28 de abril de 2016

Crédito
Racionamento de crédito


   

 
Ao que tudo indica, este deve ser mais um ano de forte recessão econômica. Além de reincidente, o impacto disso sobre as empresas é cumulativo, tornando sua situação ainda mais grave, inclusive para honrar seus compromissos financeiros.

O receio de todos é que os atrasos crescentes no pagamento das dívidas convertam-se em níveis de inadimplência a ponto de comprometer a solvência dos próprios financiadores. Diferentemente de outras atividades, o sistema de financiamento é muito interligado e baseado na confiança de seus participantes. A crise de um deles pode pôr em risco todo o sistema. Trata-se do “risco sistêmico”.

A consequência disso seria uma fortíssima contração do crédito às empresas e às famílias, um problema grave porque já estamos vivendo um racionamento de crédito (“credit crunch”), segundo os dados divulgados hoje pelo BC.

O declínio do agregado das concessões, que reúne empresas e famílias, no primeiro trimestre de 2016 alcançou 8,8% em termos reais, acelerando com relação ao último trimestre de 2015 quando caíra 7,2%. Quem liderou a aceleração foram as concessões para as empresas, com redução de 12,5% frente ao mesmo trimestre do ano anterior também em termos reais, mais do que o dobro do ritmo de retração do trimestre precedente (-5,6%)

Na contramão, as concessões para as famílias desaceleraram sua queda: foi de -5,7% no primeiro trimestre de 2016 contra -8,7% no último trimestre de 2015. Ao que parece, as mudanças no crédito consignado (uso do FGTS como garantia, aumento do percentual máximo de margem consignável e extensão dos prazos) podem ter servido à reestruturação do endividamento familiar.

Ainda no que diz respeito ao crédito para as pessoas físicas, é digno de registro a moderação do declínio das concessões reais para a aquisição de veículos (queda de 20,4% contra -28,4% no trimestre anterior) e de bens duráveis (-17,7% contra -24,7%, respectivamente). Tais resultados, embora ainda muito insuficientes, são favoráveis para uma futura recuperação do crédito.

Quanto à inadimplência, esta continua em trajetória de elevação, mas ainda sem grandes solavancos. No que diz respeito às famílias, avançou de 4,2%, em dezembro de 2015, para 4,3% em março de 2016, e no caso das empresas, de 2,6% para 2,9% respectivamente.

Cabe notar, contudo, que o indicador antecedente da inadimplência, isto é, os atrasos entre 15 e 90 dias, para o crédito livre contratado pelas empresas vêm subindo mais consistentemente nesse início de ano, passando de 3,2% para 4,1% entre dezembro e março.

Como a conjuntura econômica continua muito ruim, não se pode descartar a possibilidade de que uma parte importante desses atrasos venha, de fato, se tornar inadimplência, inclusive porque os juros cobrados por seus empréstimos não param de subir.
 

 
Resultados Gerais. Os dados de crédito, divulgados hoje pelo Banco Central, indicaram que o saldo das operações alcançou R$ 3.161 bilhões em março, que corresponde a uma participação no PIB de 53,1%. As operações de crédito realizadas a partir de recursos livres responderam por 26,7% do PIB e a parcela com recursos direcionados, por 26,3% do PIB.

A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.592 bilhões o que representou uma retração de 0,6% frente ao mês anterior, em termos nominais. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a expansão nominal foi de 3,3%. O valor destas operações realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$ 799,8 bilhões, expansão nominal de 1,7% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 792,6 bilhões, apresentando estabilidade frente a março de 2015.

O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu em dezembro R$ 1.568,2 bilhão, o que representou, em termos nominais, retração de 0,7% frente ao mês anterior e expansão de 5,8% frente a março de 2015. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 720,5 bilhões (aumento nominal de 10,5% sobre o mesmo mês do ano anterior), enquanto que, para pessoas jurídicas, foi de R$ 847,7 bilhões (2,1% maior do que o mês de fevereiro de 2015).

No mês de março foram concedidos R$ 292,2 bilhões em novas operações de crédito, frente a R$ 326,5 bilhões no mesmo mês do ano passado, uma variação negativa de 10,5%. Deste volume, R$ 262,8 bilhões foram originados de recursos livres (redução de 8,8% frente ao mesmo mês do ano anterior), sendo que 54,9% em operações junto a pessoas físicas e 45,1% para a pessoas jurídicas.

Dentre as concessões de crédito às pessoas jurídicas a partir de recursos livres, destacaram-se as operações de cartão de crédito (R$ 87,4 bilhões), cheque especial (R$ 31,3 bilhões) e crédito pessoal (R$ 17,2 bilhões). Junto às empresas, as principais modalidades foram conta garantida (R$ 20,8 bilhões), cheque especial (R$ 20,8 bilhões), capital de giro (R$ 17,0 bilhões) e desconto de duplicatas (R$ 11,3 bilhões).

Nas novas concessões de crédito realizadas com recursos direcionados destacaram-se, para pessoas físicas, as modalidades de crédito rural (R$ 5,1 bilhões) e financiamento imobiliário (R$ 7,2 bilhões). Para as empresas, as principais modalidades foram crédito rural (R$ 5,8 bilhões), BNDES (R$ 5,2 bilhões) e financiamentos imobiliários (R$ 2,9 bilhões).

Quanto às concessões com recursos direcionados, a variação nominal foi de -22,8% frente a março de 2015, atingindo R$ 29,5 bilhões. Deste montante, 47,5% foram destinados como crédito às famílias e 47,5% destinados a pessoas jurídicas.

Setores. Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 804,2 bilhões, o que representa uma expansão nominal de 0,5% frente a março de 2015. No caso da indústria de transformação, a redução do saldo nominal de crédito foi de 1,3% nesta mesma comparação, atingindo o valor de R$ 449,2 bilhões. O setor agropecuário respondeu por R$ 24,1 bilhões do montante, valor 0,7% maior, em termos nominais, do que o registrado em março de 2015. O saldo do setor de serviços foi de R$ 774,0 bilhões, aumento nominal de 1,0% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Juros e Inadimplência. A taxa média de juros total atingiu 32,0% a.a. em março. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 50,9% a.a. (avanço de 10 p.p. em relação a março de 2015): 69,2% para pessoas físicas e 31,0% para pessoas jurídicas. Já no âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 10,9 % a.a. (aumento de 2,4 p.p.): média de 10,1% para pessoas físicas e 11,9% para pessoas jurídicas.

A inadimplência total de fevereiro manteve-se em 3,5%, um aumento de 0,7 p.p. em relação a fevereiro de 2015. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência média registrada foi de 5,6%: 6,2% para pessoas físicas e 4,9% para pessoas jurídicas. Para os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa média foi de 1,5% (variação de 0,4 p.p. desde março de 2015): 2,1% para as famílias e 1,0% para empresas.

 

 

 

 

 

 

 

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