20 de abril de 2016

Emprego
Quatro tendências negativas


   

 
Nesse início de ano o quadro do emprego é marcado por tendências muito relevantes, mas infelizmente nenhuma delas é positiva. A ver pelos dados da Pnad contínua, divulgados hoje pelo IBGE, a situação das famílias deve continuar complicada, podendo muito provavelmente se agravar nos próximos meses. A seguir, selecionamos quatro dessas tendências.

  1. No trimestre formado por dezembro de 2015 e janeiro e fevereiro de 2016 a taxa de desemprego rompeu a barreira dos 10%, chegando a 10,2%. Com isso, a população desocupada nesse período foi superior a 10 milhões de pessoas, dando fortes sinais de que a piora do emprego continua em franco progresso. A rapidez em que isso tem ocorrido fica evidente ao se levar em conta que um ano antes, nesse mesmo trimestre, a taxa de desemprego era de 7,4% (7,4 milhões de pessoas). Ou seja, em um ano ficaram desempregadas 3 milhões a mais de pessoas.
     
  2. Refletindo a grave crise industrial, a dianteira da queda do emprego é ocupada pela indústria. No trimestre findo em fev/16, a perda de postos deste setor chegou a 1,4 milhão frente ao mesmo período do ano anterior (-10,4%). Bem atrás veio o setor de serviços (administrativos, de informação, comunicação, financeiros e imobiliários), com redução de 809 mil postos (-7,7%) na mesma comparação.
     
  3. O segmento do mercado de trabalho menos sujeito às flutuações da economia, a saber, os empregos da administração pública, defesa, educação, saúde e serviços sociais, não vem repetindo seu tradicional papel anticíclico nos últimos meses. No trimestre findo em fev/16, em comparação com o trimestre anterior (set-out-nov/15), houve redução de 335 mil empregos (-2,1%), só ficando atrás da indústria, que perdeu 740 mil postos (-5,9%).
     
  4. Para aqueles que ainda tem conseguido se manter empregados, o alívio é apenas relativo uma vez que, na média, seu rendimento real tem sofrido uma rápida e intensa contração. No trimestre encerrado em fev/16 frente ao mesmo período do ano anterior a queda foi de 3,9% do rendimento real médio habitualmente recebido de todos os trabalhos. Ao se associar com o recuo do emprego, esse comportamento do rendimento real produziu, por sua vez, um declínio de 4,7% da massa de salários no último trimestre.

Diante do arrocho do crédito e da expressiva elevação dos juros, as quedas cada vez maiores da massa de rendimentos dificultam ainda mais a gestão da dívida das famílias e reforçam as expectativas negativas para o consumo, e com isso, para o desempenho do comércio e das vendas de bens industriais, bem como dos serviços pessoais.
  

 
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação atingiu 10,2% no trimestre encerrado em fevereiro de 2016, 2,8 p.p. maior que a taxa observada no mesmo trimestre findo em fevereiro do ano passado (7,4%). No trimestre móvel anterior sem sobreposição (setembro a novembro de 2015) a taxa foi de 9,0%.

No trimestre de referência, a população ocupada alcançou 91,1 milhões de pessoas, o que representou redução de 1,3% frente ao mesmo trimestre do ano anterior. Na mesma comparação, o número de desocupados aumentou 40,1% e alcançou 10,4 milhões de pessoas.

Frente ao mesmo trimestre de 2015, o número de pessoas ocupadas dentre as posições de ocupação apresentou crescimento em duas categorias: trabalhador por conta própria (7,0%) e trabalhador doméstico (2,7%). As demais tiveram retração, com destaque para trabalho auxiliar familiar (-16,2%), trabalho privado sem carteira (-4,8%), trabalho privado com carteira (-3,8%), setor público (-3,0%) e empregador (-5,4%).

Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre dezembro de 2014 e fevereiro de 2015, estão transporte, armazenagem e correios (5,3%), alojamento e alimentação (4,4%), serviços domésticos (3,9%), administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (1,8%), comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (0,6%) e agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (0,2%). No sentido oposto, a redução da população ocupada dos setores de indústria (-10,4%), informação, comunicação e atividades financeiras imobiliárias, profissionais e administrativas (-7,7%), outros serviços (-0,3%) e construção (-0,2%) garantiram a retração do indicador consolidado.

O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 1.934,00, o que representou uma redução de 3,9% frente ao mesmo trimestre de referência do ano anterior. A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 171,3 bilhões, 4,7% inferior ao registrado no mesmo trimestre de 2014/15.

 

 

 

 

 

 

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