14 de março de 2016

Indústria
A alta tecnologia lidera a retração em 2015


  

 
A Carta IEDI que será divulgada hoje mostra que em 2015 a indústria brasileira passou por um declínio sem precedentes em sua história recente. A queda da produção chegou a 8,3%, o patamar mais baixo de toda a série atual do IBGE iniciada em 2002. Mais preocupante ainda foi o desempenho da indústria de transformação, cujo recuo foi de 9,9%.

Mas se analisarmos a indústria segundo os diferentes níveis de intensidade tecnológica os patamares históricos de queda ganham toda uma outra dimensão, enfatizando a gravidade do quadro de que, infelizmente, o setor ainda não conseguiu se desvencilhar. O que vimos em 2015 foram perdas mais agudas quanto maior a intensidade tecnológica dos setores

Assim, a mais penalizada no ano foi a produção da indústria de alta intensidade tecnológica, cuja retração atingiu 19,8%. Essa categoria, que inclui produtos farmacêuticos, de informática, eletroeletrônicos e aparelhos médicos e de precisão, nunca tinha chegado sequer próximo a esse patamar de queda nos anos 2000.

O ano passado marcou, então, uma ruptura no comportamento dessa indústria vis a vis a de transformação como um todo. Desde 2011, quando as dificuldades começaram a se avolumar e a produção industrial se desacelerar, a alta tecnologia conseguia se manter menos procíclica, evitando variações negativas expressivas. Em 2015 tudo mudou.

Todos seus setores tiveram forte declínio, a começar pelos produtos de informática que levaram um tombo de 42,7%. Equipamentos de rádio, TV e comunicações não ficaram atrás e recuaram 27,3%, seguidos dos instrumentos médios, óticos e de precisão (-18,1%) e dos produtos farmacêuticos (-12,2%).

Outra categoria a apresentar contração recorde em 2015 foi a de média-alta intensidade tecnológica (-16,0%). Seu desempenho conseguiu ser pior que o de 2009 (-12,4%), quando liderou a queda da produção sob influência da crise global.

Não é incomum o comportamento mais cíclico dessa categoria, uma vez que aqui as expectativas sobre o futuro pesam como em nenhuma outra. Isso porque compreende setores de bens de capital e atividades muito dependentes das condições de crédito. Não poderia, então, passar imune aos acontecimentos que marcaram 2015.

Quem mais puxou para baixo seu resultado foi o setor automotivo, que caiu 25,7% no ano, bem como máquinas e equipamentos (-14,6%) inclusive os elétricos (-12,2%), seguindo o colapso do investimento. O agravante é que a produção de todos esses setores já tinha caído bastante em 2014.

O desempenho negativo da indústria química também foi reincidente e isso a despeito de ser o componente mais estável da categoria, por produzir bens intermediários demandados por um conjunto diversificado de setores industriais.

Já a indústria de média-baixa intensidade tecnológica apresentou a terceira pior evolução em 2015 (-7,8%), mas conseguiu evitar, por pouco, uma deterioração superior àquela de 2009 (-8,8%). Muito disso se deveu a um declínio menos acentuado em produtos metálicos (-9,8% contra -16,5%) e, em menor medida, em borracha e produtos plásticos (-9,1% contra -9,3%).

Entretanto, em hipótese alguma isso deve ser confundido com uma situação menos grave para esses setores pela seguinte razão: desde 2012 que a produção de metálicos só vê variações negativas e no caso de borracha e plástico desde 2011, ainda que 2013 tenha tido um crescimento pífio de 0,7%. As quedas são reincidentes e cada vez maiores nesses setores.

Mesmo os derivados de petróleo não conseguiram escapar do declínio em 2015 (-5,9%) e minerais não metálicos tiveram seu segundo ano consecutivo de queda (-7,8%), em muito influenciados pela crise da construção.

A categoria com o menor nível de retração no ano passado foi a de baixa intensidade tecnológica muito em função da maior estabilidade conferida pelo peso do setor de alimentos. Sua trajetória combina, contudo, os dois aspectos muito desfavoráveis destacados anteriormente para as demais categorias.

Seu resultado de -5,2% em 2015 também foi o pior desde 2003 e faz parte de uma série de resultados negativos sucessivos desde 2011. A única exceção foi 2013 quando patinou em 0,6%. As dinâmicas contrastantes de dois importantes setores concorreram para esse desempenho da categoria como um todo.

De um lado, a essencialidade e as vendas externas garantem intervalos mais estreitos de oscilação da produção de alimentos, bebidas e tabaco. Ainda assim, sem exceção, a única direção verificada desde 2012 foi para baixo, atingindo -3,1% em 2015.

De outro lado, têxteis, couros e calçados apresentam comportamento mais volátil e suas perdas são as maiores da categoria. Sua produção recuou 4,4% em 2014 e mais 10,9% em 2015.

Mais desanimador do que esses resultados de 2015, em si, é constatar que o limiar de 2016 não tem trazido novidades positivas, com indefinições persistindo e mantendo ou ampliando óbices de monta para o cálculo empresarial. Ainda que muitos setores venham a apresentar alguma estabilização de seus ritmos de queda ao longo do presente ano, depois das perdas recordes sofridas no passado recente, isso em nada será suficiente para justificar otimismo.
   

  

 

 

 

 

 

 

 

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