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Existem poucas economias, se é que existe mais alguma,
onde os consumidores pagam taxas de juros de 36% ao ano e as empresas
de mais de 20% a.a., resultando em uma média de 28,8% a.a.,
em fevereiro de 2016. E isso descontada a taxa de inflação
dos últimos 12 meses e já levando em conta o crédito
direcionado, como o crédito agrícola, habitacional
e para o investimento, cujas taxas de juros são mais baixas.
Tais níveis
de taxas de juros são um dos determinantes da aguda retração
por que passa a economia brasileira. E pior, elas vêm subindo
significativamente. Tomando por base dez/14 a taxa média
de juros subiu de 22,3% a.a. para os 28,8% a.a. já mencionados.
Com isso, foram afetados aqueles gastos que exigem algum tipo
de financiamento, como as decisões de investimento ou as
compras de bens de consumo duráveis.
Essa evolução
é resultado da combinação de dois fatores.
O primeiro deles decorre da própria política de
juros do Banco Central, que encareceu o custo de captação
dos bancos. Vale lembrar que a taxa básica de juros (Selic)
vem numa escalada desde o início de 2013 e apenas entre
meados de 2014 e início de 2016 subiu de 11% a.a. para
14,25% a.a.
O segundo
fator diz respeito às estratégias bancárias
que implicaram na elevação de suas margens. Entre
os meses de fevereiro de 2015 e 2016 o spread médio das
concessões passou de 16,7 para 20,8 pontos percentuais,
em termos nominais, a despeito de um aumento relativamente moderado
da inadimplência média (+0,7 p.p. no mesmo período).
Ainda mais
preocupante foi a alta das taxas de empréstimo de algumas
modalidades importantes. No crédito às famílias
chamam atenção os juros do cheque especial que saltaram,
em termos nominais, de 214,2% a.a. para 293,9% a.a. entre fev/15
e fev/16. Em seguida, vêm os juros do crédito pessoal
não consignado (de 108% a.a. para 122,8% a.a.) e do cartão
de crédito (de 78,6% a.a. para 107,8% a.a. no mesmo período).
As principais
modalidades de crédito às empresas também
ficaram consideravelmente mais caras: as taxas de cheque especial
avançaram de 201,2% a.a. para 290,8% a.a. entre fev/15
e fev/16, as da conta garantida, de 43,4% para 51,1% a.a. e as
do capital de giro, de 23,2% para 28,8% a.a. no mesmo período.
Mesmo o conjunto
dos financiamentos ao investimento concedidos pelo BNDES sofreram
elevação de juros, chegando, em termos nominais,
a 12,0% a.a. em fevereiro de 2016, contra 8,6% a.a. no mesmo mês
do ano passado. Se tomarmos a atual série histórica
do Banco Central, iniciada em março de 2011, essas taxas
nunca estiveram tão altas como nos dois primeiros meses
de 2016. Este é mais um elemento a pesar contra o investimento
e à produção de bens de capital.
Fala-se muito
de criar condições para que a economia se recupere.
Uma delas é certamente que o crédito volte a crescer
e que suas condições melhorem. Isso porque, já
há algum tempo, além de mais caro, o crédito
também tem se tornado cada vez mais raro. Em fevereiro,
o acumulado das concessões de crédito nos últimos
12 meses caiu 6,6%, em termos reais, atingindo as famílias
(-5,0%) e principalmente as empresas (-8,5%).
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Resultados Gerais. Os dados de crédito, divulgados
hoje pelo Banco Central, indicaram que o saldo das operações
alcançou R$ 3.184,2 bilhões, que corresponde a uma participação
no PIB de 53,6%. As operações de crédito realizadas
a partir de recursos livres responderam por 27,0% do PIB e a parcela com
recursos direcionados, por 26,6% do PIB.
A carteira de crédito
com recursos livres atingiu R$ 1.604,8 bilhões o que representou
uma retração de 0,6% frente ao mês anterior, em termos
nominais. Em relação ao mesmo mês do ano anterior,
a expansão nominal foi de 2,6%. O valor destas operações
realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$ 801,6 bilhões,
crescimento nominal de 2,4% frente ao mesmo mês do ano anterior.
Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas
alcançou R$ 803,2 bilhões, aumento de 2,8% frente a fevereiro
de 2015.
O estoque de crédito
com recursos direcionados atingiu em dezembro R$ 1.579,6 bilhão,
o que representou, em termos nominais, leve retração de
0,3% frente ao mês anterior e expansão de 8,2% frente a fevereiro
de 2015. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 714,4 bilhões
(aumento nominal de 10,9% sobre o mesmo mês do ano anterior), enquanto
que, para pessoas jurídicas, foi de R$ 865,2 bilhões (6,1%
maior do que o mês de fevereiro de 2015).
No mês de fevereiro foram concedidos R$ 260,1 bilhões em
novas operações de crédito, frente a R$ 266 bilhões
no mesmo mês do ano passado, o que em termos nominais representa
uma variação negativa de 2,0%. Deste volume, R$ 238,7 bilhões
foram originados de recursos livres (estável frente ao mesmo mês
do ano anterior), sendo que 58,1% em operações junto a pessoas
físicas e 41,9% para a pessoas jurídicas. Quanto às
concessões com recursos direcionados, a variação
nominal foi de -20,5% frente a fevereiro de 2015, atingindo R$ 21,3 bilhões.
Deste montante, 51,2% foram destinados como crédito às famílias
e 48,8% destinados a pessoas jurídicas.
Setores. Do
saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira
de operações para indústria alcançou R$ 815,1
bilhões, o que representa uma expansão nominal de 3,9% frente
a fevereiro de 2015. No caso da indústria de transformação,
o aumento do saldo nominal de crédito foi de 1,9% nesta mesma comparação,
atingindo o valor de R$ 457,8 bilhões. O setor agropecuário
respondeu por R$ 24,7 bilhões do montante, valor 5,1% maior, em
termos nominais, do que o registrado em fevereiro de 2015. O saldo do
setor de serviços foi de R$ 786,7 bilhões, aumento nominal
de 4,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior.
Juros e Inadimplência.
A taxa média de juros total atingiu 31,8% a.a. em fevereiro.
Nas operações originadas a partir de recursos livres, a
taxa média foi de 50,6% a.a. (avanço de 10 p.p. em relação
a fevereiro de 2015): 68,0% para pessoas físicas e 31,9% para pessoas
jurídicas. Já no âmbito das operações
de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média
foi de 10,7 % a.a. (aumento de 2,4 p.p.): média de 9,7% para pessoas
físicas e 11,8% para pessoas jurídicas.
A inadimplência
total de fevereiro manteve-se em 3,5%, um aumento de 0,7 p.p. em relação
a fevereiro de 2015. Nas operações feitas com recursos livres,
a taxa de inadimplência média registrada foi de 5,5%: 6,2%
para pessoas físicas e 4,7% para pessoas jurídicas. Para
os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa média foi
de 1,5% (variação de 0,3 p.p. desde fevereiro de 2015):
2,2% para as famílias e 1,0% para empresas.
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