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O ano de 2015 foi permeado de diversos fatores com desdobramentos
importantes sobre a economia, tais como a piora das expectativas
e da rentabilidade empresarial, a brusca recomposição
de preços administrados e a desvalorização
da taxa de câmbio, que contribuíram para a elevação
da inflação e redução do poder de
compra das famílias, elevação dos juros,
crise política e fragilização do governo,
ajuste fiscal e corte de investimentos públicos. Assim,
muito dificilmente a economia deixaria de ter um desfecho diferente
do que teve. A contração do PIB foi de 3,8% em 2015.
Como a crise
de confiança condensa e resume todos esses fatores, naturalmente
são as variáveis que mais se nutrem dela que sofrem
mais, como, por exemplo, o investimento que, além disso,
também esteve sob a influência da elevação
das taxas de juros.
No caso do
consumo, esse foi reagindo à redução do emprego
e do rendimento real das pessoas, além do endurecimento
das condições do crédito, que se tornou mais
raro e mais caro em 2015. O setor externo, por sua vez, passou
por um ajuste clássico, muito embora esse tenha resultado
mais das importações do que das exportações.
Como esses
fatores ainda não mostram sinais de reversão, o
quadro para a economia em 2016 também não poderia
deixar de ser desfavorável.
O texto a
seguir analisa os resultados gerais de 2015, mas também
procura assinalar mudanças que por ventura já estejam
acontecendo, para melhor ou para pior, e que poderão afetar
o desempenho de 2016.
A decomposição
do PIB em demanda interna, isto é a produção
com vistas ao mercado interno, e demanda externa, que representa
a contribuição líquida do resto do mundo
ao crescimento nacional, indica que o cenário poderia ser
muito pior não fosse o comércio exterior. Em 2015,
a demanda interna contribuiu com -6,5 p.p. para desempenho de
-3,8% do PIB.
Já
a contribuição do setor externo foi positiva em
2,7 p.p.. É preciso notar, contudo, que isso se deveu mais
à forte contração das importações
(-14,3%), decorrente da crise da economia nacional, do que à
expansão das exportações de bens e serviços
(+6,1%). Enquanto os produtos primários foram os maiores
responsáveis pela evolução das exportações,
as importações caíram puxadas pela menor
compra externa de bens industriais, sobretudo, de máquinas
e equipamentos, veículos e equipamentos eletrônicos.
Isso nos remete
ao componente da demanda interna de pior desempenho em 2015, a
saber, o investimento. Sua contração foi de nada
menos que 14,1%. Isso depois de já ter caído 4,5%
em 2014.
Períodos
longos de queda do investimento são preocupantes porque
não apenas comprometem a capacidade futura de produção
como também contribuem para a obsolescência da estrutura
produtiva do país. Como agravante, o declínio da
formação bruta de capital fixo em 2015 foi muito
maior do que em 2014 especialmente em função da
retração de 26,5% do investimento em máquinas
e equipamentos.
Os demais
componentes de demanda também apresentaram variações
negativas. O consumo do governo foi 1,0% menor em 2015, decorrente
das medidas de ajustamento das contas públicas. O consumo
das famílias, por sua vez, caiu 4,0% na esteira do aumento
do desemprego, da inflação e dos juros bem como
da contração do crédito, que corroeram seu
poder de compra ao longo do último ano.
Do lado da
oferta, a contração do PIB teve como líder
a indústria, que passa por uma situação dramática
já há algum tempo. O PIB industrial encolheu 6,2%,
em 2015, mas dois de seus segmentos sofreram mais do que isso.
O produto da indústria de transformação conseguiu
cair 9,7% em 2015, mais do que em 2009 (-9,3%), quando sentiu
os efeitos da crise global. Já o PIB da construção
civil declinou 7,6%.
No setor de
serviços, o comércio (atacadista e varejista) não
teve um desempenho melhor; caiu 8,9%. Outro segmento bastante
afetado pelo baixo nível geral de atividade econômica
foi o de transporte, armazenagem e correios (-6,5%). Com isso,
o PIB de serviços fechou o ano em queda de 2,7%.
Resultado
positivo mesmo foi possível apenas para a indústria
extrativa, cujo produto se expandiu 4,9% no ano, e para o setor
agropecuário, com crescimento de 1,8%. Para os demais,
2015 foi um ano ruim ou péssimo, como vimos acima.
Vejamos as
tendências que podem ser inferidas dos dados recentemente
divulgados. Para isso, lançaremos mão das variações
em relação ao período imediatamente anterior
com ajuste sazonal que, são mais sensíveis às
mudanças de curto prazo capazes de indicar um princípio
de reversão do cenário, a ser verificado posteriormente.
Nesse sentido,
o consumo das famílias parece caminhar para uma situação
menos ruim desde segunda metade de 2015. Continua em contração,
mas a variação de -1,3% no último trimestre
do ano é sensivelmente melhor do que aquelas de 2,1% e
2,2% nos dois primeiros trimestres.
Algo semelhante
pode estar ocorrendo com as exportações que depois
da queda de 2,4% no terceiro trimestre voltou a se aproximar do
terreno positivo no quarto trimestre (-0,4%). Este é um
fator favorável porque pode vir a contribuir para uma melhor
composição do setor externo, em que saldos adicionais
da balança comercial derivem mais de nossas vendas externas.
Onde o quadro
continua complicado é no investimento, cuja trajetória
sugere uma estabilização do ritmo de queda em um
patamar que ainda é preocupante, em torno de 4,5%. Em pior
situação pode estar o consumo do governo que, após
relativa estabilidade nos primeiros trimestres, caiu 2,9% no último.
