3 de março de 2016

PIB
Balanço e Perspectivas


   

 
O ano de 2015 foi permeado de diversos fatores com desdobramentos importantes sobre a economia, tais como a piora das expectativas e da rentabilidade empresarial, a brusca recomposição de preços administrados e a desvalorização da taxa de câmbio, que contribuíram para a elevação da inflação e redução do poder de compra das famílias, elevação dos juros, crise política e fragilização do governo, ajuste fiscal e corte de investimentos públicos. Assim, muito dificilmente a economia deixaria de ter um desfecho diferente do que teve. A contração do PIB foi de 3,8% em 2015.

Como a crise de confiança condensa e resume todos esses fatores, naturalmente são as variáveis que mais se nutrem dela que sofrem mais, como, por exemplo, o investimento que, além disso, também esteve sob a influência da elevação das taxas de juros.

No caso do consumo, esse foi reagindo à redução do emprego e do rendimento real das pessoas, além do endurecimento das condições do crédito, que se tornou mais raro e mais caro em 2015. O setor externo, por sua vez, passou por um ajuste clássico, muito embora esse tenha resultado mais das importações do que das exportações.

Como esses fatores ainda não mostram sinais de reversão, o quadro para a economia em 2016 também não poderia deixar de ser desfavorável.

O texto a seguir analisa os resultados gerais de 2015, mas também procura assinalar mudanças que por ventura já estejam acontecendo, para melhor ou para pior, e que poderão afetar o desempenho de 2016.

A decomposição do PIB em demanda interna, isto é a produção com vistas ao mercado interno, e demanda externa, que representa a contribuição líquida do resto do mundo ao crescimento nacional, indica que o cenário poderia ser muito pior não fosse o comércio exterior. Em 2015, a demanda interna contribuiu com -6,5 p.p. para desempenho de -3,8% do PIB.

Já a contribuição do setor externo foi positiva em 2,7 p.p.. É preciso notar, contudo, que isso se deveu mais à forte contração das importações (-14,3%), decorrente da crise da economia nacional, do que à expansão das exportações de bens e serviços (+6,1%). Enquanto os produtos primários foram os maiores responsáveis pela evolução das exportações, as importações caíram puxadas pela menor compra externa de bens industriais, sobretudo, de máquinas e equipamentos, veículos e equipamentos eletrônicos.

Isso nos remete ao componente da demanda interna de pior desempenho em 2015, a saber, o investimento. Sua contração foi de nada menos que 14,1%. Isso depois de já ter caído 4,5% em 2014.

Períodos longos de queda do investimento são preocupantes porque não apenas comprometem a capacidade futura de produção como também contribuem para a obsolescência da estrutura produtiva do país. Como agravante, o declínio da formação bruta de capital fixo em 2015 foi muito maior do que em 2014 especialmente em função da retração de 26,5% do investimento em máquinas e equipamentos.

Os demais componentes de demanda também apresentaram variações negativas. O consumo do governo foi 1,0% menor em 2015, decorrente das medidas de ajustamento das contas públicas. O consumo das famílias, por sua vez, caiu 4,0% na esteira do aumento do desemprego, da inflação e dos juros bem como da contração do crédito, que corroeram seu poder de compra ao longo do último ano.

Do lado da oferta, a contração do PIB teve como líder a indústria, que passa por uma situação dramática já há algum tempo. O PIB industrial encolheu 6,2%, em 2015, mas dois de seus segmentos sofreram mais do que isso. O produto da indústria de transformação conseguiu cair 9,7% em 2015, mais do que em 2009 (-9,3%), quando sentiu os efeitos da crise global. Já o PIB da construção civil declinou 7,6%.

No setor de serviços, o comércio (atacadista e varejista) não teve um desempenho melhor; caiu 8,9%. Outro segmento bastante afetado pelo baixo nível geral de atividade econômica foi o de transporte, armazenagem e correios (-6,5%). Com isso, o PIB de serviços fechou o ano em queda de 2,7%.

Resultado positivo mesmo foi possível apenas para a indústria extrativa, cujo produto se expandiu 4,9% no ano, e para o setor agropecuário, com crescimento de 1,8%. Para os demais, 2015 foi um ano ruim ou péssimo, como vimos acima.

Vejamos as tendências que podem ser inferidas dos dados recentemente divulgados. Para isso, lançaremos mão das variações em relação ao período imediatamente anterior com ajuste sazonal que, são mais sensíveis às mudanças de curto prazo capazes de indicar um princípio de reversão do cenário, a ser verificado posteriormente.

Nesse sentido, o consumo das famílias parece caminhar para uma situação menos ruim desde segunda metade de 2015. Continua em contração, mas a variação de -1,3% no último trimestre do ano é sensivelmente melhor do que aquelas de 2,1% e 2,2% nos dois primeiros trimestres.

Algo semelhante pode estar ocorrendo com as exportações que depois da queda de 2,4% no terceiro trimestre voltou a se aproximar do terreno positivo no quarto trimestre (-0,4%). Este é um fator favorável porque pode vir a contribuir para uma melhor composição do setor externo, em que saldos adicionais da balança comercial derivem mais de nossas vendas externas.

Onde o quadro continua complicado é no investimento, cuja trajetória sugere uma estabilização do ritmo de queda em um patamar que ainda é preocupante, em torno de 4,5%. Em pior situação pode estar o consumo do governo que, após relativa estabilidade nos primeiros trimestres, caiu 2,9% no último.

