A Carta IEDI que será divulgada hoje mostra que em 2015
a indústria brasileira passou por um declínio sem
precedentes em sua história recente. A queda da produção
chegou a 8,3%, o patamar mais baixo de toda a série atual
do IBGE iniciada em 2002. Mais preocupante ainda foi o desempenho
da indústria de transformação, cujo recuo
foi de 9,9%.
Mas se analisarmos
a indústria segundo os diferentes níveis de intensidade
tecnológica os patamares históricos de queda ganham
toda uma outra dimensão, enfatizando a gravidade do quadro
de que, infelizmente, o setor ainda não conseguiu se desvencilhar.
O que vimos em 2015 foram perdas mais agudas quanto maior a intensidade
tecnológica dos setores
Assim, a mais
penalizada no ano foi a produção da indústria
de alta intensidade tecnológica, cuja retração
atingiu 19,8%. Essa categoria, que inclui produtos farmacêuticos,
de informática, eletroeletrônicos e aparelhos médicos
e de precisão, nunca tinha chegado sequer próximo
a esse patamar de queda nos anos 2000.
O ano passado
marcou, então, uma ruptura no comportamento dessa indústria
vis a vis a de transformação como um todo. Desde
2011, quando as dificuldades começaram a se avolumar e
a produção industrial se desacelerar, a alta tecnologia
conseguia se manter menos procíclica, evitando variações
negativas expressivas. Em 2015 tudo mudou.
Todos seus
setores tiveram forte declínio, a começar pelos
produtos de informática que levaram um tombo de 42,7%.
Equipamentos de rádio, TV e comunicações
não ficaram atrás e recuaram 27,3%, seguidos dos
instrumentos médios, óticos e de precisão
(-18,1%) e dos produtos farmacêuticos (-12,2%).
Outra categoria
a apresentar contração recorde em 2015 foi a de
média-alta intensidade tecnológica (-16,0%). Seu
desempenho conseguiu ser pior que o de 2009 (-12,4%), quando liderou
a queda da produção sob influência da crise
global.
Não
é incomum o comportamento mais cíclico dessa categoria,
uma vez que aqui as expectativas sobre o futuro pesam como em
nenhuma outra. Isso porque compreende setores de bens de capital
e atividades muito dependentes das condições de
crédito. Não poderia, então, passar imune
aos acontecimentos que marcaram 2015.
Quem mais
puxou para baixo seu resultado foi o setor automotivo, que caiu
25,7% no ano, bem como máquinas e equipamentos (-14,6%)
inclusive os elétricos (-12,2%), seguindo o colapso do
investimento. O agravante é que a produção
de todos esses setores já tinha caído bastante em
2014.
O desempenho
negativo da indústria química também foi
reincidente e isso a despeito de ser o componente mais estável
da categoria, por produzir bens intermediários demandados
por um conjunto diversificado de setores industriais.
Já
a indústria de média-baixa intensidade tecnológica
apresentou a terceira pior evolução em 2015 (-7,8%),
mas conseguiu evitar, por pouco, uma deterioração
superior àquela de 2009 (-8,8%). Muito disso se deveu a
um declínio menos acentuado em produtos metálicos
(-9,8% contra -16,5%) e, em menor medida, em borracha e produtos
plásticos (-9,1% contra -9,3%).
Entretanto,
em hipótese alguma isso deve ser confundido com uma situação
menos grave para esses setores pela seguinte razão: desde
2012 que a produção de metálicos só
vê variações negativas e no caso de borracha
e plástico desde 2011, ainda que 2013 tenha tido um crescimento
pífio de 0,7%. As quedas são reincidentes e cada
vez maiores nesses setores.
Mesmo os derivados
de petróleo não conseguiram escapar do declínio
em 2015 (-5,9%) e minerais não metálicos tiveram
seu segundo ano consecutivo de queda (-7,8%), em muito influenciados
pela crise da construção.
A categoria
com o menor nível de retração no ano passado
foi a de baixa intensidade tecnológica muito em função
da maior estabilidade conferida pelo peso do setor de alimentos.
Sua trajetória combina, contudo, os dois aspectos muito
desfavoráveis destacados anteriormente para as demais categorias.
Seu resultado
de -5,2% em 2015 também foi o pior desde 2003 e faz parte
de uma série de resultados negativos sucessivos desde 2011.
A única exceção foi 2013 quando patinou em
0,6%. As dinâmicas contrastantes de dois importantes setores
concorreram para esse desempenho da categoria como um todo.
De um lado,
a essencialidade e as vendas externas garantem intervalos mais
estreitos de oscilação da produção
de alimentos, bebidas e tabaco. Ainda assim, sem exceção,
a única direção verificada desde 2012 foi
para baixo, atingindo -3,1% em 2015.
De outro lado,
têxteis, couros e calçados apresentam comportamento
mais volátil e suas perdas são as maiores da categoria.
Sua produção recuou 4,4% em 2014 e mais 10,9% em
2015.
Mais desanimador
do que esses resultados de 2015, em si, é constatar que
o limiar de 2016 não tem trazido novidades positivas, com
indefinições persistindo e mantendo ou ampliando
óbices de monta para o cálculo empresarial. Ainda
que muitos setores venham a apresentar alguma estabilização
de seus ritmos de queda ao longo do presente ano, depois das perdas
recordes sofridas no passado recente, isso em nada será
suficiente para justificar otimismo.