Em termos
setoriais, boas notícias podem vir da agropecuária,
que reverteu a queda de 3,6% no segundo trimestre em um crescimento
de 2,9% no quarto trimestre, bem como da construção
civil que seguiu o mesmo caminho (de -5,0% para +0,4% no mesmo
período).
Mesmo a indústria
de transformação, a contar por sua evolução
nos últimos trimestres, parece caminhar para uma situação
menos difícil. Apesar o sinal negativo permanecer, regrediu
de uma queda de 4,4% para redução de 2,5% entre
o segundo e o quarto trimestres de 2015. Ainda não há
motivos de comemoração, evidentemente, mas há
aqui uma indicação de luz no fim do túnel
ainda que fraca.
Já
o comércio também revela uma situação
menos ruim no final em comparação com o início
de 2015, mas sua evolução sugere uma estabilização
do nível de queda em torno de 2,5%.
Outros setores
relacionados com o nível geral de atividade econômica
mostram também uma melhora relativa. No caso de eletricidade
e gás, água, esgoto e limpeza urbana, as variações
voltaram a ser positivas nos dois últimos trimestres e
no caso de transporte, armazenagem e correio as quedas têm
sido menores.
Em sentido
oposto estão a indústria extrativa, cujo tombo de
6,6% no último trimestre está associado a eventos
exógenos, e administração, saúde e
educação públicas. A queda de 2,0% destas
atividades pode estar indicando a grau de dificuldades enfrentadas
pelos estados e municípios.
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Resultados Gerais. Segundo dados divulgados pelo IBGE,
o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2015 atingiu os R$1,531
trilhão a preços de mercado. No acumulado de 2015, o valor
do PIB nacional chegou a R$ 5,9 bilhões. O índice trimestral
com ajuste sazonal, assinalou um recuo de 1,4% frente ao trimestre imediatamente
anterior. Frente ao mesmo trimestre de 2014, o PIB brasileiro assinalou
uma queda de 5,9%, a maior queda da série histórica nesta
comparação. No acumulado do ano, por sua vez, o PIB brasileiro
acumulou um decréscimo de 3,8%, comparativamente a relativa estabilidade
assinalada em 2014 (+0,1%).
Ótica
da Oferta. Da ótica da oferta, na comparação
do índice do 4º trimestre com o 3º trimestre de 2015,
o setor Agropecuário foi o único a registrar crescimento
(+2,9%). Os Serviços e a Indústria registraram ambos queda
de 1,4% nesta comparação. Dentre as atividades dos serviços,
apenas as atividades imobiliárias (0,5%) apresentaram resultado
positivo no trimestre. As demais atividades sofreram retração:
comércio (-2,6%), administração, saúde e educação
pública (-2,0%), transporte, armazenagem e correio (-1,7%), outros
serviços (-1,2%), serviços de informação (-0,9%)
e intermediação financeira e seguros (-0,2%). Na indústria,
colaborou para o resultado negativo o setor extrativo mineral (-6,6%)
e a indústria de transformação (-2,5%).
Frente ao mesmo trimestre
de 2014, o resultado de -5,9% foi influenciado pela Indústria (-8,0%)
e Serviços (-4,4%), já que a Agropecuária (0,6%)
obtive variação positiva nesta comparação.
Dentre os subsetores da indústria, a indústria de transformação
apresentou contração de 12,0%, seguida pela construção
(-5,2%) e extrativa mineral (-4,1%). A atividade de eletricidade e gás,
água, esgoto e limpeza urbana, por sua vez, assinalou alta de 1,4%.
No acumulado do ano
de 2015, o recuo deveu-se a Indústria (-6,2%) e Serviços
(-2,7%), enquanto a Agropecuária assinalou alta de 1,8% no ano.
Dentre as atividades dos Serviços, registraram queda: comércio
(-8,9%), transporte, armazenagem e correio (-6,5%), outros serviços
(-2,8%) e serviços de informação (-0,3%). O desempenho
geral da Indústria em 2015 sofreu impacto da contração
de 9,7% da indústria de transformação. As astividades
de construção civil e eletricidade e gás, água,
esgoto e limpeza urbana também registraram recuo (-7,6% e -1,4%,
respectivamente). A indústria extrativa, por sua vez, obteve significativo
crescimento de 4,9%.
Ótica
da Demanda. O desempenho do quarto trimestre do PIB em relação
ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) foi resultado da queda da formação
bruta de capital fixo (-4,9%) e da despesa de consumo das famílias
(-1,3%), assim como da despesa do governo (-2,9%). No setor externo, as
importações (-5,9%) tiveram um recuo mais expressivo que
as exportações (-0,4%) em relação ao terceiro
trimestre de 2015.
Na comparação com mesmo trimestre de 2014, destacou-se negativamente
o resultado da formação bruta de capital fixo, que recuou
18,5%. A despesa das famílias (-6,8%) e do governo (-2,9%) também
registraram queda, mas de menor intensidade. No setor externo, as exportações
de bens e serviços cresceram 12,6%, enquanto as importações
de bens e serviços caíram em 20,1%, levando a um resultado
da balança comercial mais positivo que em 2014.
No acumulado do ano,
destacou-se novamente a formação bruta de capital fixo,
que registrou queda de -14,1%. De acordo com o IBGE esse resultado deveu-se
a queda da produção interna e da importação
de bens de capital, assim como pelo desempenho negativo da construção
civil. O consumo das famílias (-4,0%) e o consumo do governo (-1,0%)
também registraram queda, diferentemente de 2014, quando cresceram
1,3% e 1,2%, respectivamente. No setor externo as exportações
registraram alta de 6,1%, enquanto as importações, impactadas
pela diminuição da atividade econômica e aumento da
taxa de câmbio, recuou 14,3% em 2015.
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