Em termos setoriais, boas notícias podem vir da agropecuária, que reverteu a queda de 3,6% no segundo trimestre em um crescimento de 2,9% no quarto trimestre, bem como da construção civil que seguiu o mesmo caminho (de -5,0% para +0,4% no mesmo período).

Mesmo a indústria de transformação, a contar por sua evolução nos últimos trimestres, parece caminhar para uma situação menos difícil. Apesar o sinal negativo permanecer, regrediu de uma queda de 4,4% para redução de 2,5% entre o segundo e o quarto trimestres de 2015. Ainda não há motivos de comemoração, evidentemente, mas há aqui uma indicação de luz no fim do túnel ainda que fraca.

Já o comércio também revela uma situação menos ruim no final em comparação com o início de 2015, mas sua evolução sugere uma estabilização do nível de queda em torno de 2,5%.

Outros setores relacionados com o nível geral de atividade econômica mostram também uma melhora relativa. No caso de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana, as variações voltaram a ser positivas nos dois últimos trimestres e no caso de transporte, armazenagem e correio as quedas têm sido menores.

Em sentido oposto estão a indústria extrativa, cujo tombo de 6,6% no último trimestre está associado a eventos exógenos, e administração, saúde e educação públicas. A queda de 2,0% destas atividades pode estar indicando a grau de dificuldades enfrentadas pelos estados e municípios.
  

 
Resultados Gerais. Segundo dados divulgados pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2015 atingiu os R$1,531 trilhão a preços de mercado. No acumulado de 2015, o valor do PIB nacional chegou a R$ 5,9 bilhões. O índice trimestral com ajuste sazonal, assinalou um recuo de 1,4% frente ao trimestre imediatamente anterior. Frente ao mesmo trimestre de 2014, o PIB brasileiro assinalou uma queda de 5,9%, a maior queda da série histórica nesta comparação. No acumulado do ano, por sua vez, o PIB brasileiro acumulou um decréscimo de 3,8%, comparativamente a relativa estabilidade assinalada em 2014 (+0,1%).

 

 
Ótica da Oferta. Da ótica da oferta, na comparação do índice do 4º trimestre com o 3º trimestre de 2015, o setor Agropecuário foi o único a registrar crescimento (+2,9%). Os Serviços e a Indústria registraram ambos queda de 1,4% nesta comparação. Dentre as atividades dos serviços, apenas as atividades imobiliárias (0,5%) apresentaram resultado positivo no trimestre. As demais atividades sofreram retração: comércio (-2,6%), administração, saúde e educação pública (-2,0%), transporte, armazenagem e correio (-1,7%), outros serviços (-1,2%), serviços de informação (-0,9%) e intermediação financeira e seguros (-0,2%). Na indústria, colaborou para o resultado negativo o setor extrativo mineral (-6,6%) e a indústria de transformação (-2,5%).

Frente ao mesmo trimestre de 2014, o resultado de -5,9% foi influenciado pela Indústria (-8,0%) e Serviços (-4,4%), já que a Agropecuária (0,6%) obtive variação positiva nesta comparação. Dentre os subsetores da indústria, a indústria de transformação apresentou contração de 12,0%, seguida pela construção (-5,2%) e extrativa mineral (-4,1%). A atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana, por sua vez, assinalou alta de 1,4%.

No acumulado do ano de 2015, o recuo deveu-se a Indústria (-6,2%) e Serviços (-2,7%), enquanto a Agropecuária assinalou alta de 1,8% no ano. Dentre as atividades dos Serviços, registraram queda: comércio (-8,9%), transporte, armazenagem e correio (-6,5%), outros serviços (-2,8%) e serviços de informação (-0,3%). O desempenho geral da Indústria em 2015 sofreu impacto da contração de 9,7% da indústria de transformação. As astividades de construção civil e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana também registraram recuo (-7,6% e -1,4%, respectivamente). A indústria extrativa, por sua vez, obteve significativo crescimento de 4,9%.

Ótica da Demanda. O desempenho do quarto trimestre do PIB em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal) foi resultado da queda da formação bruta de capital fixo (-4,9%) e da despesa de consumo das famílias (-1,3%), assim como da despesa do governo (-2,9%). No setor externo, as importações (-5,9%) tiveram um recuo mais expressivo que as exportações (-0,4%) em relação ao terceiro trimestre de 2015.

Na comparação com mesmo trimestre de 2014, destacou-se negativamente o resultado da formação bruta de capital fixo, que recuou 18,5%. A despesa das famílias (-6,8%) e do governo (-2,9%) também registraram queda, mas de menor intensidade. No setor externo, as exportações de bens e serviços cresceram 12,6%, enquanto as importações de bens e serviços caíram em 20,1%, levando a um resultado da balança comercial mais positivo que em 2014.

No acumulado do ano, destacou-se novamente a formação bruta de capital fixo, que registrou queda de -14,1%. De acordo com o IBGE esse resultado deveu-se a queda da produção interna e da importação de bens de capital, assim como pelo desempenho negativo da construção civil. O consumo das famílias (-4,0%) e o consumo do governo (-1,0%) também registraram queda, diferentemente de 2014, quando cresceram 1,3% e 1,2%, respectivamente. No setor externo as exportações registraram alta de 6,1%, enquanto as importações, impactadas pela diminuição da atividade econômica e aumento da taxa de câmbio, recuou 14,3% em 2015.

 

 

 

 

 

 

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