24 de março de 2016

Emprego
Aumento do desemprego na virada do ano


   

 
Como mostram os dados da Pnad Contínua, divulgados hoje, a situação de piora do emprego continua em processo. A taxa de desocupação do trimestre formado pelos dois últimos meses de 2015 e janeiro de 2016 bateu em 9,5%, resultado de uma impetuosa trajetória de alta. Não nos esqueçamos que um ano antes, no mesmo trimestre, o desemprego era de 6,8%.

Como resultado, 9,6 milhões de pessoas encontravam-se sem emprego na virada do último ano, um adicional de 2,8 milhões de indivíduos em relação ao mesmo período do ano anterior. Nesse movimento, dois fatores foram determinantes. Em primeiro lugar, o aumento do número de pessoas à procura de trabalho (1,8 milhão), como maneira de as famílias enfrentarem a crise econômica, que põe em risco o poder de compra e compromete seu nível de vida.

Em segundo lugar, muitas pessoas também perderam seus empregos (1,0 milhão), especialmente a partir do segundo semestre de 2015. É sobre este aspecto que gostaríamos de nos debruçar, identificando o perfil setorial do desemprego.

Nesse sentido, é inequívoco que a crise do setor industrial é um fator maior na redução do número de pessoas ocupadas. Foram 1,1 milhão de postos fechados entre o trimestre findo em janeiro de 2016 e o mesmo período do ano anterior. Um pouco atrás da indústria, estão os serviços de maior qualificação (informação, comunicação, atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas), cujo fechamento de vagas chegou a 809 mil nesta comparação.

Se olharmos a evolução mais na margem, esses dois setores continuam liderando a perda de empregos. No período de nov/15 a jan/16, frente ao trimestre anterior, findo em out/15, a indústria fechou 520 mil vagas, algo muito superior às 140 mil vagas fechadas um ano antes. O mesmo ocorreu naqueles serviços qualificados: -501 mil contra -120 mil postos um ano antes.

Os serviços públicos também contribuíram bastante para a queda do emprego no último trimestre (-113 mil postos), avançando muito em relação ao resultado de um ano atrás (-36 mil) dessa mesma comparação na margem.

Complementando o quadro de regressões, temos dois setores com quedas menos expressivas, mas que ainda assim merecem comentário. É o caso da agropecuária, que reduziu 76 mil empregos em nov15-jan16 contra ago15-out15 e isso a despeito de um desempenho positivo da atividade deste setor ao longo de 2015.

O outro setor é comércio e reparação de veículos, cuja redução foi de 20 mil postos de trabalho nesta mesma comparação. Contudo, aqui o importante é observar que a simples inversão de sinal da trajetória tem um forte significado, já que o setor foi um dos grandes empregadores nos últimos anos (+342 mil postos em nov14-jan15 contra ago14-out14).

De positivo, apenas construção e serviços domésticos tiveram evolução relevante. O primeiro criou 253 mil vagas, na comparação mais de ponta, sinalizando que talvez a gestão do estoque de imóveis não vendidos tenha avançado. Já no segundo, o aumento foi de 118 mil empregos, que certamente ajudou muitas pessoas de menor qualificação profissional a sair do desemprego.

O que temos visto nessa virada de ano é, então, a perda de empregos em setores de maior qualificação profissional, compensada apenas parcialmente pela criação de vagas em atividades de menor qualificação, a exemplo dos serviços domésticos.

Uma consequência desse movimento tem sido a retração do rendimento médio real de todos os trabalhos habitualmente recebido: -2,4% frente a nov14-jan15, contribuindo para a retração de 3,1% da massa de rendimentos nesta mesma comparação.

Esse quadro de desemprego em alta e rendimento em queda não traz boas notícias tanto para o setor de serviços como para as vendas do comércio varejista e, por consequência, nem para a indústria.
  

 
De acordo com dados da PNAD Contínua divulgados hoje pelo IBGE, a taxa de desocupação atingiu 9,5% no trimestre encerrado em janeiro de 2016, 2,7 p.p. maior que a taxa observada no trimestre entre novembro de 2014 e janeiro de 2015 (6,8%). No trimestre móvel anterior sem sobreposição (agosto a outubro de 2015) a taxa foi de 9,0%.

O rendimento real médio de todos os trabalhos habitualmente recebidos foi de R$ 1.939,00, o que representou uma redução de 2,4% frente ao mesmo trimestre de referência findo em janeiro de 2015. A massa de rendimentos reais de todos os trabalhos habitualmente recebidos por mês alcançou R$ 172,5 bilhões, 2,4% inferior ao registrado no quarto trimestre de 2014.

No trimestre de referência, a população ocupada alcançou 91,7 milhões de pessoas, o que representou redução de 1,1% frente ao mesmo trimestre do ano anterior. Na mesma comparação, o número de desocupados aumentou 42,3% e alcançou 9,6 milhões de pessoas.

 

 
Frente ao mesmo trimestre de 2015, o número de pessoas ocupadas dentre as posições de ocupação apresentou crescimento em duas categorias: trabalhador por conta própria (6,1%) e trabalhador doméstico (3,8%). As demais tiveram retração, com destaque para trabalho auxiliar familiar (-14,3%), trabalho privado sem carteira (-5,9%), trabalho privado com carteira (-3,6%), setor público (-1,9%) e empregador (-1,6%).

Dentre os setores da economia que apresentaram maior aumento da ocupação na comparação com o trimestre compreendido entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, estão serviços domésticos (5,2%), transporte, armazenagem e correios (4,3%), alojamento e alimentação (4,1%), administração pública, defesa e seguridade, educação, saúde humana e serviços sociais (2,1%) e construção (1,2%). Os segmentos de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas e outros serviços permaneceram praticamente estáveis (0,2% e 0,1%, respectivamente). Os grupos que apresentaram maior retração na população ocupada foram indústria (-8,5%), informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (-7,7%) e agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-2,4%).

 

 

 

 

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