12 de abril de 2016

Comércio Varejista
O pior já passou?


   

 
O resultado das vendas reais do varejo (restrito) divulgado hoje pelo IBGE mostra um crescimento de 1,2% no mês de fevereiro frente a janeiro, sem efeitos sazonais. No caso do comércio ampliado, que inclui automóveis e materiais de construção, a alta foi de 1,8%, puxada pela maioria dos ramos pesquisados.

O dado em si é significativo, já que é o melhor desempenho para este mês desde 2010, mas uma análise mais acurada sugere cautela em sua interpretação devido à volatilidade que vem acompanhando alguns dos principais ramos do comercio varejista desde os meses finais do ano passado. Assim, pode ser que o crescimento em fevereiro não esteja indicando que o pior já passou para o comércio. Esse convencimento ainda está por vir.

Vamos olhar com mais vagar a evolução recente de três dos ramos mais importantes, que tiveram crescimento em fevereiro, mas que vêm apresentando volatilidade nos últimos meses: hiper e supermercados, produtos alimentícios bebidas e fumo, cujas vendas são mais influenciadas pelo rendimento real das famílias, e móveis e eletrodomésticos e veículos e autopeças, mais dependentes das condições de crédito.

No primeiro caso, as vendas tiveram queda importante no final do ano passado, em muito, devido à forte elevação de preço dos alimentos. Depois da maior contração em novembro (-1,8%), os recuos foram se arrefecendo na série com ajuste sazonal frente ao mês anterior: -1,1% e -0,8% em dez/15 e jan/16, voltando ao campo positivo em fevereiro (+0,8%).

As vendas de móveis e eletrodomésticos vem tendo variações frente ao mês anterior ainda mais bruscas: +4,9% e -8,1% em novembro e dezembro do ano passado e -5,4% e +5,0% em janeiro e fevereiro de 2016, sempre com ajuste. O crescimento do último mês, que à primeira vista pode parecer expressivo, decorre, então, de uma base baixa de comparação, depois de dois meses consecutivos de quedas importantes.

Já no caso de veículos e autopeças, a alta de 3,8% em fevereiro frente a janeiro com ajuste sazonal deve ser avaliada à luz da retração de 2,2%, em janeiro, depois de o setor ter conseguido manter suas vendas no azul por dois meses consecutivos (+1,5% em nov/15 e +0,4% em dez/15). Depois de um mês de agosto bastante ruim (-6,1%), parece que o comércio de veículos e peças se esforça, mês após mês, para evitar novas quedas na margem.

Essas trajetórias cheias de percalços também podem ser vistas, um pouco mais suavizadas, nas variações em relação ao mesmo período do ano anterior, indicando que aquilo que já estava ruim, de fato, ficou pior no final de 2015, voltando a ficar ruim em 2016.

Isso é mais claro para as vendas de hiper e supermercados, produtos alimentícios bebidas e fumo, cujas variações dos três últimos bimestres de 2015 e do primeiro de 2016 foram, em ordem, as seguintes: -3,8%, -3,8%, -4,6% e -3,7%, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior. E também para veículos e autopeças, cujas variações foram: -14,4%, -16,9%, -22,1% e -14,7%.

Para o comércio de móveis e eletrodomésticos, por sua vez, o início de 2016 não parece ter trazido alívio quando olhamos para o desempenho do primeiro bimestre, -18,7%, e para os três últimos bimestres de 2015, -15,7%, -18,3% e -17,0%, respectivamente.
  

 
De acordo com dados da Pesquisa Mensal do Comércio de fevereiro de 2016 divulgados hoje pelo IBGE, o índice de volume de vendas do comércio varejista, a partir de dados dessazonalizados, registrou expansão de 1,2% em relação a janeiro. Na comparação com fevereiro do ano passado, a queda foi de 4,2% e nos últimos 12 meses, de -5,3%.

O comércio varejista ampliado, que inclui vendas de veículos, motos, partes e peças e de materiais de construção, registrou avanço de 1,8% sobre janeiro, a partir de dados livres de influências sazonais e apresentou decréscimo de 5,6% sobre fevereiro do ano passado. Nos últimos 12 meses, a variação foi de -9,1%.

A partir de dados dessazonalizados de fevereiro, frente ao mês anterior, apresentaram expansão do volume de vendas os segmentos de móveis e eletrodomésticos (5,0%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,8%), combustíveis e lubrificantes (0,6%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,3%). Responderam pelas variações negativas tecidos, vestuário e calçados (-2,8%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-2,4%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,3%). No varejo ampliado, a venda de veículos e motos, partes e peças apresentou aumento de 3,8% e a de material de construção, 3,3%.

Em relação ao mês de fevereiro de 2015, apenas o segmento de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos registrou variação positiva, de 6,2%. Os demais contribuíram negativamente para o índice, puxados por livros, jornais, revistas e papelaria (-17,3%), equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-16,3%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-11,4%), móveis e eletrodomésticos (-10,9%), combustíveis e lubrificantes (-4,1%) e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-1,4%). No varejo ampliado, a venda de material de construção retraiu 11,1% enquanto que a de veículos e motos, partes e peças encolheu 6,6%.

Em relação a fevereiro de 2015, apenas os estados de Minas Gerais (3,0%) e Roraima (1,9%) apresentaram aumento do volume de vendas no varejo. Os estados do Amapá (17,1%), Sergipe (-12,8%), Amazonas (-10,8%), Pernambuco (-9,5%), Bahia (-9,5%), Acre (-8,5%), Rio Grande do Norte (-8,4%) registraram as maiores variações.

 

 

 

 

 

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