-se cada vez mais inadiáveis a retomada de alguns gastos de investimento, para recompor a competitividade perdida, bem como de consumo, para a reposição de bens duráveis, por exemplo. As crises podem ser inevitáveis, mas nunca são eternas.

É isso que a estabilização ou a redução do patamar de queda em alguns componentes do PIB estão a indicar. O resultado mais favorável vem justamente do setor que, disparadamente, lidera a recessão, qual seja, a indústria de transformação, cujo revés foi de apenas -0,3% no primeiro trimestre do ano contra o período anterior, sem os efeitos sazonais. Para se ter ideia, no último trimestre de 2015, a queda havia sido de -2,3% na mesma comparação.

Esta foi a primeira vez, desde que a crise se aprofundou no início de 2015, que a queda da indústria de transformação não superou aquela do PIB como um todo. Na atual conjuntura, é uma vitória. Outros setores, ademais, também conseguiram reduzir suas perdas.

Do lado da oferta, o comércio (varejista e atacadista) arrefeceu sua queda de -2,6% no último trimestre de 2015 para -1,0% nesse início de 2016. Em transportes, armazenagem e correio, o patamar de queda passou de -1,9% para -0,4% no mesmo período. Já no caso de administração, saúde e educação pública e no caso de outros serviços o declínio se reverteu em crescimento: de -1,1% para +0,1% e de -2,2% para +0,1%, respectivamente.

Do lado da demanda, o consumo do governo foi o único componente a contribuir positivamente para o PIB ao lado das exportações: sua queda de -2,9% no quarto trimestre de 2015 foi revertida em alta de +1,1% neste primeiro trimestre de 2016. A formação bruta de capital fixo, por zua vez, caiu menos, passando de -4,8% para -2,7% no mesmo período.

O consumo das famílias, entretanto, não dá sinais de melhora porque o emprego e a renda continuam em franca queda e o crédito segue em retração. O declínio de -0,9% do último trimestre de 2015, com ajuste sazonal, parece ter sido um alívio passageiro, já que a retração de -1,7% neste início de 2016 retoma o patamar do terceiro trimestre de 2015 (-1,6%).

Frente a esses dados, estaríamos no limiar de uma recuperação? A resposta infelizmente é não, por enquanto. O momento atual deve ser interpretado como um estágio em que a crise começa a gerar condições para sua superação.

Para a efetiva recuperação da economia alguns fatores são essenciais: manutenção do câmbio no atual patamar, de forma a continuar impulsionando as exportações, e avançar na redução dos juros. Com isso, a demanda potencial que está se formando se tornará demanda efetiva. Ao sinalizar ao consumidor e ao investidor de que a tormenta está passando, a redução dos juros e a volta do crédito possibilitariam uma maior ousadia para que esses agentes retomassem projetos para além de seus gastos correntes.

Se o governo pudesse gerar uma demanda autônoma seria também muito bem-vindo. Em um momento de escassos recursos fiscais, o que é possível e desejável de ser feito é avançar nos programas de concessões públicas. Além de dinamizar alguns setores, as concessões também podem contribuir para o aumento da competitividade da economia do país.

Se estamos em uma antessala da recuperação, existem ainda riscos não desprezíveis de uma recaída. O maior deles é o aprofundamento da crise política, por ensejar nova depressão de expectativas, abortando a estabilização das perdas de setores mais elásticos ao ciclo econômico como o de bens de capital e o de bens de consumo duráveis.
  

 
Resultados Gerais. Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2016 atingiu os R$1,474 trilhão a preços de mercado. O índice trimestral com ajuste sazonal, por sua vez, assinalou frente ao trimestre imediatamente anterior uma contração de 0,3%. Frente ao mesmo trimestre de 2015, o PIB brasileiro assinalou recuo de 5,4%, oitava queda seguida nesta comparação. Nos últimos quatro trimestres, comparados com o mesmo período imadiatamente anterior, o resultado foi negativo em 4,7%, a maior queda da série histórica iniciada em 1996.

Ótica daOferta. Da ótica da oferta, na comparação do índice do 1º trimestre de 2016 com o 4º trimestre de 2015, todas as atividades registraram queda: Agropecuária (-0,3%), Indústria (-1,2%) e Serviços (-0,2%). Dentre as atividades dos serviços, podemos destacar a retração do comércio (-1,0%), intermediação financeira e seguros (-0,8%) e os serviços de informação (-0,7%) . Na indústria, colaborou para o resultado negativo a indústria extrativa mineral (-1,1%), indústria de transformação (-0,3%) e construção civil (-1,0%), enquanto eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (1,9%) foi a única atividade a assinalar alta.

Frente ao mesmo trimestre de 2015, o resultado de -5,4% foi influenciado pela Indústria (-7,3%), Serviços (-3,7%) e Agropecuária (-3,7%). Dentre os subsetores da indústria, a indústria de transformação (-10,5%), extrativa mineral (-9,6%) e construção civil (-6,2%) influenciaram negativamente o resultado . Nos Serviços, destacaram-se as contrações em comércio (-10,7%), transporte, armazenagem e correio (-7,4%), serviços de informação (-5,0%), outros serviços (-3,4%), intermediação financeira e seguros (-1,8%) e a administração, saúde e educação pública (-0,8%). A agropecuária assinalou retração devido a queda da produção de fumo em folha (-20,9%), arroz em casca (-7,6%) e milho em grão (-5,0%).

Ótica da Demanda. O desempenho do primeiro trimestre do PIB em 2016 em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) foi resultado da retração de todos os componentes da demanda interna: a formação bruta de capital fixo (-2,7%), despesa de consumo das famílias (-1,7%), enquanto a despesa de consumo do governo cresceu 1,1%. Em relação ao setor externo, as exportações de bens e serviços tiveram expansão de 6,5%, enquanto que as importações de bens e serviços recuaram 5,6%.

Na comparação com mesmo trimestre de 2015, destacou-se negativamente o resultado da a despesa de consumo das famílias (-6,3%), formação bruta de capital fixo (-17,5%). No setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 13,0%, enquanto que as importações de bens e serviços caíram em 21,7%, ambas influenciadas pela desvalorização cambial de 37% e pelo desempenho da atividade econômica.

 

 

 

 

 

 

Leia outras edições de Análise IEDI no site do IEDI


Leia no site do IEDI: Uma Nova Agenda para a Política de Comércio Exterior do Brasil - Estudo que aponta que a Política de Comércio Exterior do Brasil precisa ser revista e reestruturada para que promova a real inserção do País no comércio internacional.