27 de abril de 2016

Economia Global
Perspectivas para 2016 e 2017


   

 
É inegável que a crise atual da economia brasileira tem determinantes domésticos, mas não devemos subestimar as dificuldades que teimam em persistir no cenário externo. Por isso, a Carta IEDI, a ser divulgada hoje, avalia a evolução recente e as perspectivas para a economia global em 2016 e 2017, a partir da edição de abril do World Economic Outlook (WEO) do Fundo Monetário Internacional (FMI). A conclusão é que o Brasil não poderá contar muito com a economia internacional para superar sua crise.

As novas projeções do Fundo preveem uma expansão de 3,2% da economia mundial em 2016, cifra 0,2 ponto percentual (p.p.) inferior àquela divulgada em janeiro, que também tinha recuado 0,2 p.p frente à estimativa de outubro (3,6%). Dado que o desempenho global foi de 3,1% em 2015, o cenário básico desse organismo multilateral sugere que a economia mundial andará de lado em 2016.

A estimativa de crescimento para 2017 também foi revista para baixo (de 3,6% em janeiro para 3,5% em abril), mas em menor intensidade do que aquela de 2016. Embora a previsão aponte para uma recuperação ligeiramente maior (de +0,2 p.p. para +0,3 p.p frente a 2016), o cenário continua sendo decepcionante.

Como sintetiza o título da recente publicação do FMI, o crescimento econômico mundial está “too slow, too long”, ou seja, muito baixo por muito tempo. Esse diagnóstico fica evidente na trajetória do Produto Interno Bruto (PIB) global nos períodos anterior e posterior à crise financeira e à grande recessão.

Na fase de boom, entre 2003 e 2007, a média de crescimento foi de 5,1%. Em contrapartida, na fase pós-crise (2010-2015), a média foi de apenas 3,5%, já que, após a retirada prematura dos estímulos fiscais, as políticas monetárias não convencionais foram insuficientes para manter o maior dinamismo registrado no biênio 2010-11. A partir de 2012, a economia global voltou a crescer mas em num patamar inferior a 4%, padrão que, segundo o FMI, perdurará até 2017.

O maior pessimismo do FMI para 2016 reflete a redução das projeções tanto para as economias avançadas como para as economias emergentes e em desenvolvimento. No caso das primeiras, o desempenho de 2016 deverá repetir 2015 (1,9%), enquanto em outubro e janeiro as previsões eram de aceleração do crescimento (2,2% e 2,1%). No âmbito das economias emergentes e em desenvolvimento, a previsão de abril aposta em ligeira aceleração do crescimento, dos 4% registrados em 2015 para 4,1% em 2016, o que representa um corte de 0,4 p.p. da previsão feita em outubro passado.

A piora no cenário das economias emergentes e em desenvolvimento em relação à previsão anterior decorreu de dois fatores. Em primeiro lugar, do impacto maior do que o anteriormente previsto da desaceleração chinesa sobre as demais economias desse grupo, por canais diretos (queda das importações) e indiretos (queda dos preços das commodities).

Em segundo lugar, os ingressos de capitais nessas economias atingiram no segundo semestre de 2015 seu menor patamar desde a crise financeira global. Além das expectativas de alta da taxa básica de juros dos Estados Unidos, que se confirmaram em dezembro, contribuíram para isso a turbulência financeira na China no terceiro trimestre de 2015 e as incertezas sobre o impacto da desaceleração desse país sobre as demais economias emergentes.

Ou seja, o impacto das mudanças na dinâmica da economia chinesa sobre essas economias não se restringe mais ao comércio mundial, como observado antes da crise financeira global. No contexto atual, essas mudanças também se propagam por canais de transmissão financeiros.

Nesse contexto, quem mais deve sofrer são os países da América Latina, sobretudo os exportadores de commodities e os mais dependentes de financiamento externo. Para 2016, a projeção de crescimento do PIB latino-americano passou de +0,8%, em outubro, para -0,5% em abril. A revisão para baixo do Brasil foi o principal determinante: -3,8% em 2016 (mesmo patamar de 2015), contra as projeções de -1% e -3,5% realizadas em outubro e janeiro.

Já em 2017, o FMI prevê uma relativa aceleração do PIB global, passando de 3,2%, em 2016, para 3,5%. Isso seria resultado essencialmente do desempenho das economias emergentes e em desenvolvimento, devido sobretudo aos seguintes fatores: (1) normalização gradual das condições macroeconômicas nas economias em situação de stress desde 2015; (2) reequilíbrio bem sucedido da economia chinesa, o que significa manutenção de taxas de crescimento elevadas, embora menores do que nas duas últimas décadas; (3) recuperação da atividade econômica nos países exportadores de commodities, embora num ritmo também mais modesto que no passado.

O perigo é que todas essas hipóteses que fundamentam a perspectiva de melhora do dinamismo mundial em 2017 não venham a se verificar de fato. É o que sugere o fato de a probabilidade do cenário básico para 2016 e 2017 se confirmar ter sido reduzida em comparação com as duas edições anteriores do WEO em função de riscos de natureza econômica e não econômica (associados a conflitos geopolíticos, terrorismo e fluxos de refugiados).

Isso significa dizer que não apenas o desempenho mundial tem sido decepcionante como tem aumentado o peso da incerteza sobre ele. Em consequência, o Brasil não deve poder contar muito com a melhora da economia internacional para ajudá-lo a superar a crise econômica em que se encontra.
   

 

 

 

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