29 de março de 2016

Crédito
Crédito cada vez mais caro


   

 
Existem poucas economias, se é que existe mais alguma, onde os consumidores pagam taxas de juros de 36% ao ano e as empresas de mais de 20% a.a., resultando em uma média de 28,8% a.a., em fevereiro de 2016. E isso descontada a taxa de inflação dos últimos 12 meses e já levando em conta o crédito direcionado, como o crédito agrícola, habitacional e para o investimento, cujas taxas de juros são mais baixas.

Tais níveis de taxas de juros são um dos determinantes da aguda retração por que passa a economia brasileira. E pior, elas vêm subindo significativamente. Tomando por base dez/14 a taxa média de juros subiu de 22,3% a.a. para os 28,8% a.a. já mencionados. Com isso, foram afetados aqueles gastos que exigem algum tipo de financiamento, como as decisões de investimento ou as compras de bens de consumo duráveis.

Essa evolução é resultado da combinação de dois fatores. O primeiro deles decorre da própria política de juros do Banco Central, que encareceu o custo de captação dos bancos. Vale lembrar que a taxa básica de juros (Selic) vem numa escalada desde o início de 2013 e apenas entre meados de 2014 e início de 2016 subiu de 11% a.a. para 14,25% a.a.

O segundo fator diz respeito às estratégias bancárias que implicaram na elevação de suas margens. Entre os meses de fevereiro de 2015 e 2016 o spread médio das concessões passou de 16,7 para 20,8 pontos percentuais, em termos nominais, a despeito de um aumento relativamente moderado da inadimplência média (+0,7 p.p. no mesmo período).

Ainda mais preocupante foi a alta das taxas de empréstimo de algumas modalidades importantes. No crédito às famílias chamam atenção os juros do cheque especial que saltaram, em termos nominais, de 214,2% a.a. para 293,9% a.a. entre fev/15 e fev/16. Em seguida, vêm os juros do crédito pessoal não consignado (de 108% a.a. para 122,8% a.a.) e do cartão de crédito (de 78,6% a.a. para 107,8% a.a. no mesmo período).

As principais modalidades de crédito às empresas também ficaram consideravelmente mais caras: as taxas de cheque especial avançaram de 201,2% a.a. para 290,8% a.a. entre fev/15 e fev/16, as da conta garantida, de 43,4% para 51,1% a.a. e as do capital de giro, de 23,2% para 28,8% a.a. no mesmo período.

Mesmo o conjunto dos financiamentos ao investimento concedidos pelo BNDES sofreram elevação de juros, chegando, em termos nominais, a 12,0% a.a. em fevereiro de 2016, contra 8,6% a.a. no mesmo mês do ano passado. Se tomarmos a atual série histórica do Banco Central, iniciada em março de 2011, essas taxas nunca estiveram tão altas como nos dois primeiros meses de 2016. Este é mais um elemento a pesar contra o investimento e à produção de bens de capital.

Fala-se muito de criar condições para que a economia se recupere. Uma delas é certamente que o crédito volte a crescer e que suas condições melhorem. Isso porque, já há algum tempo, além de mais caro, o crédito também tem se tornado cada vez mais raro. Em fevereiro, o acumulado das concessões de crédito nos últimos 12 meses caiu 6,6%, em termos reais, atingindo as famílias (-5,0%) e principalmente as empresas (-8,5%).
 

 
Resultados Gerais. Os dados de crédito, divulgados hoje pelo Banco Central, indicaram que o saldo das operações alcançou R$ 3.184,2 bilhões, que corresponde a uma participação no PIB de 53,6%. As operações de crédito realizadas a partir de recursos livres responderam por 27,0% do PIB e a parcela com recursos direcionados, por 26,6% do PIB.

A carteira de crédito com recursos livres atingiu R$ 1.604,8 bilhões o que representou uma retração de 0,6% frente ao mês anterior, em termos nominais. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a expansão nominal foi de 2,6%. O valor destas operações realizadas junto a pessoas físicas correspondeu a R$ 801,6 bilhões, crescimento nominal de 2,4% frente ao mesmo mês do ano anterior. Já o valor das operações junto a pessoas jurídicas alcançou R$ 803,2 bilhões, aumento de 2,8% frente a fevereiro de 2015.

O estoque de crédito com recursos direcionados atingiu em dezembro R$ 1.579,6 bilhão, o que representou, em termos nominais, leve retração de 0,3% frente ao mês anterior e expansão de 8,2% frente a fevereiro de 2015. O saldo referente a pessoas físicas foi de R$ 714,4 bilhões (aumento nominal de 10,9% sobre o mesmo mês do ano anterior), enquanto que, para pessoas jurídicas, foi de R$ 865,2 bilhões (6,1% maior do que o mês de fevereiro de 2015).

 

 
No mês de fevereiro foram concedidos R$ 260,1 bilhões em novas operações de crédito, frente a R$ 266 bilhões no mesmo mês do ano passado, o que em termos nominais representa uma variação negativa de 2,0%. Deste volume, R$ 238,7 bilhões foram originados de recursos livres (estável frente ao mesmo mês do ano anterior), sendo que 58,1% em operações junto a pessoas físicas e 41,9% para a pessoas jurídicas. Quanto às concessões com recursos direcionados, a variação nominal foi de -20,5% frente a fevereiro de 2015, atingindo R$ 21,3 bilhões. Deste montante, 51,2% foram destinados como crédito às famílias e 48,8% destinados a pessoas jurídicas.

Setores. Do saldo total de crédito do sistema financeiro nacional, a carteira de operações para indústria alcançou R$ 815,1 bilhões, o que representa uma expansão nominal de 3,9% frente a fevereiro de 2015. No caso da indústria de transformação, o aumento do saldo nominal de crédito foi de 1,9% nesta mesma comparação, atingindo o valor de R$ 457,8 bilhões. O setor agropecuário respondeu por R$ 24,7 bilhões do montante, valor 5,1% maior, em termos nominais, do que o registrado em fevereiro de 2015. O saldo do setor de serviços foi de R$ 786,7 bilhões, aumento nominal de 4,4% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Juros e Inadimplência. A taxa média de juros total atingiu 31,8% a.a. em fevereiro. Nas operações originadas a partir de recursos livres, a taxa média foi de 50,6% a.a. (avanço de 10 p.p. em relação a fevereiro de 2015): 68,0% para pessoas físicas e 31,9% para pessoas jurídicas. Já no âmbito das operações de crédito oriundo de recursos direcionados, a taxa média foi de 10,7 % a.a. (aumento de 2,4 p.p.): média de 9,7% para pessoas físicas e 11,8% para pessoas jurídicas.

A inadimplência total de fevereiro manteve-se em 3,5%, um aumento de 0,7 p.p. em relação a fevereiro de 2015. Nas operações feitas com recursos livres, a taxa de inadimplência média registrada foi de 5,5%: 6,2% para pessoas físicas e 4,7% para pessoas jurídicas. Para os contratos feitos com recursos direcionados, a taxa média foi de 1,5% (variação de 0,3 p.p. desde fevereiro de 2015): 2,2% para as famílias e 1,0% para empresas.

 

 

 

 

 

Leia outras edições de Análise IEDI no site do IEDI


Leia no site do IEDI: Para Vencer a Crise - Documento do IEDI que oferece ao debate nacional linhas gerais de um programa destinado a recolocar o País na trilha do desenvolvimento