29 de abril de 2016

Emprego
A escalada do desemprego


   

 
Empregar e desempregar envolvem custos importantes para os empresários, sendo esta uma das principais razões por que estes relutam em contratar ou demitir funcionários diante das oscilações de seus mercados. Não há dúvidas de que as perspectivas de produção e de venda é que regulam as decisões de empregar, porém os empresários preferem antes de aumentar ou diminuir seus efetivos terem maior certeza do que estão fazendo, optando por ampliar ou reduzir as horas trabalhadas.

Em outras palavras, é preciso, se convencer de que o nível de produção esperado veio para ficar antes de tomar decisões sobre o número de mão de obra empregada. Os empresários evitam, assim, custos adicionais derivados da flutuação da produção e do emprego.

A reação empresarial sobre o emprego aparece, então, com alguma defasagem em relação à deterioração de sua confiança e às decisões de corte na produção. O quadro do desemprego brasileiro refletido nos últimos dados da Pnad Contínua reflete a piora da economia nos últimos meses. A taxa de desemprego atingiu 10,9% no primeiro trimestre de 2016.

O contingente de desempregados alcançou nesse trimestre a 11,1 milhões de pessoas, um acréscimo de 3,1 milhões de indivíduos frente ao primeiro trimestre de 2015. Dois fatores levaram a esse aumento.

Primeiro: a adição de 1,7 milhão de pessoas à força de trabalho, resultado em grande medida das estratégias familiares de recomposição de seus orçamentos, levando a um maior número de membros das famílias em busca de colocação no mercado de trabalho.

Segundo: frente ao mesmo período do ano passado, 1,4 milhão de indivíduos perderam sua ocupação neste primeiro trimestre de 2016. Daí a situação dramática do emprego no país.

Devido a defasagem já mencionada entre produção e emprego, a queda da população ocupada no país começou a se apresentar apenas na segunda metade de 2015. Desde então, tem assumido uma trajetória devastadora. Frente ao mesmo período do ano anterior, as quedas foram de 179 mil e 630 mil, nos dois últimos trimestres de 2015, e agora, como vimos, 1,4 milhão, partindo de valores positivos nos dois primeiros trimestres de 2015 (+771 mil e +159 mil).

Sabemos que a liderança desse processo é da indústria, que atravessa uma crise sem precedentes. Suas demissões líquidas somaram 1,5 milhão de pessoas em comparação com o mesmo período de 2015. Também despontam o setor de serviços (informação, comunicação, atividades financeiras e imobiliárias) e a agropecuária com cortes de postos de trabalho de 656 mil e 108 mil indivíduos, respectivamente.

Se os dados acima mostram com clareza o dramático quadro do desemprego em vigor no país, pior ainda é que este quadro não dá sinais de mudança. A despeito de os setores de varejo, de serviços e a própria indústria registrarem índices nos últimos meses de relativa moderação do ritmo de piora em seu nível de atividade.

Nessas condições, o rendimento médio real das pessoas ocupadas tem agravado sua retração. De fato, o rendimento médio real de todos os trabalhos habitualmente recebidos, que passaram a cair no último trimestre de 2015 (-2,6%), aprofundou seu declínio na entrada de 2016 (-3,2% frente ao mesmo período do ano anterior).

Maior desemprego e redução do rendimento só poderiam implicar em contração da massa salarial, esta que é base do consumo popular no país. O recuo real da massa atingiu 4,1% nos três primeiros meses de 2016.
  

 
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação atingiu 10,9% no trimestre encerrado em março de 2016, 3,0 p.p. maior que a taxa observada no mesmo trimestre findo em março do ano passado (7,9%). No trimestre móvel anterior sem sobreposição (outubro a dezembro de 2015) a taxa foi de 9,0%.

O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 1.966,00, o que representou expansão de 0,3% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e uma redução de 3,2% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior. Já o rendimento real médio do trabalho principal habitualmente recebido alcançou R$ 1.914,00, que responde por um aumento de 0,3% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e retração de 3,1% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.

A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 173,5 bilhões, variação de -1,3% frente ao trimestre anterior sem sobreposição e 4,1% inferior ao registrado no mesmo trimestre de 2015.

No trimestre de referência, a população ocupada alcançou 90,6 milhões de pessoas, o que representou redução de 1,5% frente ao mesmo trimestre do ano anterior. Na mesma comparação, o número de pessoas dentro da força de trabalho teve aumento de 1,8% atingindo 101,7 milhões de pessoas e o número de desocupados aumentou 39,8% e alcançou 11,1 milhões de pessoas.

Frente ao mesmo trimestre de 2015, o número de pessoas ocupadas dentre as posições de ocupação apresentou crescimento em duas categorias: trabalhador por conta própria (6,5%) e trabalhador doméstico (3,4%). As demais tiveram retração, com destaque para trabalho privado sem carteira (-3,3%), setor público (-3,3%), trabalho privado com carteira (-4,0%), empregador (-8,6%) e trabalho auxiliar familiar (-19,1%).

Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre janeiro e março de 2015, estão transporte, armazenagem e correios (4,3%), serviços domésticos (4,3%), alojamento e alimentação (4,0%), administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (2,4%) e outros serviços (0,2%). O setor de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas registrou estabilidade no período e agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-1,1%), construção (-1,2%), informação, comunicação e atividades financeiras imobiliárias, profissionais e administrativas (-6,3%) e indústria (-11,5%).

 

 

 

 

 

 

Leia outras edições de Análise IEDI no site do IEDI


Leia no site do IEDI: Para Vencer a Crise - Documento do IEDI que oferece ao debate nacional linhas gerais de um programa destinado a recolocar o País na trilha do desenvolvimento